Rohani diz que "melhor solução" para a Síria é realizar eleições livres e democráticas

Presidente iraniano foi a Davos garantir que melhorar relações com os países vizinhos e lançar as bases de uma "cooperação construtiva" com o Ocidente.

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Rohani atribuiu a catástrofe na Síria a "assassinos cruéis estão a inundar" o paísia Denis Balibouse/Reuters

Excluído da conferência internacional sobre a Síria, o Presidente iraniano foi nesta quinta-feira ao Fórum Económico Mundial, em Davos, dizer que "a melhor solução" para o fim da guerra que há três anos devasta o país aliado é a realização de “eleições livres e democráticas”.

O discurso de Rohani na reunião que todos os anos junta a elite mundial dos negócios e da política era aguardada com expectativa – era a primeira intervenção do Presidente iraniano num fórum internacional desde o acordo nuclear de Novembro e a oportunidade para responder aos que bloquearam a participação de Teerão na cimeira de Montreux, na quarta-feira.

Rohani, porém, contornou as polémicas e repetiu que o Irão quer seguir um caminho de “prudência e moderação”, que passa por “aprofundar os laços com os países vizinhos” e lançar as bases de uma “cooperação construtiva” com os países europeus e os Estados Unidos. “Os últimos seis anos ensinaram-nos que nenhum país pode vencer sozinho nem pode encarar o seu domínio como permanente”, afirmou, numa referência ao isolamento a que as sanções e a postura agressiva do seu antecessor, Mahmoud Ahmadinejad, condenaram Teerão.

A abertura diplomática que defende não é, no entanto, para todos. O Presidente iraniano disse querer melhorar as relações com “os Estados litorais do Golfo Pérsico”, mas não mencionou a Arábia Saudita ou o Qatar pelo nome e só os referiu indirectamente, quando denunciou o apoio dado por alguns países ao terrorismo na Síria. Nas perguntas que se seguiram ao discurso, Rohani recusou também qualquer gesto conciliatório com Israel, afirmando por duas vezes que a boa vontade se estende “a todos os países que a República Islâmica do Irão reconhece”.

Foi também já na fase de perguntas que Rohani falou sobre a guerra na Síria, conflito em que o país é um dos actores centrais, fornecendo armas e dinheiro ao regime de Bashar al-Assad e à milícia xiita libanesa do Hezbollah. Do outro lado do xadrez, as monarquias árabes cumprem um papel idêntico no apoio aos rebeldes, mas a fragmentação da oposição torna esse apoio menos bem-sucedido. No último ano sucederam-se combates entre grupo rivais, com os jihadistas a ganhar terreno.

“Assassinos cruéis estão a inundar a Síria e lutar uns contra os outros. O mundo deve unir-se para ajudar a Síria a livrar-se destes assassinos”, afirmou Rohani, descrevendo a situação no país aliado como “uma catástrofe” com “milhões de inocentes mortos, feridos ou forçados a abandonar as suas casas”. O seu plano passaria depois por “convencer a oposição a sentar-se à mesa [com o regime] e organizar eleições livres e justas”. “Nenhuma potência pode decidir pelo povo sírio ou pela Síria enquanto país”, afirmou Rohani, repetindo as teses do regime de Bashar al-Assad.

Não revelou, porém, qual a oposição que Teerão considera aceitável ou se a retirada de elementos estrangeiros deve incluir o Hezbollah, que combate por Assad. E quanto ao afastamento da Síria das negociações de Montreux, disse apenas que “quando, por alguma razão, alguns actores são excluído da comunidade mundial, toda a gente perde”. “É importante que todos os países estejam envolvidos”.

Rohani descreveu ainda o acordo preliminar sobre o nuclear com o Grupo 5 +1 (os membros permanentes do Conselho de Segurança e a Alemanha) como “um grande desenvolvimento” para o Irão e disse que foi posto em prática. Há boas condições para chegar a um entendimento definitivo, garantiu, desde que os parceiros “não sucumbam à pressão vinda de outras partes”. Avisou também que Teerão “não aceitará que sejam criados obstáculos ao seu progresso científico”.

O acordo de Novembro prevê a suspensão das actividades mais sensíveis do programa nuclear iraniano em troca do levantamento de uma pequena parte das sanções internacionais, incluindo algumas restrições ao comércio de derivados petrolíferos. Ansioso por atrair investimento estrangeiro para a debilitada economia iraniana, apesar de o grosso das sanções continuar em vigor, Rohani encontrou-se durante a manhã com representantes de companhias petrolíferas europeias e, no fórum, assegurou que o Irão “está preparado para contribuir para a segurança global energética”.

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