Combatentes do Estado Islâmico já serão mais de 30 mil

Segundo estimativas da CIA, a capacidade militar do movimento jihadista triplicou nos últimos três meses. EUA prosseguem contactos para estabelecer uma frente unida de combate ao EI.

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Combatentes xiitas procuram rechaçar os militantes do EI próximo de Tikrit, no Iraque REUTERS/Ahmed Jadallah

O número de combatentes nas fileiras do Estado Islâmico poderá ultrapassar já os 30 mil indivíduos, estima a agência de espionagem norte-americana CIA, que apresentou uma revisão das suas anteriores estimativas da adesão ao movimento islamista na Síria e no Iraque.

O último relatório da CIA sobre o movimento radical sunita – que segundo frisou o Presidente dos EUA, Barack Obama, “não é um Estado mas sim uma organização terrorista” --, produzido em Maio, apontava a mobilização de cerca de 10 mil combatentes. Em cerca de três meses, esse número triplicou: “Segundo a nossa última avaliação, o Estado Islâmico terá à sua disposição entre 20 mil e 31.500 combatentes no Iraque e na Síria”, informou o porta-voz daquela agência, Ryan Trapani.

“Este novo total reflecte um aumento da capacidade de mobilização por causa de uma campanha de recrutamento a partir de Junho, na sequência dos sucessos no campo de batalha e da declaração do califado”, acrescentou o porta-voz da CIA. Nas fileiras do EI na Síria estarão cerca de 15 mil combatentes estrangeiros, dos quais 2000 serão europeus e norte-americanos.

Uma das preocupações expressas pelo Presidente dos EUA, na sua declaração ao país sobre o EI, tinha a ver com a possibilidade de vários desses cidadãos radicalizados na Síria regressarem aos seus países de origem no Ocidente para levar a cabo acções terroristas. Antes de Obama, o primeiro-ministro britânico, David Cameron, tinha chamado a atenção para o risco do jihadismo doméstico – o Governo de Londres aprovou uma série de medidas para dificultar as movimentações desses indivíduos, por exemplo através da retirada do passaporte.

O Estado Islâmico domina uma vasta faixa territorial entre a Síria e o Iraque, e movimenta-se livremente entre os dois países. Desde que iniciou a sua ofensiva no Iraque, o movimento sunita assegurou o controlo de um largo número de localidades no Norte, e de cidades como Mossul, no lado Leste do país, próximo do Curdistão e da fronteira com o Irão.

Os militantes encontraram pouca (ou nenhuma) resistência das forças iraquianas, que perante a ameaça sunita bateram em retirada, deixando para trás armamento que agora está na posse dos jihadistas. No entanto, a progressão do EI para Bagdad parou nos arredores da capital, que foi fortificada pelo Exército nacional, e onde os combates se repetem.

O secretário de Estado norte-americano, John Kerry, prosseguiu a sua ronda de contactos para a formação de uma coligação internacional de combate ao EI esta sexta-feira na Turquia. As negociações com o Governo de Ankara são sensíveis e difíceis: os turcos recusaram-se a ceder as suas bases aéreas no Sul do país para a realização de ataques a alvos militantes na Síria por parte da aviação norte-americana, e ficaram de fora da declaração de apoio à estratégia apresentada por Obama, assinada por dez países árabes e do Golfo na quinta-feira.

Em Bagdad, o Presidente francês, François Hollande, reiterou o seu compromisso com a campanha militar contra o EI no Iraque, confirmando que a França participará “no esforço aéreo” para “atingir as posições dos terroristas” no país. Hollande também se deslocou a Erbil, no Curdistão para distribuir armamento e 60 toneladas de bens humanitários.

Na segunda-feira, o Presidente gaulês recebe em Paris os representantes de vários países para uma conferência internacional sobre o Iraque, cujo objectivo “é coordenar a ajuda, apoio e acção para a unidade do Iraque e a derrota deste grupo terrorista [EI]”, explicou Hollande. A Rússia já confirmou a sua presença, mas o Irão ainda não respondeu ao convite.

EUA avançam com ajuda humantária

Os Estados Unidos vão distribuir 500 milhões de dólares (cerca de 387 milhões de euros) numa grande operação humanitária de auxílio às populações afectadas pela guerra civil da Síria, anunciou o secretário de Estado norte-americano, John Kerry.

Metade do pacote financeiro disponibilizado por Washington destina-se à assistência aos cerca de três milhões de refugiados sírios (números das Nações Unidas) que fugiram à guerra do país e se encontram distribuídos por vários dos Estados vizinhos, nomeadamente o Líbano, a Turquia e a Jordânia.

Mais de 200 mil sírios que escaparam da guerra civil para o Iraque estão novamente em risco por causa da violência do Estado Islâmico, que domina a região da fronteira entre os dois países. As movimentações dos jihadistas deixaram milhares de pessoas perdidas em terra de ninguém, sem abrigo nem segurança, apontou a ONU.

Mas a situação é ainda mais preocupante para as populações deslocadas dentro da Síria: segundo a agência de refugiados das Nações Unidas, desde o arranque da revolta contra o Presidente Bashar al-Assad, em 2011, metade da população viu-se obrigada a abandonar as suas casas. Actualmente, o número de refugiados internos será de cerca de 6,5 milhões de pessoas.

O Observatório Sírio para os Direitos Humanos, uma organização sediada em Londres, denunciou a morte de pelo menos 42 pessoas, entre as quais mulheres e crianças, em novos raides aéreos do regime em Douma, um bastião da oposição a Nordeste da capital, Damasco. O observatório referiu-se ainda a uma acção do Governo contra os militantes do EI na cidade de Alepo, que resultou na morte de 11 civis atingidos num mercado.

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