FMI apela a que o BCE tome mais medidas se inflação continuar baixa

Instituição fez um ultimato aos EUA para ratificarem mudanças que dão mais poder às economias emergentes.

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Draghi já admitiu a hipótese de medidas não convencionais REUTERS/Alex Domanski

O FMI voltou neste sábado a apelar ao Banco Central Europeu (BCE) para que considere mais medidas se a inflação baixa persistir na zona euro. Num comunicado emitido durante os encontros de Primavera do FMI e do Banco Mundial, em Washington, a instituição diz que “o crescimento na zona euro como um todo foi positivo, “mas continua frágil”, e nota que nas economias avançadas a inflação é baixa e deverá permanecer reduzida.

Ainda nesta semana, a directora-geral do FMI, Cristine Lagarde, tinha incitado o Banco Central Europeu a actuar contra a inflação baixa, em declarações que surgiram pouco depois de o presidente do BCE, Mario Draghi, ter admitido a possibilidade de usar medidas “não convencionais” para fomentar a subida dos preços, numa estratégia que poderia incluir a compra de activos nos mercados financeiros, para além das taxas reduzidas de juros que o BCE já tem vindo a praticar.

Em Março, a taxa de inflação na zona euro sofreu um novo recuou, para um valor mínimo em cinco anos, com os preços a subirem apenas 0,5% face a Março do ano passado. Em Fevereiro, a variação anual tinha sido de 0,7%.
O FMI considerou haver uma melhoria dos riscos para a economia global, mas, para além da inflação, mostrou-se preocupado com uma “renovada volatilidade dos mercados”, com os níveis elevados de dívida pública de alguns países e com o desemprego, especialmente entre os jovens.

O fundo lançou também um ultimato aos EUA, para que dêem, até ao final do ano, o aval a um conjunto de reformas, já acordadas em 2010, que visam duplicar os recursos da instituição e dar mais poder a algumas economias emergentes, entre as quais o Brasil, Rússia, Índia e China (BRIC), que passariam a ter uma maior poder de voto dentro da instituição.

No comunicado, os membros do fundo afirmam estar “profundamente desapontados com o contínuo adiar” da implementação das medidas. A declaração diz que, se as reformas não estiverem ratificadas até ao final do ano, o grupo apelará ao FMI para encontrar “opções para os próximos passos”. O mesmo aviso já tinha sido dado nesta sexta-feira pelos representantes dos países do G20.

Os EUA, que têm a maior quota nas votações do conselho de governadores (a cúpula do FMI), têm-se recusado a ratificar as alterações, com os republicanos a argumentarem que o novo modelo traria demasiados custos para os EUA numa altura de aperto orçamental.

Em declarações aos jornalistas na sexta-feira, o ministro brasileiro da Fazenda (o responsável pelas Finanças), Guido Mantega, garantiu que “o fim do ano é o limite final” e que está na altura de avaliar outras possibilidades. “Eu acho que o FMI deveria pensar agora em alternativas. Vamos ficar a vida toda esperando? Não dá”, afirmou, citado pela imprensa brasileira. Mantega sugeriu que o fundo poderia avançar com uma nova revisão das quotas mesmo que a de 2010 não esteja implementada.

No FMI, as quotas – calculadas com base em indicadores da dimensão económica dos países – determinam com que montantes cada membro contribui para o fundo, bem como o poder de voto que tem e o montante máximo que pode receber em caso de eventual ajuda. Com a resolução de Dezembro de 2010, os dez países com mais poder no FMI passam a ser os EUA, Japão, os BRIC (a China fica em terceiro lugar) e ainda a França, Alemanha, Itália e Reino Unido, que são as quatro maiores economias europeias.

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