Depois dos russos, os chineses chegam ao Algarve à procura de ar puro e golfe

Chegam de Xangai e de Pequim e a praia não é o que mais os atrai. Vilamoura vendeu as primeiras moradias a chineses.

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Duas moradias de luxo na zona de Vilamoura que foram compradas por investidores estrangeiros Filipe Farinha
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Filipe Farinha
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Albertino Galvão é agente imobiliário na empresa Garvetur Filipe Farinha

O Algarve ainda não recebe um número significativo de visitantes dos chamados mercados emergentes asiáticos, mas há sinais de mudança. “Vendemos a chineses, nos últimos cinco meses, cerca de duas dezenas de vivendas, em Vilamoura”, convicto de que não será pelo sol e praia que se conquistam os turistas de Xangai ou Pequim. “A praia não está na preferência dos chineses, mas o golfe começa a ser praticado pelas elites”, sublinha. A região tem para oferecer o chamado “triângulo dourado” dos campos de golfe — Quinta do Lago, Vale do Lobo e Vilamoura. O torneio que Albertino Galvão vai organizar, enfatiza, terá como convidados pessoas ligadas ao cinema.

A última vaga de residentes estrangeiros que chegou ao Algarve nos anos mais recentes veio sobretudo da Rússia. Chegaram como investidores, integraram-se na sociedade, compraram casa, trouxeram a família e puseram os filhos a estudar em escolas internacionais. Numa das maiores escolas do Algarve, o Colégio de Vilamoura, representam hoje a terceira maior comunidade.

Dmitry Sidorov reside no Algarve há 12 anos. “Tenho sempre o mar em frente dos olhos”, diz, referindo-se à vista privilegiada de que desfruta a partir da sua moradia, situada numa zona de barrocal, debruçada sobre a costa algarvia. “É fantástico, o Algarve”, diz o empresário russo, de 44 anos, que escolheu a região para viver com a família, incluindo quatro filhos. “Ganhei o meu primeiro dinheiro, aos 20 anos, importando produtos da China para vender na Rússia”, afirma Dmitry. No Algarve, desenvolve projectos na hotelaria e similares, mas refere a possibilidade de entrar em novas áreas.

Na Quinta do Lago, Elísio Martins, da empresa O&O-Luxury Real Estate, tem a experiência de trabalhar com o mercado russo. Há mais de um ano que tenta “furar” a muralha dos negócios na China. No quadro dos colaboradores conta com o apoio de dois consultores chineses e uma russa, para melhor se inserir na cultura local. “Os russos são dos nossos”, diz o empresário especializado na comercialização de imóveis do segmento médio e alto, referindo-se às afinidades culturais que, de forma relativamente fácil, se estabelecem entre os dois povos. Já no que diz respeito à China, observa, “a negociação é extremamente difícil”. No processo de venda, refere, encontrou pelo meio as agências de imigração a “colocarem 10% nas comissões de venda, exigindo 8% só para indicarem o potencial cliente e o contacto”. A percentagem habitual no imobiliário, diz, é de 5%. Por outro lado, acrescenta, “não se consegue fazer directamente uma campanha de marketing na China”.

Lucros de 5%
As relações de “confiança mútua” são a chave do sucesso, lembram os agentes imobiliários. “Não se pense que os ‘vistos gold’, por si só, atraem investidores”, diz Albertino Galvão, adiantando ter clientes chineses que “vivem na Inglaterra e na Alemanha, e querem comprar propriedades em Vilamoura”. O que os atrai? “Negócio, perspectivas de rentabilidade do investimento”. Argumento de vendas: “oferecemos 5% de rentabilidade na compra dos imóveis”. Os preços das moradias V2 e V3, em Vilamoura, variam entre os 350 e os 550 mil euros. “Mas há quem compre três ou quatro”, observa o agente imobiliário para chegar aos requisitos dos “vistos gold”, só concedido com uma compra superior a 500 mil euros.

A oferta sente, porém, limites. “Falta modernidade e rejuvenescimento na arquitectura portuguesa”, diz Elísio Martins, sublinhando que, nos últimos seis anos, o Algarve não tem novas construções. “Os chineses gostam de modernidade, e essa é uma das razões por que têm preferido o Parque das Nações”, em Lisboa.

A qualidade de vida e do ar no Algarve, diz, é um bom argumento de venda a um povo que “sente o peso da poluição”, mas o Algarve, no Inverno, padece do problema da sazonalidade. “Tive clientes que chegaram cá, em Outubro, e ficaram desapontados”. Restaurantes vazios, casas comerciais encerradas e blocos de apartamentos sem ninguém, foi a imagem que levaram de uma terra que se diz cosmopolita.

Dmitry, sentado na esplanada do Bar 7, junto à marina, goza o sol depois de uma manhã de chuva. “Viajei por toda a Europa, e foi aqui que escolhi para viver com a minha família, “, diz o empresário, lembrando que um dos factores da escolha foi o facto de o Colégio de Vilamoura, onde pôs os filhos a estudar, “estar certificado e ter uma relação directa com Cambridge”. Esta escola internacional tem cerca de 600 alunos, de 25 nacionalidades. Os estudantes de origem russa representam a terceira comunidade e os chineses ocupam o quarto lugar.

“Não tenho dúvidas. Dentro dois a três anos, vamos ter uma grande presença de chineses”, enfatiza Albertino, lembrando que o Colégio, juntamente com a Escola Internacional de Porches, constitui uma mais-valia na oferta turística da região. No mesmo sentido, Elísio Martins defende a necessidade de existir na região “uma grande universidade, com reputação internacional”. O perfil dos clientes chineses com quem trabalha são casais entre os 35 e os 45 anos, com filhos entre os cinco e os 14 anos.

Para Dmitry Sidorov, é importante a necessidade de “clareza” na imagem que Portugal passa para os potenciais investidores estrangeiros. Em 2009, uma empresa de capitais russos, por intermédio de uma offshore, comprou, por 50 milhões de euros, 529 hectares no Pontal. A propriedade, inserida na área do Parque Natural da Ria Formosa, estende-se da Quinta do Lago ao aeroporto de Faro. O projecto de construir 2500 camas e campo de golfe não avançou por incompatibilidade ambiental.

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