Le Pen diz que França enfrenta guerra contra o fundamentalismo islâmico

Líder da Frente Nacional repudia exclusão do partido da marcha organizada para domingo e acusa socialistas de "sectarismo"

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Le Pen não foi convidada para a "marcha republicana",marcada para domingo PATRICK KOVARIK/AFP

Recebida no Palácio do Eliseu, a líder da Frente Nacional francesa lamentou ser a única a afirmar que o país enfrenta uma “guerra” contra o fundamentalismo islâmico. Marine Le Pen lamentou ainda que o seu partido tenha sido o único a não ser convidado para a manifestação de domingo, acusando os socialistas, no poder, de “sectarismo”.

Le Pen foi uma das últimas dirigentes partidárias a ser recebida pelo Presidente, François Hollande, que desde o ataque de quarta-feira ao semanário satírico Charlie Hebdo tem repetido o apelo à união do país e o pedido para que acção dos dois extremistas não seja usada como justificação para ataques ou discriminações contra a comunidade muçulmana.

Como outros, a líder do partido de extrema-direita quer um reforço do aparelho de segurança, mas ao contrário da maioria foi rápida a apontar culpas, afirmando que o massacre de 12 pessoas tem a sua génese no “islão radical” – designação vaga em que a FN inclui tanto os suspeitos de pertencerem a grupos terroristas como os que defendem uma visão mais estrita da religião.

“Temos de criar condições para responder à guerra declarada pelo fundamentalismo islamista”, afirmou Le Pen à saída do Eliseu, dizendo lamentar que “nem Hollande nem outros responsáveis” tenham pronunciado “esta palavra”. “A primeira coisa que devemos fazer quando vamos travar uma guerra é sermos capazes de saber contra quem nos batemos. Nós batemo-nos contra uma ideologia, a do fundamentalismo islâmico. Não o dizer é já uma prova de fraqueza”, acrescentou.

É por declarações como esta e pela insistência em usar diferentes acontecimentos como munição para a sua retórica contra a imigração e os muçulmanos, que os partidos de esquerda não convidaram Le Pen e a FN para a “marcha republicana” que convocaram para domingo para condenar o ataque e afirmar a unidade do país face ao terrorismo. A decisão foi criticada pela UMP, o partido do ex-Presidente Nicolas Sarkozy, que se associou à iniciativa, e divide o próprio partido socialista. Um pouco antes de receber Le Pen, o próprio Presidente tinha dito que “todos os cidadãos podem ir às manifestações”, mas nenhum convite foi endereçado a Le Pen.

“Não consegui obter do Presidente da República um levantamento claro da proibição para que o nosso movimento, os seus eleitos e os seus representantes, que milhões de franceses esperavam ver nos cortejos, participe em condições dignas e respeitosas”, afirmou a eurodeputada, que já antes tinha dito que não iria à manifestação sem ser convidada. Le Pen disse lamentar que “a unidade nacional que até aqui foi útil tenha sido quebrada pelo sectarismo de alguns, a começar pelo PS”, assegurando que “era perfeitamente sincero o seu desejo de estar presenta nesta manifestação de homenagem” aos 12 mortos, entre eles os fundadores de um jornal que fez dela um dos seus alvos preferidos de sátira.

No final da reunião, Le Pen revelou ter insistido junto de Hollande para a “necessidade absoluta” de suspender os acordos de livre circulação de Schengen – “o controlo das nossas fronteiras é um elemento essencial da luta contra o terrorismo” – e endurecer as leis antiterroristas para “negar a nacionalidade” aos detentores de passaportes que vão combater no estrangeiro e que “regressam para cometer crimes bárbaros como é o caso dos dois assassinos em vias de serem detidos”.

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