TAP com prejuízos de 46 milhões de euros

Entrada tardia de novos aviões em operação, greves e "ocorrências operacionais" ditaram resultados negativos. Empresa está a fazer apresentações a potenciais interessados na privatização

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Os cinco argelinos chegaram num voo da TAP vindo de Argel e deviam seguir para Cabo Verde Raquel Esperança (arquivo)

A TAP registou prejuízos de 46 milhões de euros em 2014, depois de, no ano passado, ter conseguido um lucro de 34 milhões de euros.

Dificuldades operacionais explicam estes números da transportadora aérea (que não incluem as outras operações do grupo) e foram divulgados esta quarta-feira, naquela que terá sido a última apresentação antes da privatização. As perdas foram provocadas, segundo a empresa, pelo atraso na entrega de seis novos aviões, 22 dias de greve (realizadas ou anunciadas) e problemas técnicos que afectaram os aviões da transportadora nos meses de Verão.

Em concreto, estes três factores provocaram uma redução da tarifa média (na ordem dos 53 milhões de euros), custos com transferências de passageiros (27 milhões de euros), despesas com fretamentos (16 milhões) e um aumento das indemnizações pagas a passageiros, que atingiram os 12 milhões de euros. Contas feitas, o impacto negativo foi de 108 milhões de euros.

Os dados agora revelados mostram que a TAP SA quebrou uma tendência de cinco anos de lucros consecutivos, iniciada em 2009. Desse período, o melhor ano foi 2010, com um resultado positivo de 62 milhões de euros. Antes, em 2008, o prejuízo tinha chegado aos 209 milhões de euros.

Quando forem conhecidos os resultados do grupo, a derrapagem será ainda maior. Conforme já noticiou o PÚBLICO, só nos primeiros noves meses do ano passado o prejuízo ia nos 63,3 milhões de euros. A unidade de manutenção no Brasil (ex-VEM) foi responsável, sozinha, por perdas de 27,4 milhões entre Janeiro e Setembro do ano passado.

Questionado sobre os resultados globais da companhia, Fernando Pinto, presidente da TAP, disse não esperar um “agravamento face ao ano passado”, altura em que o resultado do grupo foi negativo em 5,9 milhões de euros. “Temos boas notícias, ainda não confirmadas, de algumas empresas”, disse, acrescentando, sem adiantar números, que o desempenho do Brasil “melhorou”.

Fernando Pinto defendeu que as sucessivas greves e problemas técnicos com os aviões não beliscaram o valor de mercado da transportadora, numa altura em que a venda parece avançar. "Se teve impacto na valorização? Não. No nosso caso os problemas técnicos duraram um mês e pouco", disse, admitindo que houve um problema de imagem. "Mas olha-se para um aspecto mais geral, as médias anteriores são importantes, tal como as perspectivas para 2015", continuou. As dificuldades operacionais não influenciam o valor da empresa porque, disse Fernando Pinto, foram motivadas por acontecimentos "fora do normal".

A auditoria externa que avaliou os problemas técnicos dos aviões concluiu que “não houve crescimento”, mas sim “uma concentração num determinado período”, adiantou o presidente da TAP. “Durante dois anos a empresa esteve muito abaixo da média em termos de falhas técnicas”, afirmou, acrescentando que a TAP “tem um excepcional recorde em termos de manutenção”. As falhas técnicas acabaram por ser “ampliadas pelo problema de uma greve de zelo que tivemos”, disse.

Apesar do prejuízo, o ano passado a TAP cresceu 6,6% no volume de passageiros transportados, chegando ao número recorde de 11,4 milhões. A taxa de ocupação média dos aviões situou-se nos 80,6%, mais 1,1 pontos percentuais face a 2013. Nas receitas, a empresa chegou aos 2489 milhões de euros, mais nove milhões em comparação com o ano anterior. Os custos de exploração aumentaram 3,4% para 2341 milhões, “muito por força do custo do conjunto das ocorrências referidas e do aumento da operação em 5,5%”, de acordo com os dados fornecidos pela empresa.

Quem quer a TAP?
Sobre a privatização, Fernando Pinto adiantou que há "interessados, sem dúvida nenhuma". "Não temos notícia oficial de perda de interesse. Já fizemos várias apresentações para vários interessados aqui. É um processo", disse. Depois destas apresentações a potenciais compradores, segue-se uma outra fase de reuniões mais formais e aprofundadas, que ainda não arrancou. Fernando Pinto não adiantou o número ou as empresas que mostraram interesse na transportadora aérea nacional.

Quem quiser avançar com uma proposta concreta terá o de fazer até dia 15 de Maio, e o executivo quer terminar o processo até Julho. Se tudo correr de acordo com a estratégia do Governo, nesta primeira fase serão vendidos 66% do capital do grupo, incluindo uma fatia de 5% para os trabalhadores (com 5% de desconto). Depois, deverão ser alienados os outros 34%, num espaço de dois anos.

O Estado está a ser apoiado nesta privatização pelo Citigroup, como assessor financeiro, e pela sociedade de advogados Vieira de Almeida. No Brasil (mercado onde está o negócio da manutenção, cronicamente deficitário), foi contratado como assessor jurídico o escritório Pinheiro Neto. Todos já tinham estado ligados à primeira tentativa de venda conduzida pelo actual Governo, e que acabou por falhar na recta final. Na corrida estão empresas como a espanhola Globalia, o empresário português Miguel Pais do Amaral, e Gérman Efromovich (que, depois de ter sido escolhido como vencedor em 2012, não apresentou as garantias pedidas pelo Governo). Com Luís Villalobos

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