Pistas para compreender o crescimento da economia

Da recuperação do consumo privado ao impulso dado pelas exportações do turismo.

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A associação do sector diz que há produtos importados, que podiam ser produzidos internamente

Consumo: mais optimismo e ajuda do Constitucional Como já vinha sendo claro, a economia portuguesa só conseguiu voltar a taxas de crescimento positivas quando o consumo privado também voltou a crescer. Foi o que aconteceu, no quarto trimestre: o consumo privado cresceu 0,7% face ao mesmo período do ano passado, quando no terceiro trimestre se tinha registado uma quebra de 0,9%. Há apenas um ano, este indicador estava com uma queda a pique de 5,1%.

Este resultado positivo (o primeiro em três anos) acontece em simultâneo com a data em que funcionários públicos e pensionistas receberam o subsídio de férias e o 13º mês que não tinham recebido em 2012 (o subsídio de Natal foi pago ao longo do ano em duodécimos). Isto pode explicar em parte o regresso do consumo a taxas de crescimento positivas. No entanto, até porque desta vez os portugueses estiveram sujeitos a um agravamento do IRS face a 2012, o aumento do rendimento disponível não é o único motivo para a subida do consumo.

Os indicadores de confiança dos consumidores têm vindo a registar subidas muito significativas nos últimos meses e as taxas de poupança começaram a diminuir logo a partir do segundo trimestre de 2013. Na prática, os portugueses começaram, aos poucos e depois de um longo período de forte contenção, a recuperar os seus níveis de consumo, que ainda assim estão mais de 10% abaixo do que eram há três anos atrás. E estão a fazê-lo especialmente nos bens de consumo duradouro, como automóveis ou electrodomésticos. Este tipo de bens é o mais sensível às variações do estado de espírito dos consumidores. No auge da crise caíram a pique, agora são os que registam uma recuperação mais rápida, com a taxa de crescimento homóloga a passar de 3,9% para 11,8% no quarto trimestre. 

Consumo público: efeito contabilístico ajuda

Tal como o consumo privado, também o consumo da Administração Pública voltou a crescer e a contribuir para o crescimento da economia. Neste caso, esclarece o INE, há um efeito contabilístico que ajuda a explicar a evolução: a passagem das 35 para as 40 horas de trabalho semanais faz com que, em termos reais, o Estado acabe por consumir mais em termos de mão-de-obra, embora efectivamente esteja a pagar aos seus funcionários o mesmo.

Investimento: ainda a cair mas a recuperar

O investimento ainda se manteve com uma variação homóloga negativa durante o último trimestre do ano passado, acentuando o declínio acentuado que este indicador tem registado desde o início da crise. O investimento é agora cerca de 25% mais baixo do que era há três anos atrás antes da chegada da troika. Ainda assim, tem-se vindo a verificar uma redução do ritmo da queda e tal foi particularmente notório no quarto trimestre. O investimento caiu 1,8% em termos homólogos quando no quarto trimestre tinha diminuído 4,4%.

Algumas componentes importantes para aquilo a que se chama investimento produtivo registaram subidas. É o caso do investimento em máquinas e equipamentos (exceptuando  transportes), que  cresceu 9,7%, contra 6,1% no trimestre anterior. Num comunicado enviado esta terça-feira às redacções, o secretário de Estado dos Assuntos Fiscais, Paulo Núncio,  defendeu que o Crédito Fiscal Extraordinário ao Investimento (CFEI) lançado pelo Governo na segunda metade do ano passado “desempenhou um papel chave para a inversão da trajectória de queda do investimento”. Contudo, ainda não são conhecidos os dados de adesão a esta vantagem fiscal por parte dos investidores. 

Exportações: impulso veio dos serviços

As exportações aceleraram nos últimos três meses do ano passado muito “por culpa” das vendas de serviços, que cresceram 12,2%, o ritmo mais elevado desde 2007. O turismo é a componente mais importante das exportações de serviços. As exportações de bens mantiveram um ritmo semelhante ao já registado no segundo e terceiro trimestre do ano.

Foi precisamente a partir de Abril que a Galp colocou em velocidade de cruzeiro uma nova unidade de refinação, que conduziu a um acréscimo muito forte das vendas da empresa para o estrangeiro e que terá, de acordo com o INE, sido responsável por uma parte significativa do crescimento das exportações. Já as importações, estabilizaram igualmente a sua taxa de crescimento homólogo na casa dos 5%. A recuperação do consumo (principalmente de bens duradouros) e do investimento pode pressionar em alta este indicador e voltar a ameaçar o equilíbrio externo do país.

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