Procura de petróleo vai continuar a cair e as cotações também

Relatório da Agência Internacional de Energia revê em baixa procura de petróleo para 2014 e 2015. Os preços do barril de brent estão em mínimos de quatro anos.

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Preços do crude já desceram 22% desde o início do ano Reuters

“O relatório da IEA está a matar o Brent”. Assim comentou um gestor de uma casa de investimento norte-americana a evolução do preço do petróleo depois da publicação, esta terça-feira, do mais recente relatório da Agência Internacional de Energia (IEA na sigla em inglês). Segundo a agência, a procura de petróleo irá crescer este ano ao ritmo mais baixo desde 2009, e não deverá ultrapassar os 700 mil barris diários (menos 200 mil barris que a estimativa anterior). Este é o quarto mês consecutivo em que a IEA reduz as suas estimativas de procura de petróleo.

Automaticamente, o preço do barril de brent no mercado londrino caiu para o valor mais baixo em quatro anos, recuando 2,2%, para 86,92 dólares por barril. Desde o começo do ano os preços já caíram cerca de 22%, mas a queda poderá não ficar por aqui. “Há um tremendo risco de descida no mercado”, adiantou à Bloomberg Bob Yawger, do departamento de futuros da Mizuho Securities, em Nova Iorque.

Além de reduzir as estimativas de consumo para 2014, a IEA também se mostrou mais pessimista face a 2015, antecipando um crescimento da procura de 1,1 milhões de barris por dia (para um total de 93,5 milhões de barris diários) que são, ainda assim, menos 300 mil barris diários que o esperado anteriormente.

Mas, apesar da quebra na procura e da descida de preços, a expectativa é que a produção continue a crescer, em vez de diminuir, como aconteceu em épocas anteriores de pressão sobre os preços. Desta vez, além do abrandamento económico e do dólar forte, há outro protagonista que veio baralhar as contas aos principais produtores de petróleo convencional, como Angola, o México ou a Venezuela: o sucesso na exploração de petróleo de xisto norte-americano, que tem permitido aos Estados Unidos abastecerem-se a um custo muito mais baixo do que se tivessem de importar.

Por isso, o analista chefe da IEA, Antoine Halff, considera que os principais países produtores e exportadores de petróleo – reunidos na OPEP – poderão já não ter vontade ou capacidade para ajustar a produção, tendo em conta a revolução que supôs a entrada no mercado do petróleo de xisto. Dificilmente se pode esperar que a OPEP continue a “desempenhar o papel tradicional” de pivot do equilíbrio entre preço e produção porque alguns países (cujo financiamento depende em exclusivo das receitas do petróleo) poderão optar por continuar a vender a preços mais baixos do que perder a sua posição no mercado, explicou Halff, citado pela Reuters. Nos próximos trimestres, será de esperar maior crescimento da produção do que da procura”, vaticina o analista.

Em Setembro, a OPEP, que garante cerca de 40% do crude consumido mundialmente, produziu 30,9 milhões de barris por dia, o máximo desde Agosto de 2013, escreve a Bloomberg. O aumento foi impulsionado pela Líbia, que produziu mais 280 mil barris diários, para um total de 780 mil barris, naquele que foi o quinto aumento consecutivo. É, por isso, com expectativa que se aguarda a reunião da OPEP, que está agendada para dia 27 de Novembro. Alguns produtores, como o Kuwait e a Argélia, já descartaram quaisquer cortes na produção e o pedido de uma reunião de urgência feito pela Venezuela terá sido mesmo ignorado pelos outros membros do cartel.

Ontem, também se ficou a saber que a receita angolana com a exportação de petróleo atingiu os 17.500 milhões de euros entre Janeiro e Setembro, o que representou uma quebra de 3700 milhões de euros face ao período homólogo de 2013, segundo contas da Lusa. No início do mês, o ministro das Finanças de Angola, Armando Manuel, alertou para a necessidade de o país encontrar alternativas às receitas petrolíferas, num cenário de baixa da cotação e de afirmação dos Estados Unidos como exportador líquido.

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