Iraque apoia ataques aéreos sírios contra jihadistas na zona de fronteira

Presidência decretou a realização, na próxima terça-feira, de uma sessão do Parlamento para iniciar a formação de novo Governo.

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Combatente jihadista em Mossul, a segunda cidade do Iraque Reuters

Os ataques aéreos parecem ser a única forma de impedir que os militantes do Estado Islâmico do Iraque e Levante (ISIS) alcancem a capital iraquiana, Bagdad – o que explica o “agradecimento” do primeiro-ministro Nouri al-Maliki pela incursão da Força Aérea síria na zona de fronteira, e os apelos à “intensificação” da presença militar dos Estados Unidos e Irão.

Durante uma entrevista com a BBC, as palavras de Maliki em apoio das “manobras” da aviação síria soavam a uma confirmação oficial das notícias que apontavam para o bombardeamento das posições do ISIS no Iraque – e também, segundo disse à CNN um dirigente da província de Anbar, Sabah Karkhout, de alvos civis, como mercados ou estações de combustíveis.

Para desfazer a confusão, o primeiro-ministro iraquiano veio esclarecer que os ataques aéreos aconteceram por iniciativa de Damasco e atingiram alvos do lado sírio da fronteira. “Os jactos sírios atacaram Al-Qaim [um posto fronteiriço] e não entraram no Iraque. Eles conduziram um ataque que nós apoiamos: qualquer acção contra este grupo é positiva para os dois países”, precisou.

As movimentações militares na zona de fronteira demonstram até que ponto os jihadistas, que lutam pela reunião de território sírio e iraquiano num novo califado islâmico, estão a conseguir passar por cima das linhas divisórias e estabelecer corredores de livre circulação entre os dois países para mais de dez mil combatentes rebeldes – a guerra civil na Síria e a insurreição sunita no Iraque não são acontecimentos isolados.

A situação ameaça a estabilidade de toda a região: o Pentágono emitiu um comunicado em que afirmava “não haver razões para duvidar” de informações relativas à realização de missões com drones (aviões não tripulados) do Irão a partir de uma base perto de Bagdad, bem como da disponibilização de armamento e apoio técnico de Teerão ao seu aliado xiita, no caso, o Governo de Maliki.

Apesar dos esforços militares (internacionais) para travar a ofensiva do ISIS, a ofensiva sunita reclamou ontem uma nova conquista: Mansouriyat al-Jabal, uma localidade a uma hora de distância da capital e onde se situam quatro importantes campos de gás natural, explorados por empresas estrangeiras.

A cidade de Kirkuk, centro petrolífero no Norte do país, é controlada pelas forças curdas peshmerga. Esta quinta-feira, o líder do governo regional (semi-autónomo) do Curdistão, visitou aquela cidade que não faz parte da sua província mas é considerada pelos curdos como a capital histórica do seu território.              

Entretanto, a presidência jraquiana emitiu um decreto de convocação do plenário do novo Parlamento, eleito no fim de Abril, que deverá reunir-se pela primeira vez a 1 de Julho. A lei estipula um prazo de 30 dias para a indicação de um novo Presidente e. depois isso, de 15 dias para a constituição de um Governo. Mas no passado, esse calendário institucional foi largamente desrespeitado (em 2010 foi preciso esperar nove meses pelo nascimento do Governo).

Pressionado pela comunidade internacional, pela oposição interna e pelos líderes religiosos xiitas, o primeiro-ministro insiste que, desta feita, os “mecanismos constitucionais” serão cumpridos e o novo Executivo terá todas as condições para combater os terroristas. Resta saber se Nouri al-Malik vai aceitar partilhar o poder com representantes das minorias sunita e curda, ao contrário do que aconteceu até agora.

O primeiro-ministro tem rejeitado todos os apelos à formação de um governo de salvação nacional para ajudar a conter a ofensiva jihadista. Esses apelos representam um “golpe contra a Constituição e uma tentativa para pôr fim à experiência democrática”, declarou numa mensagem televisiva na quarta-feira.

No mesmo dia, o dirigente religioso xiita Moqtada al-Sadr declarou-se contra a presença no Iraque de conselheiros norte-americanos e disse que só aceitaria “ajuda internacional de países que não ocupassem o Iraque”.

Em Bagdad estão já 130 conselheiros militares enviados pelos Estados Unidos para colaborar com o Exército nacional. O Presidente norte-americano, Barack Obama, comprometeu-se com o envio de 300 especialistas para o Iraque.

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