Líderes da UE dramatizam negociações orçamentais

Líderes dos 27 voltam às negociações sobre quadro orçamental de 2014 a 2020. David Cameron impõe condições. Merkel duvida ser possível um acordo para já.

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Cameron à chegada ao Conselho Europeu, em Bruxelas BERTRAND LANGLOIS/AFP
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Hollande avisou que o orçamento não pode desvalorizar as políticas comuns GEORGES GOBET/AFP
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As posições dos líderes ainda estão “muito distantes”, afirmou Merkel GEORGES GOBET/AFP
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Monti defendeu um orçamento “justo” na distribuição das verbas Laurent Dubrule/Reuters

Os líderes europeus começam na tarde desta quinta-feira uma cimeira de alto risco para fixar os montantes do próximo quadro orçamental plurianual da União Europeia (UE) entre 2014 e 2020, uma negociação que promete prolongar-se pela noite fora devido às ameaças de veto formuladas por vários países.

O arranque da cimeira, que se segue a um primeiro impasse num anterior encontro em Novembro, foi retardado mais de duas horas, para as 16h30 de Lisboa, de modo a permitir a Herman van Rompuy, presidente do Conselho Europeu, ultimar uma nova proposta de compromisso destinada a demover as resistências que continuam a ser expressas por vários países.

O novo compromisso deverá operar uma série de cortes adicionais às primeiras propostas de montantes para as políticas comuns, limitando o total das despesas comunitárias a cerca de 950 mil milhões de euros no conjunto dos próximos sete anos. Este valor representa menos 100 mil milhões de euros do que o que fora proposto inicialmente pela Comissão Europeia.

David Cameron, primeiro-ministro britânico, deixou implícita uma ameaça de veto, ao afirmar que quer mais cortes no orçamento. "Em Novembro, os números apresentados eram altos de mais. Têm de descer. E, se não for o caso, não haverá acordo", avisou.

A mesma posição foi assumida pela República Checa, pelas mesmas razões, a par da França e Itália pelas razões opostas: Paris e Roma querem limitar tanto quanto possível o nível dos cortes orçamentais, de modo a preservar os actuais níveis de transferências a seu favor no capítulo das ajudas agrícolas, no primeiro caso, e dos fundos estruturais de apoio às regiões mais desfavorecidas no segundo.

"As propostas actuais (...) são desequilibradas", porque "sete anos depois do anterior orçamento pretende-se reduzir consideravelmente o envelope financeiro da UE", protestou, por seu lado, Elio di Rupo, primeiro-ministro belga. "Não parto com nenhuma imposição, mas também não quero que a Bélgica saia a perder", vincou.

Angela Merkel, chanceler alemã, também dramatizou a situação, ao deixar implícito que as negociações poderão voltar a desembocar num impasse, como em Novembro passado. "Neste momento não podemos dizer se haverá um acordo", afirmou.

Jyrki Katainen, primeiro-ministro da Finlândia, expressou a convicção inversa. "Creio que haverá um acordo", afirmou, considerando que não tem sentido "pensar que com mais tempo as coisas ficarão mais fáceis". No entanto, frisou, para haver um acordo, "toda a gente deverá estar pronta para fazer algumas concessões" e "fazer compromissos".

Jean-Claude Juncker, primeiro-ministro do Luxemburgo, tratou, por sua vez, de desdramatizar as divergências entre os seus pares. "Estou habituado a que haja grandes distâncias antes das reuniões, da mesma forma que estou habituado a que, quando há um acordo, toda a gente explica que ganhou", ironizou.

Antes mesmo do arranque oficial da cimeira, vários líderes mantiveram encontros bilaterais para concertar posições, como foi o caso do Presidente francês, com os primeiros-ministros de Itália e Espanha.

Os contactos entre líderes incluíram igualmente uma reunião dos 15 países do chamado "grupo da coesão", os principais beneficiários das ajudas ao desenvolvimento regional, incluindo Portugal, para tentarem dar uma imagem de unidade na defesa dos seus interesses.
 
 
 

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