CGTP: situação na Conforlimpa é "violação dos direitos humanos"

Mais de sete mil trabalhadores estão com os salários em atraso e concentraram-se à porta da empresa.

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Arménio Carlos descreveu a manifestação de sábado como “uma panela de pressão que rebentou” Foto: Nuno Ferreira Santos

O secretário-geral da CGTP-IN considerou nesta segunda-feira, em Vila Franca de Xira, que a situação vivida pelos trabalhadores da Conforlimpa é uma violação dos direitos humanos e um regresso à escravidão.

"Estamos perante situações de regresso à escravidão, agora do século XXI, em que as pessoas trabalham dois, três, quatro meses, todos os dias, nas condições mais duras, e chegam ao fim do mês e não recebem os salários", afirmou Arménio Carlos, numa acção de protesto dos trabalhadores.

Cerca de uma centena de funcionários da Conforlimpa (Tejo) concentraram-se na freguesia de Castanheira do Ribatejo, onde está a sede da empresa, para exigir o pagamento dos salários em atraso.

Os 7230 trabalhadores não receberam o ordenado de Fevereiro e alguns aguardam ainda o pagamento do salário de Janeiro e do subsídio de Natal.

O pedido de insolvência da Conforlimpa (Tejo), com pedido de recuperação do grupo, foi aceite pelo Tribunal de Comércio de Lisboa a 7 de Março, e publicado cinco dias depois em Diário da República. A empresa tem 30 dias para apresentar um plano de viabilização.

"Não podemos aceitar que, 39 anos depois do 25 de Abril, se possa considerar normal aquilo que é imoral, ilegal e inconstitucional, que é as pessoas trabalharem e não receberem o seu salário. Estamos a falar de salários de 300, 350, 400 euros. O país não pode aceitar situações desta natureza", criticou o secretário-geral da CGTP-IN.

Arménio Carlos exige medidas para que situações idênticas à da Conforlimpa, que se "repetem por muitos pontos do país", acabem definitivamente. "Isto é uma violação dos direitos dos trabalhadores mas é, acima de tudo, uma violação dos direitos humanos", acrescentou.

O dirigente sindical sublinhou que "é preciso uma alteração de políticas, que promova o crescimento e o emprego", mas, acima de tudo, "que faça uma outra distribuição da riqueza". O secretário-geral da CGTP-IN voltou a defender que "é preciso melhorar os salários e, em particular, é preciso aumentar o salário mínimo nacional".

Isaura Dantas, 59 anos, viajou num dos dois autocarros vindos do Porto para a concentração de trabalhadores. Empregada da Conforlimpa há uma década e funcionária de limpeza no Hospital de São João, diz que a empresa sempre cumpriu com as suas obrigações mas que, a partir de Dezembro, deixou de pagar alguns salários, o que provocou situações "dramáticas".

"Há muitas colegas que passam fome”, disse Isaura Dantas, acrescentando: “Temos colegas que estão a comer só sopa. Não têm gás nem água. Chegamos ao cúmulo de o hospital ter pedido aos outros funcionários para que trouxessem comestíveis para as pessoas mais carenciadas. É uma pobreza e tristeza total".

Ao seu lado, Carla Henriques, que aguarda o ordenado de Fevereiro. "Vivo com os meus pais, mas eles não têm possibilidades. Estamos a ser ajudados pela minha irmã e pelo meu cunhado, que nos emprestam dinheiro. A minha mãe não tem gás para cozinhar", disse.

Quando os funcionários já se encontravam em frente à sede da Conforlimpa – depois de se manifestarem junto à Estrada Nacional 10 – um representante da empresa dirigiu-se ao portão e entregou um comunicado. A nota reafirma o que havia sido dito pelo administrador de insolvência à Lusa, na sexta-feira: a empresa não pode pagar salários, uma vez que o Tribunal de Vila Franca de Xira mantém o arresto da facturação.

O presidente do grupo empresarial, Armando Cardoso, e mais dez arguidos estão acusados pelo Ministério Público dos crimes de associação criminosa e de fraude fiscal qualificada, que terão lesado o Estado em mais de 42 milhões de euros.
 
 

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