Um sucesso “nanoeconómico”

Num tempo com tantas dúvidas quanto ao futuro é animador olhar para um bom exemplo. Foi o que me aconteceu, em Barcelos, uma empresa em que tudo ainda é pequeno mas com um potencial de arrepiar qualquer financeiro. Pela lição de excelência e inovação, pela oportunidade impar de investimento e pelo que de tão fantástico se faz em Portugal, falo-vos dela.

Não vos sei falar da parte técnica e científica incluída nas ofertas da Success Gadget. A alma tecnológica desta empresa desenvolve-se com o trabalho de investigação do jovem doutorado em biotecnologia na Universidade do Minho, César Martins e, muito em resumo, trata-se da criação de nanopartículas de sílica a que se juntam princípios ativos para uma enorme variedade de aplicações. Percebe-se melhor com um exemplo e desculpem-me a linguagem não técnica: junta-se um repelente de mosquitos às nanopartículas que depois pode ser usado para esse efeito, não só em têxteis, mas também em tintas, vernizes ou até argamassas. Alto alto, não quero saber o que são nanopartículas, pelo nome há-de ser algo minúsculo, mas interessam-me os euros, quanto custa produzir uma coisa dessas, que tipo de princípios ativos se podem juntar a estas coisas e que dificuldade terá um gigante da química ou um cientista curioso em replicar esta tecnologia? As respostas a estas questões, nos meus ouvidos deformados com análises financeiras, soavam-me como aquelas registadoras antigas, que agora são proibidas, “plim plim”, credo, esta boa gente criou foi uma máquina de fazer dinheiro, as potencialidades não são grandes, são enormes.

Analisemos melhor as respostas no sentido da capacidade de gerar valor. Os têxteis bio funcionais são recentes mas já não são novidade, o desenvolvimento da nano tecnologia já permite a oferta de roupa bio funcional com aplicações, nomeadamente, na terapia e prevenção em Dermatologia mas o que a Success Gadget reclama ter inovado é na durabilidade. Escusando-me mais uma vez à explicação mais técnica, o que esta nova tecnologia permite é um sistema que fixa as nanopartículas ao tecido de forma diferente, resistindo mais tempo quer ao seu uso quer aos ciclos de lavagem a que for sujeito. Estes produtos ou esta técnica não é pois inovadora quanto às possíveis aplicações mas é o aumento de durabilidade que esta empresa conseguiu que se torna numa mais valia importantíssima, tornando o que produz mais eficiente, mais barato, e consecutivamente com mais interesse e facilidade de conquistar uma posição interessante no mercado. Os testes já executados e certificados permitem concluir que o facto das nanopartículas estarem fixadas no interior e não na superfície dos tecidos resistem a mais de 90 lavagens, o que em termos médios não andará muito longe da vida do próprio produto onde é aplicado. A mesma tecnologia pode ser usada em tintas, vernizes ou argamassas e também aqui a durabilidade de cerca de 5 ou 6 anos parece assegurar uma eficiência invulgar face a produtos com o mesmo propósito já disponíveis no mercado. 

Quanto às aplicações, a lista parece interminável, é que a novidade não está de facto nas substâncias ativas que são usadas mas na tecnologia criada para as utilizar, com melhor resultado e a um preço mais baixo. O repelente anti-mosquito, por exemplo, já é usado há 30 anos, está mais que testado, é classificado pela agência americana EPA (Environmental Protection Agency) com o menor grau de toxicidade (grau IV) e é aplicado com sucesso de variadas formas, como por exemplo em spray diretamente na pele. Não há por isso muito de novo no repelente em si e está mais que provado que não é nocivo mesmo quando aplicado diretamente na pele, a grande inovação e a grande vantagem com esta nova tecnologia, ligando o repelente ao tecido, está na durabilidade do seu efeito pois a pele absorve o repelente o que deixa de acontecer. É fácil pois imaginar o sucesso de o aplicar com esta tecnologia à própria roupa. Veja-se por exemplo a potencialidade para minimizar o problema da malária. Um estudo científico publicado em fevereiro de 2012 revelou que cerca de 1,24 milhões de pessoas morreram com malária em 2010. E mais uma vez a questão dos custos, quando esta substância ativa é aplicada diretamente, só com ligantes, é necessário o dobro da quantidade do que com esta nova tecnologia, com a utilização de microcápsulas os ganhos na quantidade já não são tão evidentes mas como se trata de nanopartículas que ficam ligadas à superfície do material têxtil a substância ativa vai-se perdendo com a fricção, em especial nas lavagens, o que aqui é minimizado porque as nanopartículas ficam ligadas no interior do material. E a malária é só um dos problemas, poderíamos falar no dengue ou na febre amarela, com risco de morte bem mas alto e, infelizmente, ainda tão frequentes em certos locais. Mesmo que só numa perspectiva de imagem, mas não só, repare-se que, adicionalmente, estamos a falar de repelente e não de exterminar os mosquitos, o que naturalmente é valorizado num mercado cada vez mais amigo do ambiente e dos animais.

Também ligado à saúde, a empresa apresenta um produto anti-fúngico e antimicrobiano para têxteis. Não tinha ideia da dimensão do problema das infecções adquiridos em hospitais e em enfermarias, tanto pelos pacientes como por todos os que lá trabalham e pelos muitos que aí visitam os seus familiares e amigos. São chamadas infecções nosocomiais e a Success Gadget recolheu elementos em que se estima que só nos Estados Unidos causem a morte a quase cem mil pessoas por ano. Em França, em 2004, estima-se que 600.000 pacientes sofreram infecções nosocomiais, o que implicou um custo de 800 milhões de Euros. Utilizam-se cerca de 150 agentes antimicrobianos para têxteis, nas nanopartículas vendidas para este fim usam-se os peróxidos que, pelo que apurei, têm a vantagem de não causarem resistência bacteriana, não causarem alergias e ainda de serem eficazes num amplo espectro de bactérias. E claro que as aplicações ligadas à medicina não ficam por aqui, imaginem os princípios ativos que se podem conjugar transformando a sua roupa num agente profilático ou mesmo terapêutico.

Não admira que tamanha amplitude em potenciais aplicações desta nova tecnologia seja também um problema atual  para a empresa. A Success Gadget iniciou a sua atividade há cerca de 2 anos. De acordo com Pedro Pinto, CEO da empresa, as solicitações têm sido muitas, a investigação e todos os procedimentos de testes para assegurar a eficiência e a eficácia dos diferentes produtos continuam a ser a sua atividade principal mas o investimento já ascende a algumas centenas de milhares de euros e está na hora de estenderem a satisfação com o que já criaram a uma atitude mais empresarial, eventualmente aumentando o capital ou estabelecendo parcerias para produções locais ou redes de distribuição.

Pareceu-me quase tudo em aberto e volta-me a surgir a imagem do “tlim” na cabeça. Que excelente aplicação de conhecimento português que esta gente já fez mas que grande oportunidade empresarial terão os que financeiramente tiverem a oportunidade de participar neste projeto. Neste não, nestes, porque não estamos a falar de um produto com potencial, estamos perante uma tecnologia impar, com aplicações múltiplas em tantas áreas da economia. Melhor que isto, ou parecido, só notas de euro que se comprem por menos. Parabéns.

Consultor em projetos de investimento e seguros de crédito

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