Hollande e Merkel falam em "derradeira tentativa" para evitar guerra na Ucrânia

Mantém-se o silêncio sobre o conteúdo das discussões em Kiev e Moscovo. Chanceler alemã diz ser incerto que a iniciativa diplomática seja bem-sucedida.

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Merkel diz que o “envio de mais armas não vai gerar o progresso de que a Ucrânia precisa” Odd Andersen/AFP

O ambiente não podia estar mais carregado na Europa. Regressado de Moscovo, o Presidente francês, François Hollande, afirmou que a iniciativa de Paris e Berlim para conseguir um acordo de paz para a Ucrânia é “uma das derradeiras tentativas” para evitar uma guerra aberta. Em Munique, a chanceler alemã mostrou igual reserva, dizendo não estar certa que as reuniões dos últimos dois dias sejam capazes de travar a escalada militar.

Até ao momento, nada se conhece sobre o conteúdo da proposta que Merkel e Hollande levaram quinta-feira ao Presidente ucraniano, Petro Poroshenko, e que discutiram no dia seguinte com o seu homólogo russo, Vladimir Putin, numa reunião que se prolongou por cinco horas. Sabe-se apenas que os dois líderes europeus querem ressuscitar o acordo negociado em Setembro em Minsk – que abriu caminho a um cessar-fogo, mas que nunca foi aplicado na íntegra – e que decidiram ir a Moscovo depois de terem recebido, durante a semana, um roteiro de Putin com as suas propostas para o fim do conflito.  

Na manhã deste sábado, Merkel encontra-se, à margem da conferência de segurança de Munique, com Poroshenko e o vice-Presidente norte-americano, Joe Biden. E para domingo está prevista uma conferência telefónica que juntará Merkel e Hollande aos Presidentes russo e ucraniano.

“Não é certo que as negociações sejam bem-sucedidas”, disse a chanceler alemã antes da reunião. “Mas na minha opinião e na opinião do Presidente francês vale claramente a pena tentar. “Devemos isso às pessoas que estão a ser afectadas [pelos combates na Ucrânia]”, acrescentou.

Hollande foi ainda menos contido nas palavras: “Se não conseguirmos um acordo de paz durável, sabemos perfeitamente qual vai ser o cenário. Tem um nome. Chama-se guerra”. O Presidente francês deu a entender que alguns progressos terão sido feitos nas últimas horas, ao explicar que a conferência telefónica servirá para “aproximar mais as posições”, até agora irreconciliáveis, entre Moscovo e Kiev, que acusa a potência vizinha de apoiar, com homens e armas, os separatistas que combatem o seu Exército no Leste da Ucrânia.

A Alemanha e a França “assumiram as suas responsabilidades, agora chegou a vez de todas as outras partes estarem à altura do que esperam delas”, avisou Hollande.

Ainda neste sábado, o secretário de Estado norte-americano, John Kerry, vai encontrar-se em Munique com o ministro dos Negócios Estrangeiros russo, Sergei Lavrov, numa altura em que Washington mantém em cima da mesa a opção de enviar armas para o Exército ucraniano. O Presidente Barack Obama não tomou qualquer decisão, mas está sob pressão da oposição republicana para responder de forma mais musculada a Moscovo.

Questionada sobre esta opção, Merkel disse “compreender” que a questão seja debatida, mas está convencida que o “envio de mais armas não vai gerar o progresso de que a Ucrânia precisa”.

Em sentido contrário, o comandante supremo da NATO, o general norte-americano, Philip Breedlove, defendeu em Munique que os aliados não devem excluir o envio de armas e equipamentos para ajudar a Ucrânia a repelir a nova ofensiva rebelde. “A situação está a agravar-se e temos que responder a esse agravamento”, afirmou o chefe militar, sublinhando que “é importante que sejam usadas todas as ferramentas ao alcance”.  Breedlove garantiu, no entanto, que não está a referir-se ao envio de soldados para a Ucrânia, sublinhando que o governo de Kiev foi muito claro sobre a ajuda que pretende.

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