Governo e oposição sírios dispostos a um primeiro frente-a-frente neste sábado

Oposição só aceitava reunir-se com os representantes de Damasco depois de estes aceitarem declaração que prevê formação de um governo interino. MNE sírio chegou a ameaçar abandonar negociações.

Foto
Walid al-Moualem acusa a oposição de "falta de seriedade" AFP

O Governo sírio e a oposição vão encontrar-se pela primeira vez frente a frente no sábado de manhã, anunciou o mediador da ONU e da Liga Árabe nas negociações de paz que decorrem em Genebra, na Suíça, Lakhdar Brahimi.

O encontro acontecerá às nove da manhã e a conversa será centrada na declaração de Genebra de 2012 que prespectiva a criação de um governo interino na Síria, país em guerra civil há três anos.

A oposição e os representantes do Presidente Bashar al-Assad participam na conferência de paz Genebra II, que apesar do nome tem lugar, desde quarta-feira, na cidade de Montreaux. Os enviados de ambas as partes já estiveram na mesma sala, durante a abertura da conferência em Montreaux, em que falou o secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon. Mas as negociações têm decorrido com mediadores a “viajar” entre uma sala e outra, para levarem os recados de uma das partes à outra. “Agora concordaram reunir-se amanhã [sábado] na mesma sala”, disse Brahimi numa conferência de imprensa nesta sexta-feira. E adiantou: “As discussões que tive com as duas partes foram encorajadoras.”

A iniciativa diplomática começou mal na quarta-feira, com uma acesa troca de acusações, e azedou um pouco mais com a chegada das delegações a Genebra, onde o calendário diz que Governo e oposição negociarão directamente durante a próxima semana.

A Coligação Nacional Síria (CNS), o único grupo da oposição presente em Genebra, fez saber que só aceitaria negociar cara a cara quando os representantes do regime reconhecerem, por escrito, a declaração de Genebra. Adoptada no final da reunião internacional em Junho de 2012, a declaração definiu os princípios para uma solução política para a guerra na Síria, prevendo a formação de um governo transitório constituído por “consenso mútuo” — para a oposição e os países que a apoiam isso implica o afastamento de Bashar al-Assad, uma interpretação que Damasco, tal como a Rússia, rejeitam.

A delegação do Governo rejeitou a exigência e, pouco depois de se reunir pela primeira vez com Brahimi, o ministro dos Negócios Estrangeiros sírio foi citado pela televisão estatal a avisar que abandonaria Genebra “se até sábado não houver sessões de trabalho sérias”. Walid al-Moualem, que em Montreux apelidou de “traidores” os representantes da oposição, acusou-os de “falta de seriedade e de não estarem preparados” para discutir.

O impasse foi, porém, quebrado e o processo negocial prossegue pelo menos até amanhã.

A ONU queria por esta altura ter já as duas partes a discutir medidas concretas para aliviar a situação de catástrofe humanitária em que vivem milhões de sírios, incluindo a declaração de tréguas localizadas para permitir o envio de mantimentos e medicamentos aos que se encontram há meses cercados pelos combates.
 

Sugerir correcção
Comentar