Agricultores duvidam de eficácia de incentivos à poupança de água

Governo anunciou que irá premiar quem fizer um uso eficiente da água na sua exploração.

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A ministra defende a antecipação do pagamento de ajudas comunitárias, previstas para o final do ano Pedro Cunha

As organizações de agricultores consideram que as medidas de incentivo à poupança de água que a ministra da Agricultura quer incluir no próximo Programa de Desenvolvimento Rural são difíceis de concretizar e acusam Assunção Cristas de “demagogia” e “propaganda”.

A Confederação dos Agricultores de Portugal (CAP) e a Confederação Nacional da Agricultura (CNA) foram apanhadas de surpresa pelo anúncio do Governo, que pretende dar “majorações a quem tem e faz boas práticas de gestão da água”, e têm dúvidas sobre as suas vantagens.

“Não tenho conhecimento da medida e parece-me que é de difícil execução”, declarou o presidente da CAP, João Machado, observando que a ministra tem anunciado “demasiados incentivos” para fundos que são limitados.

“Cada vez que falamos de majorações significa que vai haver menos projectos a poderem candidatar-se. A minha preocupação é que se esteja a fazer um Programa de Desenvolvimento Rural (PDR) de excepções”, disse o dirigente da CAP à Lusa.

João Machado sublinhou ainda que se trata de uma área onde os agricultores “já têm um grande incentivo para o uso eficiente, porque a água é cara e tem de se pagar” e acusou a ministra de fazer “demagogia política à volta do novo quadro de fundos comunitários à custa dos agricultores”.

Já o dirigente da CNA, João Dinis, lamentou que as medidas de apoio à pequena agricultura familiar tenham sistematicamente ficado de fora após terem sido sugeridas nas reuniões onde foram debatidas as prioridades do novo Programa de Desenvolvimento Rural (PDR).

Quanto ao incentivo ao uso eficiente da água, sendo “teoricamente um objectivo com o qual toda a gente está de acordo”, João Dinis teme que seja mais uma medida “de pura propaganda” ou destinada a promover o “agronegócio”.

“É de recear que atrás desse objectivo venham mais majorações para a agricultura de tipo intensivo, para a eucaliptização do regadio, a vinha intensiva e o olival intensivo das grandes empresas”, criticou, acrescentando que estas empresas vão “gastar mais água com ajudas públicas por trás”.

São medidas que visam dar majorações a quem tem e faz boas práticas de gestão da água, porque temos consciência de que o regadio é extraordinariamente importante, e deve ser feito de uma forma sustentada e amiga do ambiente", disse aos jornalistas Assunção Cristas à margem da visita que efectuou à exposição sobre a Dieta Mediterrânica, em Tavira.

De acordo com Assunção Cristas, a medida, de que o PÚBLICO já dava conta neste domingo, será submetida a aprovação da Comissão Europeia e "é uma das medidas relevantes do próximo Programa de Desenvolvimento Rural, juntamente com outra que visa a protecção de culturas tradicionais".

"Gastando aquilo que é estritamente necessário faz parte também da nossa estratégia de adaptação às alterações climáticas", sublinhou a governante, acrescentando que o programa "deverá ser enviado formalmente à Comissão Europeia ainda durante este mês".

Segundo a ministra, a gestão da água "é importante porque os produtos hortícolas, frutícolas precisam de água, sobretudo numa altura em que o clima se torna cada vez mais seco, e é preciso utilizar a água de uma forma muito eficiente muito cuidada".

Assunção Cristas afirmou que Portugal "tem feito um trabalho notável do ponto de vista de diminuição do desperdício de água porque hoje as técnicas de irrigação são muito mais sofisticadas e permitem regar mais hectares com menos água".

"O objectivo é, precisamente, ajudar a que essas boas práticas sejam cada vez mais generalizadas e possam ser um caminho de uso muito sustentável", concluiu.

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