Os drones nas noites de Paris: brincadeira ou ameaça?

Em três horas foram vistos drones por cinco vezes nos céus da capital francesa. Mais uma vez, a polícia perdeu-lhes o rasto.

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O centro de Paris voltou a ser sobrevoado por drones Gonzalo Fuentes/Reuters

Em alto alerta de segurança, a capital francesa teve na noite de terça para quarta-feira mais um sobressalto – pela segunda noite consecutiva, drones foram vistos nos céus da cidade perto de locais sensíveis, como a embaixada americana.

A polícia francesa relatou que na segunda noite, foram vistos drones cinco vezes entre as 22h e a 1h da manhã (hora local, menos uma hora em Lisboa), perto da Praça da Concórdia, não muito longe da embaixada americana, ao longo do rio Sena, da Torre Eiffel e em algumas das portas de Paris.

As zonas são sensivelmente as mesmas onde os aparelhos telecomandados tinham voado na véspera, da meia-noite às 6h locais. Os primeiros drones foram vistos um dia depois de a França ter anunciado um reforço militar no âmbito da coligação internacional que tem bombardeado várias posições do grupo que se auto-intitula Estado Islâmico no Iraque.

Está aberta uma investigação por “voo de aeronave em zona interdita” — a lei francesa proíbe que se sobrevoem espaços públicos sem autorização e quem o fizer arrisca uma multa que pode chegar aos 75 mil euros e um ano de prisão. “Será um brinquedo ou trata-se de vigilância para uma acção futura? A investigação dirá”, observou um comissário parisiense, citado pela AFP. Não era claro sequer de quantos drones se tratava. A polícia perdeu o rasto aos aparelhos embora tivesse tentado localizá-los.

Os pormenores acerca dos voos são ainda muito reduzidos. Fontes policiais descreveram um dos drones vistos na noite de segunda-feira como uma aeronave com hélice que emitia uma luz vermelha e outro com uma luz azul, segundo o Le Parisien. No site Helicomicro — especializado em drones e pequenas aeronaves — faz-se notar que "os engenhos não estão preparados para voar discretamente".

Em declarações à Europe 1, Laurent Khong, que contribui para o mesmo site, lembra que há "dezenas de vídeos" nocturnos de locais emblemáticos de Paris e considera que a possibilidade de se tratar de uma ameaça terrorista é "reduzida". "Os aparelhos que foram descritos não são capazes de transportar uma carga superior a uma centena de gramas", sublinhou.

Paris está sob medidas de segurança alargadas após os atentados de Janeiro contra o jornal satírico Charlie Hebdo e um supermercado de produtos kosher (que respeitam as regras da religião judaica). No final de Janeiro, o palácio do Eliseu tinha sido sobrevoado por um drone, e também tinham sido registados voos destes aparelhos noutros locais, alguns perto de instalações nucleares.

Um dos casos mais preocupantes aconteceu no final de Janeiro, quando pequenas aeronaves foram detectadas a sobrevoar o local onde estão ancorados quatro submarinos nucleares, em Brest, numa zona que teoricamente é das mais bem vigiadas em Paris. Em Novembro, três pessoas foram detidas para interrogatório depois de terem sido vistas a pilotar um drone nas imediações da central nuclear de Belleville-sur-Loire, no centro do país, revelando-se serem apenas "jovens apaixonados pelo aeromodelismo", de acordo com o Le Parisien. Dos vários episódios deste género, este foi o único em que os manobradores das aeronaves foram identificados, segundo a imprensa francesa.

Forças de segurança e especialistas reconhecem que a novidade deste tipo de fenómenos requer novas formas de abordagem e mais meios de acção. “As forças da ordem andam às apalpadelas”, observou o especialista em segurança aérea Christophe Naudin. "É preciso encontrar, daqui até 2020, uma resposta adequada, antes que pessoas mal intencionadas encontrem uma aplicação criminosa para os drones", acrescentou Naudin em entrevista ao Le Figaro.

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