Volkswagen admite atitude de "tolerância" a incumprimento das regras

Responsáveis máximos do grupo falaram sobre as investigações internas. Relatório final só estará pronto em Abril.

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Grupo alemão está a rever procedimentos

A Volkswagen tinha dito que não apresentaria conclusões incompletas das investigações internas que estão em curso sobre a fraude das emissões. Mas, pressionada por críticas na Alemanha sobre a forma como tem comunicado sobre o caso, acabou por fazê-lo, ao dar esta quinta-feira uma conferência de imprensa, transmitida na Internet, em que os gestores da empresa acrescentaram pouco ao que se sabia e voltaram a atribuir responsabilidades à conduta individual de alguns funcionários.

O presidente do conselho de supervisão, Hans Dieter Pötsch, enumerou três factores que permitiram a instalação em alguns motores de software que enganava os testes antipoluição: a “má conduta individual” de alguns funcionários, falhas nos processos internos e “uma atitude em algumas unidades da empresa que toleraram o incumprimento das regras”.

Pötsch disse que os procedimentos dentro do grupo estão a ser revistos para evitar situações semelhantes. “Ainda que não possamos impedir a má conduta individual de funcionários, no futuro será mais difícil contornar os nossos processos”, afirmou.

O responsável não quis deixar de notar que as discrepâncias entre as emissões de óxidos de azoto registadas durante os testes e aquelas que se verificam em condições reais de condução são um problema de todo o sector automóvel. É uma questão tem sido alvo de debate na União Europeia, onde os testes em estrada começarão a ser feitos já no início do próximo ano, embora só em 2017 passem a ser determinantes para decidir se um carro pode ser entrar no mercado. Os fabricantes, contudo, terão uma tolerância que permitirá alguma discrepância entre os valores registados nos testes em laboratório e os dos testes em estrada.

Já o presidente executivo, Mathias Mueller, recapitulou o processo de chamada dos carros às oficinas, lembrando que duas das cilindradas afectadas (a 1.2 e a 2.0) precisam apenas de uma actualização de software, enquanto outra (a 1.6) terá de ter um novo componente. O executivo antecipu-se às perguntas dos jornalistas, respondendo a uma questão que tem sido lançada na imprensa: por que é que a Volkswagen não incorporou de início nos motores o componente que vai agora instalar no motor? A resposta é lacónica: “Esta tecnologia não estava disponível quando o [motor diesel] EA189 foi feito. E não havia planos para uma retroinstalação, porque ninguém sabia que havia um problema com o motor”.

Os investidores não pareceram animados com as explicações dadas pelos responsáveis da Volkswagen. No final da conferência, as acções chegaram a desvalorizar perto de 4%, tendo de seguida recuperado, mas não o suficiente para saírem do vermelho.

Um relatório sobre a investigação interna será apresentado a 21 de Abril. Terão então passados sete meses desde que a autoridade ambiental dos EUA divulgou que alguns modelos do fabricante alemão tinham equipamento fraudulento. 

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