Rei Abdullah da Arábia Saudita nomeia um novo sucessor

Os Estados Unidos tinham alertado o palácio para o perigo de a classe política saudita estar a envelhecer e a adoecer.

Foto
O príncipe Moqren é o novo herdeiro do trono saudita Faisal Al Nasser/Reuters

Ao decidir nomear, em vida, o seu sucessor, o rei Abdallah da Arábia Saudita assegurou uma transição tranquila no seio da família reinante e numa região cujo contexto é instável.

As regras da sucessão na Arábia Saudita ditam que o trono passa de irmão para irmão entre os filhos do rei Abdel Aziz, fundador do reino. O rei, ao ascender ao trono, nomeia o seu príncipe herdeiro.

Foi, por isso, uma surpresa para muitos que Abdullah, de 90 anos, decidisse, através de um decreto datado de quarta-feira, designar como herdeiro do trono o seu meio-irmão, Moqren, que tem 65 anos e é o mais novo dos 35 filhos de Abdel Aziz. Moqren, que entre 2005 e 2012 dirigiu os serviços secretos, é considerado um homem muito próximo do rei e até o seu confidente.

Na origem desta inédita decisão está a idade e a saúde do que era, até aqui, o príncipe herdeiro, Salmane, que tem 79 anos e graves problemas de saúde. Uma fonte próxima da família real diz que Salmane poderá ter "decidido já não ser um pretendente ao trono".

O decreto real, oficialmente anunciado esta sexta-feira em Riad antes de um encontro entre o rei Abdullah e o Presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, destina-se a evitar problemas futuros. O reino saudita está instável e corre o risco de ser atingido pela vaga de violência que esta a destabilizar os países vizinhos, devido à escalada do islamismo radical. O rei quis "prevenir que o país ficasse exposto a situações desagradáveis" num "contexto instável", explicou o diário saudita Asharq Al-Awsat.

Neste contexto, prossegue em editorial o jornal que exprime o ponto de vista do palácio, tornou-se de extrema importância "resolver rapidamente a questão da sucessão para prevenir incertezas e surpresas".

Uma fonte próxima do palácio disse à AFP que o rei Abdullah quer, também começar a preparar o seu filho mais velho, Mitab, que é ministro da Guarda Nacional, para ascender ao trono, colocando-o em segunda posição na linha da sucessão.

A nomeação de Moqren foi aprovada por mais de três quartos dos 34 membros do Conselho real e foi caucionada pelo príncipe Salmane. O decreto diz que a decisão é "irrevogável".

Porém, a decisão do rei saudita surge num contexto particular da política externa. De acordo com fontes diplomáticas, os Estados Unidos têm passado a mensagem de que a classe política saudita é muito velha e que isso pode tornar-se um problema no país que é o maior produtor e exportador de petróleo do mundo.

Obama, disse uma fonte diplomática americana, iria abordar o tema — "os dirigentes do reino envelhecem e têm problemas de saúde" — com o rei e sublinhar a importância de haver "uma transição pacífica". "Os americanos não gostam de surpresas neste país, que é o primeiro exportador de petróleo, devido ao impacto que isso tem no mercado internacional", acrescentou a fonte.

A mensagem americana não passou despercebida aos analistas sauditas. Abderrahman Al-Rached, num artigo de opinião no Asharq Al-Awsat, concede que a estabilidade do país é do interesse dos EUA, mas diz que "Obama não tem o direito de decidir pelos sauditas".

Sugerir correcção
Comentar