Predição?

Draghi bem alertou. Uma estagnação secular ameaça a zona euro (ZE). Recentes previsões colocam o crescimento abaixo de 2% durante cinco ou dez anos. Com este ritmo é improvável recuperar o desemprego estrutural para níveis compatíveis com o financiamento das políticas públicas, garantes da estabilidade social. Apesar da recuperação bafejada pela quebra nos preços do petróleo e pela política monetária expansionista, o diferencial entre o PIB registado e o seu potencial manter-se-á por muito mais tempo. Este “output gap” está dificultado pelas políticas orçamentais nacionais restritivas, pelo endividamento das empresas e famílias, pelo risco da deflação, pelo peso da dívida soberana. Dificultado também pelos credores e, em termos institucionais e económicos, pelos tratados e pelos devedores. Devagar, os governos respondem à crise. O instrumental é conhecido: Mecanismo Europeu de Estabilidade, Semestre Europeu, revisão do Pacto de Estabilidade e Crescimento (PEC) e uma sua mais flexível interpretação, Tratado Intergovernamental sobre Estabilidade, Coordenação e Governação, novo procedimento de desequilíbrios macroeconómicos, União Bancária, várias políticas monetárias não convencionais do BCE e, aguarda-se, o Fundo Europeu para Investimentos Estratégicos. Falta que a ZE passe dos instrumentos ad-hoc e dos fundos que a urgência criou para um quadro estrutural e institucional coerente, com recursos adequados e legitimidade democrática. Falta que os governos compatibilizem a sustentabilidade das finanças públicas com desenvolvimento, além da austeridade. Falta uma nova atitude na UE, um novo impulso na convergência, com crescimento, emprego e coesão social. De contrário, Draghi não alertou, agoirou.

Economista

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