França e Alemanha ponderam enviar forças de pacificação para a Ucrânia

Continuação dos confrontos no Leste do país preocupa os líderes europeus. Num mês de "cessar-fogo" já morreram 80 pessoas.

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Donetsk continua a ser palco de combates entre separatistas e exército Samil Zhumatov / Reuters

Um mês depois de ter sido decretado um cessar-fogo no Leste da Ucrânia, as capitais europeias voltam a olhar com preocupação para a continuação dos combates na zona de Donetsk. A França e a Alemanha ofereceram-se para monitorizar o cumprimento do acordo, o que poderá passar pelo envio de soldados para o terreno.

A Organização para a Segurança e Cooperação para a Europa (OSCE) anunciou nesta segunda-feira que chegaram ao país dois drones que vão servir para supervisionar o cumprimento do cessar-fogo. Para além de sobrevoarem a frente de combate, as aeronaves vão também inspeccionar a fronteira entre a Ucrânia e a Rússia, explicou o porta-voz da OSCE, Michael Bociurkiw. Durante os confrontos, Kiev, apoiada pela NATO, acusou a Rússia de apoiar os separatistas pró-russos e até de enviar tropas e tanques para o território ucraniano – algo que foi sempre negado por Moscovo.

A França e a Alemanha estão a ponderar o envio de forças de pacificação para o terreno, com o objectivo de se juntarem à missão de 80 observadores civis da OSCE que tem estado na Ucrânia desde Março. O porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros alemão, Martin Schaefer, esclareceu que “antes que os soldados franceses e alemães sejam enviados (...) há algumas questões políticas e legais que têm de ser resolvidas”. A missão terá de ser aprovada pela câmara baixa do Parlamento alemão (Bundestag), diz a Reuters.

Paris confirmou apenas o envio de drones em conjunto com a Alemanha “nos próximos dias”. O ministro da Defesa Jean-Yves Le Drian disse no domingo, durante um programa televisivo, que “alemães e franceses estão em conversações com a OSCE para fazer com que o cessar-fogo seja respeitado”.

Um passo semelhante poderá ser dado pela Bielorrússia, que também poderá avançar para o envio de uma força de pacificação, segundo a agência Interfax. Numa entrevista à Euronews na última sexta-feira, o Presidente bielorrusso, Alexander Lukashenko, mostrou-se aberto a essa possibilidade, “se necessário”. No entanto, avisou para “o perigo” em que estaria a colocar os seus soldados. O envio de uma força bielorrussa seria bem recebido pelos separatistas pró-russos, segundo a Interfax, que cita Andrei Purgin, um dirigente da autoproclamada República Popular de Donetsk.

Outro sinal da preocupação que o incumprimento do cessar-fogo está a causar entre a diplomacia internacional é o envio da responsável para as questões europeias do Departamento de Estado norte-americano, Victoria Nuland, a Kiev nesta segunda-feira. Washington pretende reafirmar “o apoio à integridade territorial” da Ucrânia, segundo o Departamento de Estado.

Em Fevereiro, Nuland foi protagonista de um episódio altamente criticado, em que se tornou pública uma conversa com o embaixador norte-americano em Kiev, durante a qual teceu alguns comentários embaraçosos em relação à União Europeia.

Também o recém-empossado secretário-geral da NATO, Jens Stoltenberg, se mostrou preocupado com o grande número de violações do cessar-fogo no Leste da Ucrânia, durante uma visita à Polónia.

No início de Setembro foi assinado em Minsk (Bielorrússia) um acordo de cessar-fogo entre os líderes das repúblicas separatistas de Donetsk e Lugansk e o Governo ucraniano, que previa, entre outras coisas, a concessão de um estatuto especial de autonomia às duas regiões. Porém, pouco mudou desde então nas imediações do aeroporto de Donetsk – objecto de uma acérrima disputa territorial entre os dois lados.

O aeroporto passou nos últimos dias para o controlo do Exército ucraniano, mas a cidade – a mais importante e populosa da região do Donbass – ainda é território dos rebeldes.

Entre domingo e segunda-feira foi morto um soldado ucraniano e foram feridos treze, de acordo com o porta-voz do exército Andrei Lisenko. Durante o último mês, em que esteve em vigor uma “trégua”, morreram 80 pessoas entre civis e militares, segundo a AFP. Na semana passada, a Amnistia Internacional acusou as duas partes de violarem “a lei humanitária internacional, ao colocarem em perigo civis com ataques indiscriminados”.

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