TAP perde administrador financeiro num momento crítico

Luís Rodrigues, que tinha assumido o cargo há apenas oito meses, sai numa altura em que está a ser preparada a privatização e em que a companhia enfrenta instabilidade financeira.

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Gestor tinha sido director financeiro da TAP antes de subir à administração, em Abril Pedro Cunha/Arquivo

A TAP perdeu o seu administrador financeiro num momento crítico na vida da companhia de aviação. Luís Rodrigues, que tinha assumido o cargo em Abril, apresentou a sua renúncia “por motivos de ordem particular”, refere um comunicado interno a que o PÚBLICO teve acesso.

O gestor, que estava na TAP desde 2009 e tinha sido responsável pela empresa de manutenção do grupo no Brasil, subira a administrador há apenas oito meses, substituindo Michael Connolly. A sua saída acontece numa altura em que está a ser preparada a privatização e em que a transportadora aérea enfrenta instabilidade financeira.

Além do dossier da venda da companhia, que o Governo decidiu relançar em Novembro após a primeira tentativa ter fracassado em 2012, Luís Rodrigues acompanhava de perto, e respondendo ao presidente Fernando Pinto, o plano para criar uma almofada financeira para o grupo, já que estes processos de venda tendem a criar barreiras ao financiamento da banca e já não é possível recorrer a empréstimos da holding estatal Parpública, porque esta passou a contar para a dívida e para o défice.

A situação financeira da TAP deu recentemente origem a uma reunião da administração com o secretário de Estado dos Transportes, Sérgio Monteiro, e a secretária de Estado do Tesouro, Isabel Castelo Branco. O plano apresentado pela equipa de Fernando Pinto nessa altura passa por uma operação de venda e aluguer (sale and leaseback) de dois aviões A340 de modo a melhorar a tesouraria da companhia, sem retirar os equipamentos de operação.

As contas da companhia sofreram um revés no Verão, fruto dos sucessivos problemas técnicos e cancelamentos de voos. Além disso, 2014 está a ser um ano recorde de greves para a TAP, tendo resultado já na supressão de mais de 700 ligações. Ainda há uma paralisação agendada para 12 e 14 de Dezembro na PGA, a transportadora regional detida pela TAP.

Por outro lado, o grupo tem enfrentado dificuldades para recuperar as receitas geradas na Venezuela, estando o Governo a reter o dinheiro que obtém com a venda de bilhetes por existir um conflito com o sector da aviação sobre os câmbios. Neste momento, o país deve mais de 100 milhões de euros à TAP.

Embora com menor gravidade, Angola também tem estado a reter receitas da companhia de aviação nacional, com a dívida a situar-se entre os 20 e os 25 milhões de euros. O PÚBLICO questionou a transportadora aérea para saber se os valores já foram pagos, mas não obteve resposta. Neste caso, a retenção de verbas deve-se à queda do preço do petróleo, que levou o  Governo angolano a impedir a saída de dólares do país.

No comunicado enviado aos trabalhadores, e que é assinado pelo presidente do grupo, o conselho de administração “expressa o seu agradecimento e reconhecimento pela excelente colaboração, profissionalismo e competência demonstrados ao longo destes cinco anos e meio de exercício efectivo de funções de gestão executiva” por parte de Luís Rodrigues.

Para “garantir  a urgente continuidade do acompanhamento dos processos em curso na empresa, nomeadamente do processo de reprivatização do grupo”, a administração escolheu como substituta Maria Teresa Silva Lopes, até aqui directora-geral de Finanças. Numa reunião que decorreu na terça-feira, a responsável foi designada administradora executiva.

E, de acordo com o comunicado interno, ficará a tutelar a área financeira, “assumindo ainda as funções de administradora não executiva da TAPGER, mantendo as funções que vem desempenhando na TAP M&E Brasil”, a deficitária unidade de manutenção. Já Fernando Pinto ficará com a gestão da UN TAP Serviços, abarcando a área dos recursos humanos, relações laborais, jurídicos, auditoria, administração e gestão de recursos físicos, logística, planeamento, performance e portfolio de negócios e ainda tecnologias de informações, a unidade de saúde e PGA. 

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