Ronnie Biggs, o famoso assaltante do comboio-correio, morreu aos 84 anos

Depois do assalto de 1963, o de maior dimensão naquela altura, conseguiu fugir da prisão no Reino Unido. Esteve 35 anos em vários países, muitos dos quais no Brasil, tendo feito até cirurgias plásticas para ficar irreconhecível. Em 2001 regressou ao seu país, mas foi libertado em 2009, por doença.

Ronnie com o filho em 2011, na última aparição oficial
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Ronnie com o filho em 2011, na última aparição oficial PAUL HACKETT/REUTERS
Ronnie em Março deste ano no funeral de funeral de Bruce Reynolds, o cabecilha do assalto
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Ronnie em Março deste ano no funeral de funeral de Bruce Reynolds, o cabecilha do assalto ANDREW COWIE/AFP
Ronnie no Brasil em 1992 depois do tribunal ter recusado mais um pedido de extradição
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Ronnie no Brasil em 1992 depois do tribunal ter recusado mais um pedido de extradição SERGIO MORAES/REUTERS

Ronnie Biggs, o lendário assaltante do comboio-correio que a partir do seu audacioso acto de 1963 passou por muitas vicissitudes, morreu aos 84 anos.

Biggs estava num lar no Norte de Londres onde tinha tratamento médico, tendo morrido na manhã desta quarta-feira, adianta a BBC. Em actos não-oficiais, foi visto em Março no funeral de Bruce Reynolds, considerado o cabecilha do assalto ao comboio.

Depois de libertado da prisão em 2009 por doença, tinha-se retirado em 2011 da vida pública, após uma última aparição no lançamento da versão actualizada da sua autobiografia – onde já estava incapacitado para falar ou andar, depois de vários acidentes vasculares cerebrais. Mesmo assim, na altura, através de cartazes, deu a sua última entrevista. Disse ter “lamentado sempre” a participação no assalto e admitiu que preferia ter ficado do lado da lei. A quem lhe perguntou o que gostaria de ter feito se tivesse uma segunda oportunidade, respondeu: “Ser polícia.”

O famoso assaltante tinha saído da prisão de Norwich em 2009 por se encontrar gravemente doente. A decisão, na altura, foi tomada um mês depois de Biggs ter visto um pedido para o indultarem recusado, por se entender que nunca se arrependera do que fizera naquele dia 8 de Agosto de 1963, quando, com 14 cúmplices, levara 2,6 milhões de libras (três milhões de euros) do comboio-correio, uma importância-recorde na época. O comboio, que se dirigia de Glasgow para Watford, foi interceptado por um sinal vermelho, depois de as linhas telefónicas na zona terem sido previamente cortadas, para que não fosse dado o alarme.

Condenado a 30 anos de prisão, fugiu em 1965, depois de 19 meses de detenção. Esteve em Paris, seguindo para vários países como Brasil, Austrália e Panamá, onde conseguiu enganar a polícia com papéis falsos e várias operações plásticas. No Brasil conseguiu evitar o pedido de extradição porque teve um filho, Mike, com uma brasileira de quem depois se separou. No entanto, ficou com a guarda de Mike e foi ele que o acompanhou na última entrevista. No Brasil, aproveitou a fama para receber turistas, dar entrevistas, tirar fotografias e até mesmo vender souvenirs.

Mas, mais do que pelo assalto, Biggs ficou conhecido pela fuga: escalou o muro da prisão, saltou de uma altura de seis metros para a cobertura de um camião de mudanças e caiu num colchão, que amorteceu a queda. A partir daí tornou-se no calcanhar de Aquiles da Scotland Yard, pela fuga, facilidade com que andou de país em país e o requinte final das operações plásticas para dificultar a sua identificação. De protagonista de filmes a artista convidado para participar em 1978 como vocalista dos Sex Pistols, vários foram os capítulos que juntou à sua história.

Porém, após 35 anos, arruinado e fisicamente debilitado, regressou ao Reino Unido em 2001 para pedir ajuda médica, mas acabou a ser detido para cumprir o resto de sua pena, permanecendo detido até 2009, altura em que acabou por ser libertado por razões médicas. O facto de se ter entregado voluntariamente também deixou cair por terra a possibilidade de ser a polícia britânica a capturá-lo e a ajustar contas.

A maior parte do dinheiro roubado não chegou a ser recuperada, e a dimensão do maior assalto que a Grã-Bretanha conhecera só viria a ser ultrapassado em 1971, por um roubo ocorrido em Baker Street, na capital.

Filho mais novo de uma família de cinco irmãos, Ronnie Biggs começou a trabalhar como carpinteiro e na construção civil. Foi ainda durante a Segunda Guerra Mundial que juntou vários delitos ao seu currículo, ao ser condenado nove vezes por pilhagens a edifícios destruídos, diz o Guardian, que adianta que mais tarde roubou uma loja, uma farmácia e um carro e que foi nesse período que se cruzou com Bruce Reynolds, o trampolim para o assalto ao comboio-correio.
 

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