Santa Casa aposta em novo jogo e prevê novo recorde de receitas

Expectativa de receitas com o Placard é de 250 milhões de euros num ano civil. Instituição estima atingir novo recorde de receitas em 2015: 2100 milhões de euros.

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Numa primeira fase os jogadores podem apostar em resultados de jogos de futebol, basquetebol e ténis BRUNO LISITA

Depois do Euromilhões, foram precisos onze anos para a Santa Casa da Misericórdia de Lisboa (SCML) voltar a lançar no mercado um novo jogo. O Placard entra em campo quarta-feira e é a resposta da instituição às alterações legislativas recentes que lhe concederam a exploração exclusiva das apostas desportivas à cota de base territorial - ou seja feitas em espaços físicos e não online - e das corridas de cavalos, que estarão no mercado em 2016.

Fernando Paes Afonso, vice-provedor da SCML, adianta que o Placard poderá gerar “num ano civil” receitas de 250 milhões de euros e lucros de 50 milhões, que são canalizados para obras sociais. A cumprir-se a previsão, ocupará o lugar do Totoloto como o terceiro jogo com mais vendas brutas depois do Euromilhões e da Raspadinha. Vai ajudar a reforçar as contas da instituição que, mesmo sem o novo jogo, conta atingir um novo recorde de receitas este ano: 2100 milhões de euros, um aumento de 12% face a 2014 e de mais 52% em comparação com 2010. 

Ao PÚBLICO, Paes Afonso explica a tendência com uma maior procura por parte dos portugueses. “O aumento de receitas desde 2010, superior a 50%, resulta fundamentalmente da canalização para os jogos sociais do Estado, explorados pela SCML, da procura de jogo a dinheiro proveniente da oferta ilegal ou de outros jogos legais. Recordo que só entre 2012 e 2014 a participação dos portugueses subiu de 63% para 76% da população adulta”, sublinha.

Quanto aos lucros, a expectativa é atingir 587 milhões de euros, abaixo de 2014 e em linha com 2013. No relatório e contas do ano passado, a Santa Casa já referia que apesar do crescimento das vendas brutas de jogos sociais, o rendimento diminuiu. Os maiores aumentos verificaram-se na raspadinha e não nas modalidades mais rentáveis, como o Euromilhões e o Joker.

É preciso recuar até 1961, quando foi criado o Totobola, para encontrar uma nova oferta verdadeiramente dedicada às apostas desportivas, isto sem contar com o Totogolo, que acabou por ser suspenso em 2003 por falta de adesão. “O Placard atrairá os amantes das apostas desportivas à nossa rede de mediadores e as suas características sociais, estimulando a partilha e a proximidade, farão desta nova aposta um dos jogos preferidos dos portugueses”, disse ao PÚBLICO Paes Afonso, que espera uma reaproximação ao Totobola. Hoje já será possível apostar, por exemplo, no resultado de um jogo da fase final do Europeu de Basquetebol  (Bélgica contra República Checa), nos 4500 pontos de venda e na Internet. 

No total são permitidas apostas em três modalidades desportivas (futebol, basquetebol e ténis). O montante base para apostar vai de um a 100 euros. É possível fazer apostas simples, combinadas e múltiplas e as listas de eventos desportivos, a ser actualizadas duas vezes por semana, vão estar disponíveis nos espaços dos 4500 mediadores da SCML, na internet e através de uma aplicação disponível para plataformas móveis. Nas duas últimas opções é possível efectuar simulações de apostas num bilhete virtual.

Nas apostas simples, o apostador pode escolher entre um e oito prognósticos no bilhete, sendo que recebe prémio por cada previsão acertada. Nas apostas combinadas é possível optar entre dois e oito prognósticos, mas apenas recebe prémio se acertar em todos. Já nas apostas múltiplas, o jogador pode seleccionar entre três e cinco prognósticos e tem direito a prémio caso acerte num número mínimo de previsões, de acordo com o sistema escolhido. 

Depois desta primeira fase, o objectivo é alargar a base de apostas e modalidades nos próximos seis a nove meses. O diploma que regula esta actividade, publicado em Diário da República no final de Agosto especifica que, no futuro, desportos motorizados ou râguebi (entre outros) também poderão ser objecto de apostas.

Quanto às corridas de cavalos,  provedor da Santa Casa, Santana Lopes esclareceu ontem que “o processo está em desenvolvimento legislativo e regulamentar”. Paes Afonso explica a necessidade de fasear a implementação do Placard com a existência de uma “curva de aprendizagem”, tanto da parte dos apostadores como da parte da Santa Casa.

Uma das novidades é a obrigatoriedade de o apostador registar o número de identificação fiscal na aposta. Paes Afonso justifica a introdução desta medida com a “prevenção de um conjunto de riscos” como a manipulação de resultados, referindo que a “obrigação da Santa Casa” é de “vigilância e de prevenção de branqueamento de capitais”. O vice-provedor diz que a garantia do anonimato é mantida e que é uma “forma muito simples de identificação” que, a correr bem, vai ser alargada a outros jogos. Assim, “se o apostador perder o talão, não perde automaticamente o prémio”, acrescenta. 

O Ministro da Solidariedade, Trabalho e Segurança Social, Pedro Mota Soares, também presente na apresentação, disse que “foi possível criar uma oferta legal e controlada que garante a integridade do jogo e dos apostadores”. Mota Soares acredita que, “com este enquadramento, é possível prevenir a fraude, o crime” e “prevenir fenómenos indesejáveis que estão associados ao jogo ilegal”.


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