Aumento de lucros nas cotadas regressa após dois anos de quedas

Empresas continuaram a conter custos e a refrear o investimento em 2013.

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Fusão entre Zon e Optimus teve impactos positivos nas contas da Sonae Daniel Rocha

Os lucros das maiores cotadas não financeiras voltaram a crescer em 2013, depois de dois anos de quedas. O resultado líquido conjunto das empresas que integram o PSI 20, o maior índice bolsista nacional, atingiu 3159,2 milhões de euros no ano passado, uma subida de 14,2% que chegou para superar a fasquia de 2010, quando os ganhos das maiores empresas somaram 2705 milhões de euros (excluindo as mais-valias da PT e da Brisa nesse exercício com as vendas das brasileiras Vivo e CCR) e registaram uma subida de 22,3% face a 2009.

Em 2013, foi a fusão entre a Zon e a Optimus que marcou pela positiva os resultados de duas cotadas: a Sonae e a Sonaecom (que saiu do índice de referência em Fevereiro). A holding liderada por Paulo Azevedo terminou o ano com lucros de 319 milhões de euros, acima dos 33 milhões de 2012, essencialmente devido aos ganhos indirectos (289 milhões) com a fusão, e liderou o crescimento dos resultados líquidos, em termos relativos, das maiores cotadas. Mesmo sem estes ganhos indirectos, a evolução dos lucros directos (antes de interesses minoritários) da Sonae manteve-se positiva, com uma subida de 22% para 175 milhões de euros.

No caso da Sonaecom (dona do PÚBLICO), o lucro subiu 37,7%, para 103,8 milhões de euros. Porém, apesar de a fusão ter tido um impacto positivo de quase 40 milhões de euros nos resultados financeiros, ao nível do resultado operacional bruto (EBITDA), o efeito foi negativo em 500 mil euros, devido “à evolução do resultado líquido da Zon Optimus”. Já a própria Zon Optimus liderou a quebra de lucros no PSI 20 (menos 44,5% para 63 milhões de euros), justificando a descida com os custos não recorrentes do processo, que atingiram 60,9 milhões de euros.

Excluindo os resultados extraordinários da Sonae e da Sonaecom com a fusão (cerca de 330 milhões de euros), os lucros globais das empresas analisadas teriam atingido 2829,2 milhões de euros, o que mesmo assim significaria uma subida de 2,3% face a 2012 (2750 milhões de euros). Isto sem incluir as contas das instituições financeiras que integram o PSI 20. Retirando o impacto da fusão entre a Zon e a Optimus, o maior aumento nos lucros entre as não financeiras teria sido protagonizado pela Mota-Engil (24% para 50,5 milhões de euros).

Já a Galp viu o resultado líquido cair 14%, para 310 milhões de euros, devido ao impacto de 59 milhões relacionado com imparidades referentes a poços secos e não comerciais e à contabilização de custos relacionados com amortizações antecipadas. De entre as 15 cotadas analisadas, a Sonae Indústria (SI) foi a única a apresentar perdas, mantendo-se no vermelho por mais um ano consecutivo, ainda que com um desagravamento de 21% dos prejuízos face a 2013. O resultado líquido negativo de 78 milhões de euros foi atribuído ao aumento dos encargos financeiros, ao registo de impostos diferidos adicionais e à imparidade com o encerramento da fábrica de Knowsley, destruída por um incêndio em 2011.

Vendas e investimento sobem
No conjunto das empresas não financeiras do PSI 20, o volume de negócios cresceu 3,2% para 66.720,1 milhões de euros. O encerramento de unidades em Inglaterra e Espanha e a desvalorização do dólar canadiano e do rand sul-africano explicam a quebra de 7% das vendas da SI, a mais acentuada do PSI 20. Também a PT, cujo resultado líquido cresceu 46% para 331 milhões de euros graças à venda da CTM (Macau), viu o volume de negócios encolher 5,5%, para 2911 milhões de euros, reflectindo a quebra no mercado doméstico e o menor contributo das operações internacionais.

Neste indicador, a Jerónimo Martins (que vai buscar 65% das vendas à Polónia) destacou-se pela positiva com uma subida de 10,7% para 11.829,3 milhões de euros. Em Portugal, onde o volume de negócios aumentou 6%, a melhoria deveu-se à “estratégia de preço do Pingo Doce”, explicou a empresa. Porém, a maior evolução (de 12,1% para 117 milhões) coube à Sonaecom. De acordo com a empresa (que detém o PÚBLICO), “este desempenho foi potenciado por um aumento de 16,4% nas receitas de serviço motivado pela SSI [empresas tecnológicas] e ainda por um aumento de 2,5% nas vendas de equipamento”.

Em termos globais, o investimento das cotadas subiu 2,2% para 5729,2 milhões de euros, excluindo a Cofina e a Semapa, que não divulgaram valores para 2013. Ainda assim, é de realçar que, de entre as empresas analisadas, apenas seis (Sonaecom, Mota-Engil, Sonae, Galp, EDP Renováveis e Jerónimo Martins) aumentaram o investimento. Na primeira, o reforço foi de 36% para 7,9 milhões de euros e deveu-se essencialmente às empresas de SSI, em processo de expansão internacional. A segunda maior subida, da responsabilidade da Mota-Engil (mais 33,9% para 166 milhões), foi especialmente direccionada para a vertente internacional, no valor de 119 milhões.

A Sonae investiu 349 milhões de euros (mais 19,5%), canalizados essencialmente para a abertura de lojas da Sonae MC, e a Jerónimo Martins investiu mais 18%, num total de 540 milhões de euros, 70% dos quais canalizados para a Polónia. No outro extremo estiveram a SI e a Portucel, com recuos do investimento de 45,7% e de 43,9%, respectivamente.

Dívida caiu 3%
Olhando para os custos, o maior aumento em percentagem coube à EDP Renováveis. Segundo a empresa, além do aumento das despesas com pessoal e fornecimentos, os gastos operacionais aumentaram 10% para 451 milhões de euros “devido principalmente à introdução do imposto de 7% sobre as vendas de electricidade em Espanha”, que teve um impacto de 32 milhões de euros.

No lado oposto, a REN foi a empresa com maior descida ao nível dos custos (menos 10,4%, para 110,7 milhões de euros), graças a “um novo esforço de redução”, principalmente nos fornecimentos e serviços externos. No conjunto das 15 empresas, este indicador subiu 5,4%, para 35.683,7 milhões.

No que diz respeito ao nível de endividamento das maiores cotadas verificou-se, no ano passado, uma redução global de 2,9% para 36.349,3 milhões de euros. A maior descida coube à Sonae (menos 32,9%) e explica-se com a “desconsolidação” da Optimus e um aumento do fluxo de caixa ao longo dos últimos 12 meses.

Foi na Galp que o endividamento do PSI 20 mais cresceu em 2013 (uma subida de 28% para 2173 milhões de euros). A empresa liderada por Ferreira de Oliveira tem em curso um ambicioso plano de investimentos nas actividades de exploração e produção de petróleo (prevendo investir entre 1500 a 1700 milhões de euros por ano entre 2014 e 2018), mas garante que, embora o endividamento vá aumentar nos próximos anos, a sua proporção face aos resultados operacionais brutos deverá descer “rapidamente a partir de 2017”, quando a empresa começar a gerar cash flow positivo dos investimentos já em curso no Brasil.

A dívida líquida mais elevada entre as não financeiras do PSI 20 continua a caber à EDP, 17.451 milhões de euros, apesar de uma quebra de 4% face a 2012. com Ana Rute Silva, João Pedro Pereira e Rosa Soares

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