Presidente da Galp Energia propõe nova “Escola de Sagres” para a exploração do petróleo nos PALOP

Manuel Ferreira de Oliveira diz que os recursos nos países lusófonos são uma “oportunidade que temos o dever de não desperdiçar".

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A cerimónio de doutoramento honoris causa bárbara raquel moreira

Na cerimónia de doutoramento honoris causa que a Universidade de Aveiro concedeu esta quarta-feira a Manuel Ferreira de Oliveira e a José Formigli Filho foi possível constatar uma sintonia: quer o presidente executivo da Galp Energia, quer o director de produção do gigante brasileiro Petrobras compararam a exploração das jazidas petrolíferas do pré-sal a mais de sete quilómetros de profundidade à aventura dos descobridores portugueses. Tanto que Ferreira de Oliveira recomenda ao sistema científico nacional que avance com a criação de uma nova Escola de Sagres para a exploração em águas profundas de petróleo e gás no Brasil, em Angola e em Moçambique. Em causa está “uma grande oportunidade para estes três países e uma oportunidade inigualável para Portugal”, disse o CEO da Galp Energia.

A “oportunidade” a que Manuel Ferreira de Oliveira se referia no seu discurso de agradecimento mede-se em números. “Entre 2006 e 2012 terão sido descobertos novos recursos que totalizaram 216 mil milhões de barris de petróleo equivalente” e desse total, precisou, 29% foram-no em Angola, Brasil e Moçambique. Mas, mais importante, entre as novas descobertas “cerca de 48% correspondem a descobertas no offshore profundo”, cabendo aos três países lusófonos mais de metade (52%) das reservas identificadas nestas condições. Só para se explorar as novas jazidas nestes países, projecta o CEO da Galp, serão necessários investimentos na ordem dos 55 mil milhões de euros por ano. E além de dinheiro, precisou Ferreira de Oliveira, vai ser necessária muita investigação científica aplicada.

É aqui que Ferreira de Oliveira coloca o desafio ao sistema científico português. “Portugal dispõe de uma infraestrutura de Investigação e Desenvolvimento qualificada e, neste momento, não utilizada em todo o seu potencial”, recorda. Neste contexto, a exploração de recursos nos países lusófonos é uma “oportunidade que temos o dever de não desperdiçar, contribuindo para que no espaço lusófono se possa formar o capital humano imprescindível” para se poderem aproveitar os recursos energéticos entretanto descobertos, diz Ferreira de Oliveira. “Contamos com apoio do sistema científico e de formação avançada português para, em parceria com instituições congéneres brasileiras, angolanas e moçambicanas, contribuir para o processo transformacional que se vive nestes países”, continua o presidente da Galp Energia.

A ambição desta “segunda Escola de Sagres do século XXI” tem como modelo o Cenpes, um centro de investigação aplicada da Petrobras que tornou possível a exploração das jazidas do pré-sal, a sete mil metros de profundidade. João Coutinho, professor da Universidade de Aveiro, considera que essa exploração realizada a partir de plataformas localizadas a 300 quilómetros do Rio de Janeiro “é hoje possivelmente o maior empreendimento de engenharia do mundo”. Ferreira de Oliveira lembra que há quem compare essa façanha ao envio do primeiro homem à Lua, em 1969, e o outro homenageado da tarde, José Formigli, tratou de explicar numa breve cronologia o que a exploração do pré-sal significa em termos de avanço científico: nos anos 1980, quando começou a sua carreira na Petrobras, já era considerado uma aventura explorar petróleo em “lâminas de água” com mais de 350 metros de profundidade, “onde os mergulhadores já não conseguem chegar”.

Em vésperas do último Natal, foram retirados num dia 371 mil barris de petróleo tendo de ser atravessados aproximadamente dois quilómetros de água do mar, mais dois de rocha, e outros dois de sal. Ou seja, em jazidas que ficam a cerca de sete quilómetros de profundidade.
 
 
 

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