Destroços do voo MH17 a caminho da Holanda para serem reconstruídos

Operação poderá demorar dez dias, mas não é esperado um relatório final antes do Verão de 2015. Divulgado novo vídeo com imagens dos momentos que se seguiram ao abate do avião.

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Elementos das forças separatistas trabalham sob o olhar das equipas de investigação MENAHEM KAHANA/AFP

Ao fim de quatro meses, as autoridades que investigam o abate do avião da Malaysia Airlines na Ucrânia vão poder analisar os destroços em pormenor, tentando reconstruir uma parte do aparelho na Holanda.

Os trabalhos estão a ser feitos por elementos fiéis à autoproclamada República Popular de Donetsk, sob o olhar de representantes da Autoridade de Segurança da Holanda e de observadores da Organização para a Segurança e Cooperação na Europa. O anúncio de um acordo para a recolha e transporte dos destroços foi feito no dia 6 de Novembro, mas os trabalhos no terreno só começaram na manhã deste domingo.

A entidade holandesa, responsável máxima pelas investigações ao abate do voo MH17, explicou em comunicado que a Holanda é o destino final dos destroços, que numa primeira fase serão levados de comboio para Karkhov, na Ucrânia, para onde foram transportados também os restos mortais da maioria das 298 vítimas, em Julho. A Holanda foi o país mais afectado pelo desastre aéreo – o voo com destino a Kuala Lumpur, na Malásia, partiu de Amesterdão no dia 17 de Julho e levava a bordo 193 cidadãos holandeses.

"No âmbito da investigação, a Autoridade de Segurança da Holanda pretende reconstruir uma parte da aeronave", lê-se num comunicado publicado no site da entidade holandesa.

Os trabalhos deverão demorar pelo menos dez dias, numa corrida contra a acentuada descida das temperaturas na região e o risco de novos combates entre as forças separatistas e as forças pró-governamentais – apesar do cessar-fogo acordado em Setembro, a instabilidade na região é o principal factor para os atrasos na investigação à queda do avião da Malaysia Airlines.

A prioridade dos investigadores é a recolha e transporte dos pedaços da fuselagem de maior dimensão, mas vários segmentos tiveram de ser cortados para caberem em camiões, que seguem depois para a cidade de Torez, a cerca de 20 quilómetros de Grabovo. De Torez, os pedaços do aparelho seguem para Kharkov, uma região controlada pelas forças pró-governamentais, e só depois serão enviados para a Holanda.

"Não sabemos se todos os destroços chegarão à Holanda. A área de buscas é muito extensa. Fizemos uma lista com os segmentos que consideramos mais importantes para a investigação", disse à agência AFP o porta-voz da Autoridade de Segurança da Holanda, Wim van der Weegen.

Mesmo que a operação que começou este domingo venha a ser considerada um sucesso, as autoridades responsáveis pela investigação já fizeram saber que não haverá nenhum relatório antes do Verão de 2015, e ninguém arrisca dizer se a verdade será descoberta algum dia.

Na semana passada, o ministro da Justiça da Austrália, Michael Keenan, reagiu ao anúncio de uma data para a divulgação do relatório com a garantia de que a investigação durará o tempo que for necessário.

"Apesar de os países envolvidos terem concordado em estender os trabalhos da equipa de investigação conjunta até Agosto de 2015, quero deixar claro que a Austrália está determinada a trabalhar o tempo que for preciso para levar os responsáveis perante a justiça", disse o ministro australiano.

Num relatório preliminar publicado no dia 9 de Setembro, as autoridades holandesas excluíram falhas técnicas e erro humano como causas da queda do avião.

"O Boeing 777-200 operado pela Malaysia Airlines partiu-se em pleno voo, provavelmente em resultado de danos estruturais causados por um grande número de projécteis [que o atingiram] a grande velocidade [e] penetraram no avião a partir do exterior", disse a Autoridade de Segurança da Holanda.

A NATO, o Governo ucraniano, os Estados Unidos e vários países europeus têm atribuído a responsabilidade pelo abate do avião aos separatistas pró-russos, que terão usado um sistema de mísseis Buk de fabrico russo. Tanto os separatistas como a Rússia desmentem essa versão e dizem que o avião da Malaysia Airlines terá sido abatido por um caça ucraniano.

Divulgado novo vídeo
Neste domingo foi revelado um vídeo até agora desconhecido do público, que terá sido gravado pouco após a queda do avião da Malaysia Airlines. O vídeo foi entregue à agência Associated Press (AP) pelo autor das imagens, que pediu para não ser identificado.

"A AP obteve em exclusivo um novo vídeo amador gravado imediatamente após a queda do voo MH17 da Malaysia Airlines no Leste da Ucrânia, que matou todas as 298 pessoas a bordo. As imagens, captadas com um telemóvel no dia 17 de Julho, mostram os destroços a arder num descampado na localidade de Grabovo, e enormes colunas de fumo negro", explica a agência, que garante a veracidade do vídeo: "As imagens foram autenticadas por comparação com locais e acontecimentos conhecidos, e são consistentes com informações recolhidas pela AP."

O jornalista norte-americano Christopher Miller, correspondente do site Mashable, reforça que o vídeo é genuíno: "Passei muito tempo no local da queda do MH17 e reconheço a área como sendo Grabovo. Os residentes estão obviamente perturbados; um homem diz que um corpo caiu no telhado da sua casa", escreve Miller na sua conta no TwitterO mesmo repórter descreve "a cena infernal" do vídeo publicado neste domingo e diz que se ouve um homem a comentar que "foi disparado um rocket".

Versões um pouco mais curtas do vídeo divulgado em primeira mão pela Associated Press foram entretanto partilhadas em várias contas no YouTube, entre as quais a do grupo RT e a do jornal russo Komsomolskaia Pravda.

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