Maioria dos norte-americanos apoia ataques aéreos na Síria

Sondagem confirma a imagem de falta de firmeza na Casa Branca. Vídeos que mostram a decapitação de dois jornalistas foram cruciais para a mudança de opinião.

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Apenas 43% vêem Barack Obama como um líder forte Kevin Lamarque/Reuters

O apoio entre a população dos Estados Unidos a ataques aéreos na Síria mais do que duplicou em relação ao ano passado, quando a Casa Branca chegou a admitir essa hipótese para punir o uso de armas químicas pelo regime de Bashar al-Assad.

A mais recente sondagem do jornal The Washington Post e do canal ABC News mostra que uma esmagadora maioria de 91% dos inquiridos considera que os jihadistas do Estado Islâmico (EI) representam uma "séria ameaça" aos "interesses vitais dos Estados Unidos".

Para combater essa ameaça, 65% dos inquiridos defendem agora que o Presidente Barack Obama deve ordenar ataques aéreos na Síria. Em Setembro do ano passado, esse apoio público não ia além dos 30%.

A mudança radical na opinião pública norte-americana coincidiu com a divulgação dos vídeos que mostram a decapitação dos jornalistas norte-americanos James Foley e Steven Sotloff às mãos de um jihadista do EI.

Apesar de não haver um termo de comparação recente sobre o apoio a ataques aéreos na Síria, a ligação entre o assassínio dos jornalistas norte-americanos e a mudança de atitude nos EUA é evidente quando se analisam os números do apoio a ataques aéreos no Iraque, onde o EI também controla uma parte do território.

Há apenas três semanas – antes da notícia da morte de James Foley, divulgada a 19 de Agosto –, o apoio público a ataques aéreos norte-americanos no Iraque era de 54% e antes disso, em Junho, não ia além dos 45%. Hoje em dia, 71% dos norte-americanos apoiam os bombardeamentos ordenados pelo Presidente Barack Obama no início do mês passado.

A sondagem mostra também um crescente descontentamento com a forma como a Administração Obama tem orientado a sua política externa e castiga ainda mais a já frágil popularidade do Presidente norte-americano.

Entre os 1001 adultos consultados de quinta-feira a domingo da semana passada, apenas 43% olham para Barack Obama e vêem nele um líder forte, um dos valores mais baixos desde que chegou à Casa Branca, em Janeiro de 2009.

Como é natural, a insatisfação com Obama é maior entre os eleitores do Partido Republicano, mas a sondagem penaliza também o comportamento dos republicanos no Congresso, o que indica uma insatisfação geral com a forma como ambos os partidos têm conduzido a política do país – tanto dentro de portas como externamente.

O índice de reprovação do trabalho dos republicanos no Congresso (na Câmara dos Representantes, onde têm a maioria, e no Senado, dominado pelo Partido Democrata) é de 72% – 75% entre os democratas, 76% entre os independentes e uns significativos 61% entre os próprios republicanos.

Falta de estratégia ou ponderação?
A Casa Branca tem enfrentado uma pressão cada vez maior para assumir uma postura mais agressiva na Síria, depois de já ter ordenado ataques aéreos no Iraque contra posições dos jihadistas do Estado Islâmico.

Republicanos como o senador John McCain e o membro da Câmara dos Representantes Mike Rogers têm acusado o Presidente dos EUA de falta de liderança no plano internacional, e a retórica no país em relação aos jihadistas do EI assemelha-se cada vez mais ao pânico gerado após os atentados terroristas do 11 de Setembro de 2001.

Poucos dias depois da execução do jornalista James Foley, o republicano Mike Rogers dizia no programa da NBC "Meet the Press" que "eles estão a apenas a um bilhete de avião de distância das costas dos Estados Unidos".

Nos sites mais conservadores, como o WorldNetDaily, e mesmo nas declarações de alguns senadores republicanos, começa a ser estabelecida uma relação entre a alegada permissividade do sistema de imigração norte-americano e a iminente entrada no país de jihadistas para cometerem atentados, o que contribui para a imagem de indecisão e fragilidade da Administração Obama.

Em finais de Agosto, o republicano Ted Poe, próximo do movimento Tea Party, disse que os jihadistas e os membros dos cartéis de droga mexicanos "estão a falar entre eles", apesar de as autoridades do país dizerem que "não há informação credível" de que o EI esteja a preparar um ataque em território norte-americano.

Mas um dos momentos mais delicados para a imagem de Barack Obama foi protagonizado pelo próprio Presidente, no dia 28 de Agosto, quando disse publicamente que os EUA ainda não tinham uma estratégia para combater o Estado Islâmico.

Poucos dias depois, num artigo publicado no The Washington Post intitulado "A política externa do Presidente Obama para além do soundbite", o jornalista e comentador político Eugene Joseph Dionne relativizou a polémica, pondo em causa a ideia de que a Casa Branca está desorientada.

"Deviam deixar de fazer de conta que planear as coisas com cuidado é um pecado grave, e admitir os elevados custos de uma acção impulsiva. Obama faz bem em esforçar-se por angariar o apoio dos Estados sunitas contra o Estado Islâmico. A luta contra o extremismo brutal falhará se for entendida como parte de uma guerra inter-religiosa que põe sunitas contra xiitas", escreveu o jornalista.

Dionne comparou a declaração de Obama ("Ainda não temos uma estratégia") à posição do antigo Presidente norte-americano Franklin Roosevelt um dia depois do seu famoso discurso em Chicago, em 1937, sobre a ameaça da Alemanha nazi.

O episódio, contado no livro "1940", da historiadora Susan Dunn, foi lembrado porDionne no The Washington Post. Um dia depois de ter defendido que os países hostis da época deveriam ser postos em "quarentena", Roosevelt foi acusado por um jornalista de ter apresentado "uma atitude sem um programa". Segundo a autora do livro, o então Presidente "não discordou", e terá respondido: "Estamos à procura de um programa."

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