Obama foi a Riade tranquilizar receios dos sauditas sobre o seu amigo americano

Os dois velhos aliados andam desavindos porque os sauditas consideram que há falta de empenho de Washington na política do Médio Oriente.

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Obama com o rei Abdullah em Rawdat Khurayim, a cerca de 60km de Riade SAUL LOEB/AFP

Barack Obama passa esta noite no Palácio no deserto de Rawdat Khuraim, do rei Abdullah da Arábia Saudita, na primeira visita ao reino desde 2009. A primeira, na verdade, desde que se iniciaram as revoluções árabes e a guerra na Síria, que baralharam as linhas de força no Médio Oriente. Mas a falta de vontade manifestada pelos Estados Unidos em se envolver na Síria, onde os sauditas apostam tudo em derrubar Bashar Al-Assad, para atingirem o Irão, que suporta o seu regime, e a nova disposição norte-americana para dialogar com Teerão sobre o nuclear deixaram Riade muito insatisfeita com o velho aliado americano.

Na agenda desta visita do Presidente norte-americano à Arábia Saudita estão a segurança no Golfo Pérsico, a guerra na Síria, o Irão, as negociações de paz no Médio Oriente e o Egipto – temas enormes para uma visita breve, de apenas um dia, e quando se têm acumulado muitas insatisfações – a Arábia Saudita ameaçou fazer “uma enorme mudança” nas relações entre os dois países. Face a essa ameaça, Obama arranjou tempo para fazer esta visita.  

A Arábia Saudita pôs todo o seu peso por trás da oposição armada síria sunita, esperando que Washington liderasse uma campanha militar para depor Assad que, sendo alauita (um ramo minoritário do islão xiita), é apoiado pelo regime de Teerão. Mas os EUA estão cansados de se lançarem em guerras no Médio Oriente. A frustração de Riade foi tão grande que se recusou a assumir um lugar provisório no Conselho de Segurança das Nações Unidas.

A Arábia Saudita continua a ter diferendos com os EUA sobre o apoio dado à oposição que combate na Síria – por exemplo, sobre o fornecimento de mísseis superfície-ar, por vezes designados manpads. Washington teme que este armamento caia nas mãos de forças aliadas da Al-Qaeda ou outros grupos extremistas que neste momento combatem na Síria.

Outro grande ponto de discórdia é o Irão. Obama “percebeu tudo mal relativamente ao Irão”, acusou Faisal J. Abbas, um comentador da televisão Al-Arabiya, afirmando que o “novo carinho” do Presidente americano pelos iranianos é “a origem dos problemas” da sua relação com os sauditas, relata o New York Times.

Riade teme que a abertura de negociações dos EUA com o Irão sobre o nuclear, que poderá levar ao levantamento das sanções a Teerão, possa permitir ao regime dos mullahs espalhar mais facilmente a sua influência no Médio Oriente.

Manter o “status quo” no Médio Oriente é uma firme preocupação saudita, que Riade considera ter deixado de ser prioridade dos EUA, depois de ter deixado cair outro aliado de longa data – Hosni Mubarak, o Presidente egípcio deposto em 2011. Actualmente, a Arábia Saudita – e os Emirados Árabes Unidos – tornaram-se os maiores benfeitores do novo regime militar no Egipto, após o golpe que depôs em Julho do ano passado o Presidente da Irmandade Muçulmana Mohamed Morsi. No mês passado, a Arábia Saudita ilegalizou também a Irmandade, considerando-a uma organização terrorista, tal como como aconteceu no Egipto.

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