Recursos do país: do potencial ao real

É recorrente ouvir da nossa elite política com responsabilidades na vida nacional que a pobreza de Portugal em recursos naturais é uma das principais causas do nosso crónico atraso económico face à maioria dos países da União Europeia.

No entanto, uma análise atenta, não confirma este fatalismo doentio, mostra sim a existência de diversos recursos insuficientemente explorados. O que somos é pobres em definir uma estratégia e tomar decisões coerentes entre si. Olhando apenas para os recursos minerais onshore, verifica-se que o país foi dotado de uma boa diversidade que demonstra uma posição privilegiada a nível mundial, apesar da pequena dimensão do seu território.

Um bom exemplo é o que se tem vindo a passar no jazigo de Neves Corvo (Castro Verde) que, desde o início da sua exploração (1989), é o maior produtor europeu de cobre e que, com o aumento crescente do preço do zinco “transformou” uma enorme massa aí existente, pobre em cobre mas rica em zinco, até então considerada economicamente estéril, num outro jazigo mineral. A empresa exploradora (Somincor), com um volume de negócios da ordem dos 430 milhões de euros em 2011, emprega mais de duas mil pessoas e é o principal agente económico da região.

Entre outros jazigos que aguardam futuro idêntico ao de Neves Corvo, podemos referir as Minas da Panasqueira (Covilhã e Fundão) como um dos maiores produtores de tungsténio/volfrâmio da Europa, sendo o nosso país o segundo maior produtor e o segundo maior em reservas da Europa. É relativamente recente a descoberta em Tabuaço (Douro) de valioso jazigo, classificado entre os de mais elevado teor em tungsténio da Europa, a necessitar portanto, de exploração; também o jazigo de ferro de Moncorvo, onde se situa um dos principais reservatórios de minério de ferro da Europa, com reservas avaliadas em 600 milhões de toneladas, de onde têm sido retiradas amostras com teor de minério muito interessante, segundo os especialistas. A sua exploração poderá gerar numa primeira fase 1 600 empregos diretos e indiretos. De referir também as minas de ouro de Jales e Tresminas (Vila Pouca de Aguiar), de onde já os romanos tinham extraído ouro, usando procedimentos primitivos então conhecidos. A mais recente exploração mineira deixou de ser feita na década de 1990. E, como afirmou o conceituado consultor mineiro canadiano Thomas Elliot : “old mines never die… they just close down, and rest a while”.

Afinal, não somos pobres em recursos minerais, ao contrário do que se tem divulgado, em especial pelos políticos que têm passado pelo poder, para tentar justificar a falta de inteligência na governação e a incapacidade de promoverem os estudos científicos essenciais à identificação desses recursos e ao seu racional aproveitamento. O grave problema em que a União Europeia tem vivido, de autoaprovisionamento das suas necessidades em matérias-primas para a indústria, pois apenas produz cerca de 1% das suas necessidades, aliado às medidas restritivas por parte de países fora da Europa ao acesso das suas riquezas mineiras, aconselha-nos a não desprezar nenhum dos nossos recursos, nem ignorar as suas potencialidades.

Num período crítico da economia nacional, em que são exigidos aos portugueses sacrifícios crescentes, teremos de aproveitar e bem todos os recursos que o país nos proporciona regressando às minas, tal como aconteceu já nos séculos XIX e XX.

O futuro de Portugal está na nossa capacidade de inovação do conhecimento científico e tecnológico para a descoberta e valorização desses recursos. E, não em continuar a exportar riqueza gratuitamente – a chamada massa cinzenta.

Sem estratégia não há futuro. Impõe-se passar do potencial ao real.

Docente da Faculdade de Economia e Gestão da Universidade Católica Portuguesa, no Porto. A autora escreve segundo o Acordo Ortográfico.

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