Uma missão para Portugal: exportar

Quando há uns anos leccionava estratégia empresarial num MBA, costumava colocar uma questão dupla aos estudantes: "Qual a visão para Portugal (o que queremos ser no futuro)? E qual a missão (o que devemos fazer)?". O padrão diversificado de respostas de então refletia uma percepção que é ainda plenamente atual. A visão inexiste e a missão é uma amálgama de esforços desalinhados, sem critérios de prioridade. Está por fazer o exercício sério e alargado de definição da visão para o país, mas conhecendo-se bem a sua dimensão, geolocalização e competências, não tenho qualquer dúvida de que a missão primeira será sempre a exportação.

A economia portuguesa caracteriza-se por um défice crónico das suas balanças corrente e de capital, que naturalmente dão origem a uma necessidade líquida de financiamento externo. Em 2011, esse défice situava-se nos 8,9 mil milhões de euros, algo como 5,2% do PIB. Todavia, desde 2009 que este desequilíbrio tem vindo a melhorar devido à performance do comércio internacional de bens e serviços, o que não acontecia desde 2003. O aumento do défice da balança de rendimentos foi largamente compensado pela redução do défice da balança de bens e pelo aumento do excedente da balança de serviços.

Fica demonstrado que têm sido as exportações que, neste ciclo tão desfavorável, mantêm Portugal vivo, embora ligado à máquina. Para uma economia aberta, com um mercado interno muito pequeno, a exportação tem de ser um desígnio nacional. Os cerca de 35% do PIB em exportações são claramente insuficientes, como demonstra a comparação com outras economias de dimensão semelhante à nossa. É condição de sobrevivência atingir os 50% do PIB nos próximos anos. Mas não basta dizê-lo. É preciso refletir fortemente esta prioridade nas grandes opções e nos orçamentos de Estado, algo que francamente não consegui vislumbrar neste orçamento para 2013.

Sabemos que uma grande parte da economia não exporta, o que frequentemente alimenta o argumentário daqueles que entendem que a preocupação maior é o conjunto de empresas que produzem para o consumo interno. Não concordo. E recordo, a este propósito, que as exportações têm duas virtudes: geram nova riqueza vinda do exterior e alimentam ecossistemas empresariais que, produzindo para o consumo interno, estão ancorados em empresas exportadoras. A Autoeuropa é um bom exemplo, pois os mais de 100 mil carros que produz por ano têm uma incorporação nacional de 60%. Muitas e boas empresas portuguesas produzem para a Autoeuropa, sendo elas próprias, por via dos rigorosos critérios de elegibilidade, candidatas a exportadoras.

Importa, para além de apoiar as empresas que já exportam, atuar em duas prioridades: o alargamento da base de exportação, que atualmente se circunscreve a um grupo de 18 mil empresas; e a diversificação dos mercados alvo, com o objectivo de procurar que, pelo menos, metade das exportações tenham destino extracomunitário, mormente as economias emergentes com dinâmicas de crescimento acelerado.

As grandes exportadoras, aquele conjunto restrito de 100 empresas que são responsáveis por 50% das exportações, com forte expressão nos sectores automóvel, da energia, do papel e da construção, exigem acompanhamento especial e permanente por parte das instâncias responsáveis pelas políticas públicas.

Por seu lado, os sectores tradicionais, nomeadamente os clusters da moda, da metalomecânica e equipamentos, da indústria agro-alimentar, da fileira da floresta e do turismo, têm um enorme potencial exportador, mas carecem de dinâmicas inovadoras que lhes aumentem a competitividade internacional.

Nos sectores designados de hi-tech, sobretudo aqueles que, sendo de base tecnológica, são também capital-light, existem oportunidades reais de criação de negócios com escala global. É claramente o caso das tecnologias de informação e comunicação, onde vale mais o talento do que o investimento.

O exercício de internacionalizar empresas e de aumentar quotas de mercado no exterior requer propostas de valor diferenciadas, produtos que valem pela inovação. Para isso é necessária uma força de trabalho instruída e bem preparada, como o demonstram casos como a Finlândia e a Estónia, para dar dois exemplos de países periféricos. É por isso que o desinvestimento na educação e ciência atrasa objectivamente a competitividade do país, sem prejuízo de uma refocagem do sistema de ensino, secundário e superior, para dar resposta às necessidades reais da economia exportadora.

Exportar deveria ser o verbo mais pronunciado na nossa economia. Quanto mais cedo interiorizarmos esta missão, mais cedo perceberemos que existe uma luz ao fundo do túnel.

Vice-reitor da Universidade do Minho
 

 

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