Mais consumo faz Banco de Portugal rever crescimento em alta

Banco central antecipa um crescimento mais baseado no consumo privado do que o Governo e a troika.

Foto
O advogado do BdP, Luís Bigotte Chorão, referiu a "estratégia de ocultação" seguida pelos responsáveis da instituição

O Banco de Portugal reviu esta quarta-feira em alta as suas previsões de crescimento para este ano, alinhando-as com as apresentadas pelo Governo e pela troika. A principal diferença é que o banco central está antecipar um crescimento mais baseado no consumo privado e menos na procura externa líquida.

De acordo com as novas projecções para a economia publicadas pela entidade liderada por Carlos Costa, Portugal irá registar este ano um crescimento de 1,2%. Este número é comparável com os 0,8% que tinham sido previstos no boletim de Inverno do banco central e é idêntico à estimativa do Governo e da troika que saiu da 11.ª avaliação ao programa português.

Para 2015, o Banco de Portugal prevê agora um crescimento de 1,4%, contra os 1,3% anteriores e os 1,5% previstos pelo Governo e a troika. O banco apresenta pela primeira vez uma projecção para 2016, com um crescimento de 1,7%. Tanto para 2015 como para 2016, não foram consideradas eventuais medidas de austeridade que venham a ser aplicadas pelo Governo.

Aceleração do consumo
O Banco de Portugal diz que "ao longo do horizonte de projecção a recuperação da actividade económica deverá ser suportada por uma aceleração da procura interna privada e pela manutenção de um crescimento robusto das exportações", dois fenómenos que se começaram logo a fazer sentir na segunda metade do ano passado.

Olhando para a evolução das componentes do PIB, a diferença mais marcada em relação às previsões anteriores do Banco de Portugal é a passagem da variação do consumo privado em 2014 de 0,3% para 1,3%. Esta aceleração do consumo já se verificou, como mostraram os números publicados pelo INE, na segunda metade do ano passado. No entanto, o Governo e a troika apontam para um crescimento deste indicador este ano de apenas 0,7%.

Pelo contrário, apesar de prever uma recuperação, o Banco de Portugal antecipa um crescimento do investimento mais baixo do que projectado pelo Governo e passou a esperar um aumento das importações de 5,4%, contra os 3,9% anteriores e os 4% previstos pelo Governo. As exportações mantêm taxas de crescimento acima dos 5% entre 2014 e 2016.

O resultado é que o crescimento de 1,2% do PIB em 2014 é explicado pelo contributo de 1,2 pontos da procura interna e de zero da procura externa líquida (exportações menos importações). Este resultado poderá colocar dúvidas em relação à sustentabilidade da retoma, até porque do lado do Governo e da troika se está à espera de um contributo em partes iguais entre procura interna e procura externa líquida.

O Banco de Portugal, contudo, defende que "algumas características da actual fase da economia portuguesa – capacidade líquida de financiamento externo, consolidação orçamental em curso, transferência do sector não transaccionável para o sector transaccionáve l– constituem elementos favoráveis a um processo de crescimento sustentável".

Sugerir correcção
Comentar