Jihadistas executam outro jornalista numa “segunda mensagem à América”

Vídeo da execução de Steven Sotloff é um remake do que mostrou a morte de James Foley ao mundo. Congresso exige a Obama que apresente estratégia para vencer Estado Islâmico

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Steven Sotloff tinha desaparecido há um ano na Síria dr

Exactamente duas semanas depois, o Estado Islâmico (EI) divulgou um novo vídeo com a decapitação de Steven Sotloff, o jornalista norte-americano que tinha ameaçado matar quando executou para as câmaras o repórter James Foley. Com as novas imagens, os jihadistas empunham de novo a sua propaganda de terror contra Barack Obama e aumentam a pressão para que o Presidente dos Estados Unidos defina uma estratégia de combate ao grupo.

O vídeo foi detectado pelo SITE, grupo especializado na monitorização de fóruns radicais na Internet. A Casa Branca não quis confirmar de imediato a autenticidade das imagens, mas na manhã desta quarta-feira a porta-voz do Conselho de Segurança Nacional confirmou que o vídeo é "autêntico".

O Departamento de Estado já tinha adiantado que os EUA estão “chocados” e “enojados” com a notícia de “mais este acto brutal”. E a família de Sotloff, desaparecido a 4 de Agosto de 2013 no Norte da Síria, deu crédito às imagens, dizendo estar a chorar em privado “esta terrível tragédia”.

Esta "Segunda Mensagem à América" é, segundo o SITE, um remake das imagens publicadas a 19 de Agosto. O vídeo reproduz o cenário da execução de Foley e, tal como ele, Sotloff aparece ajoelhado, de uniforme laranja, frente a uma paisagem desértica, antes de ser morto.

Tal como então, um jihadista vestido de negro e de rosto tapado afirma que a execução é a resposta aos ataques aéreos ordenados por Obama contra as posições dos radicais no Norte do Iraque, parte das operações que nas últimas semanas levaram as forças curdas e o Exército iraquiano a reconquistar algum do terreno perdido desde o início do início da ofensiva jihadista, em Junho. “Estou de volta, Obama. E estou de volta por causa da tua política arrogante em relação ao EI, apesar dos nossos avisos sérios”.

Pela forma como está vestido e pelo seu sotaque britânico, é provável que o carrasco seja o mesmo de Foley, um radical que os serviços secretos acreditam pertencer a um grupo de jihadistas oriundos da região de Londres e que será responsável por guardar os cerca de 20 estrangeiros capturados pelos radicais.

De novo, o vídeo termina com outra ameaça, desta vez sobre a vida de um refém britânico identificado como David Haines. Segundo o Washington Post, Haines é funcionário de uma organização humanitária e foi sequestrado em Março do ano passado junto a um campo de refugiados no Norte da Síria, próximo da fronteira com a Turquia. Num novo elo da máquina de propaganda aperfeiçoada pelos jihadistas, o refém é mostrado também de joelhos e com o mesmo uniforme laranja envergado por Foley e Sotloff.

Numa ameaça que parece antes de mais dirigida a Londres, o mascarado avisa ainda os governos para recusarem a “aliança maligna da América” contra o Estado Islâmico. Trata-se de uma aparente referência à coligação internacional que Obama diz ser necessária para derrotar o grupo, que controla um vasto território entre o Leste da Síria e o Norte do Iraque e que Washington diz representar uma ameaça superior à Al-Qaeda.

Sotloff, de 31 anos, foi sequestrado quando estava em reportagem na região de Alepo. Trabalhava como freelancer para a revista Time e a Foreign Policy, falava árabe, e antes da guerra síria tinha trabalhado no Egipto e na Líbia. Seguindo os conselhos dados à maioria das famílias dos reféns, também a de Sotloff não tornou público o seu sequestro. Mas dias depois da execução de Foley, a sua mãe publicou um vídeo, pedindo directamente a Abu Bakr al-Baghdadi, o autoproclamado califa do EI, que poupasse a vida do filho.

Congresso exige resposta
Paul Cruickshank, perito em terrorismo, disse à CNN que este novo vídeo – divulgado no mesmo dia em que um relatório da Amnistia Internacional acusa o EI de limpeza étnica no Norte do Iraque – mostra que os jihadistas estão dispostos a usar “a máxima propaganda” para moralizar os seus apoiantes e, em simultâneo, “aterrorizar” os inimigos. Também um aliado do ex-primeiro-ministro iraquiano, Nouri al-Maliki, ouvido pela Reuters disse que a estratégia do grupo passa por “assustar os americanos para que não intervenham” na guerra em curso.

Mas da mesma forma que a execução de Foley levou Washington a decretar o EI a principal ameaça à segurança nacional americana, a morte de Sotloff obrigará Obama a decidir uma estratégia de combate aos radicais, que o próprio admitiu não ter ainda, numa declaração que levou os adversários a acusarem-no de tibieza.

“O Presidente tem de explicar aos americanos e ao Congresso como vamos lutar contra esta ameaça”, reagiu Ed Royce, o republicano que preside à comissão de Assuntos Externos da Câmara dos Representantes, onde o secretário de Estado norte-americano, John Kerry, deverá ser ouvido amanhã, sublinhando que “é essencial que a América mostre liderança” sobretudo quando está em jogo a vida de cidadãos seus. As críticas estendem-se também à bancada democrata – no fim-de-semana Dianne Feinstein, presidente da Comissão de Serviços Secretos do Senado afirmou que Obama tem sido “demasiado prudente” – e já nesta terça-feira o congressista Eliot Engel afirmou que Washington “tem de agir e tem de agir depressa”.
 



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