FMI revê em baixa as suas previsões para a economia mundial

Zona euro vai contrair 0,3% este ano. Portugal é um dos países com pior desempenho

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FMI, presidido por Christine Lagarde, apresentou avaliação à sua actuação na zona euro Paul J. Richards/AFP

O Fundo Monetário Internacional (FMI) reviu nesta terça-feira em baixa as previsões que tinha apresentado há três meses para a economia mundial, mas continua a acreditar que, apesar da existência de riscos, uma retoma da actividade é possível ainda no decorrer deste ano.

De acordo com o World Economic Outlook de Primavera divulgado esta terça-feira pelo Fundo, a economia mundial irá crescer este ano a uma taxa de 3,3%, um valor que fica abaixo dos 3,5% estimados em Janeiro quando o FMI apresentou previsões intercalares. Para 2014, a previsão mantém-se inalterada em 4%.

A revisão em baixa atinge praticamente todo o globo. Para a zona euro, o FMI está a projectar agora uma contracção da economia de 0,3% em 2013, contra a quebra de 0,1% estimada em Janeiro. Entre os países mais afectados, estão a França e a Itália, que viram as suas previsões corrigidas em 0,4 pontos percentuais no espaço de apenas três meses.

Nos Estados Unidos, a previsão é, para este ano, de um crescimento de 1,9% (contra os 2,1% anteriormente avançados) e, para 2014, de 3%.

O Japão foi um dos poucos países a verem as suas projecções de crescimento para este ano serem revistas em alta, devido às medidas muito agressivas adoptadas pelo seu banco central nas últimas semanas. Agora, aposta-se em taxas de crescimento de 1,6% e 1,4% em 2013 e 2014, contra as previsões de Janeiro de 1,2% e 0,7%.

Em relação à China, o FMI realizou revisões em baixa, mas manteve o ritmo de crescimento neste e no próximo ano acima da barreira dos 8%.   

Portugal na cauda do euro
Para Portugal, o FMI não tinha apresentado previsões em Janeiro e os números que divulgou agora correspondem, como seria de esperar, às previsões que foram apresentadas pelo Governo e a troika no final da sétima avaliação ao programa de ajustamento português. Assim, em relação à variação do PIB nacional, o Fundo aponta para uma recessão de 2,3% este ano e um crescimento de 0,6% em 2014.

Para este ano, Portugal apenas consegue um resultado melhor que a Grécia (que irá resgistar uma contracção de 4,2%). E em 2014, apesar de se esperar o início da retoma, o desempenho que é esperado para Portugal (crescimento de 0,6%) é o segundo pior, à frente da Itália (0,5%) e a par da Grécia, em toda a zona euro, que por sua vez é a região do globo com o pior desempenho. O FMI apresenta ainda uma estimativa para a taxa de desemprego em Portugal de 18,2% este ano e de 18,5% em 2014.

No relatório, os responsáveis do FMI explicam a revisão em baixa das previsões para a economia mundial com a evolução mais fraca da actividade registada no final do ano passado e nos primeiros meses deste ano. No entanto, continuam a acreditar numa retoma, até porque, dizem, “as autoridades dos países avançados conseguiram anular duas das maiores ameaças a uma recuperação mundial: uma ruptura na zona euro e uma contracção orçamental nos EUA provocada por uma queda no ‘precipício orçamental’”.

No entanto, o Fundo continua a identificar riscos. Os principais são o agravamento dos défices nos EUA e no Japão, enquanto na zona euro se temem, no curto prazo, a incerteza provocada por Chipre e Itália e as “vulnerabilidades da periferia”.

Zona euro centra atenções
A região em relação à qual o FMI apresenta maiores preocupações é mesmo a zona euro. Aqui, o Fundo explica que “as projecções para 2013 foram revistas em baixa porque a fraqueza do crescimento passou da periferia para o centro”.

É assinalado que medidas como o anúncio do BCE de lançamento do programa de compra de obrigações melhoraram o ambiente no sistema financeiro. No entanto, só isso não resolve todos os problemas, é dito. “Taxas de juro da dívida pública mais baixas e uma melhoria da liquidez dos bancos ainda não se traduziram em melhores condições de acesso ao crédito pelo sector privado nem numa actividade económica mais forte. E conseguir esses ganhos pode revelar-se ainda mais difícil dado que as condições financeiras se mantêm muito vulneráveis a mudanças no sentimento dos mercados, como ficou provado pela volatilidade registada a seguir às eleições na Itália e aos acontecimentos em Chipre”, afirma-se no relatório. O Fundo menciona ainda o efeito negativo que uma valorização do euro pode ter na economia.

Ainda assim, as previsões do FMI apontam para que, com o decorrer deste ano, a economia da zona euro se vá fortalecendo, conseguindo um crescimento de 1% durante o quarto trimestre.

Para que isso aconteça, contudo, o Fundo está a contar com a aplicação por parte do Banco Central Europeu de políticas expansionistas que compensem o impacto negativo na economia das restrições orçamentais. A entidade sedeada em Washington repete no relatório o seu apelo para que as reduções de défices na zona euro sejam feitas tendo em atenção o efeito que têm na economia, embora defendendo que uma limitação da dívida pública é importante e, em alguns países pressionados pelos mercados, inevitável.
 
 

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