Poder de compra dos portugueses registou a maior quebra dos últimos 22 anos em 2006

O aumento dos salários foi superado pela evolução da inflação no ano passado
Fotogaleria
O aumento dos salários foi superado pela evolução da inflação no ano passado Paulo Pimenta/PÚBLICO (arquivo)
Fotogaleria

O poder de compra dos trabalhadores por conta de outrem registou em Portugal durante o ano passado a maior descida dos últimos 22 anos, calcula a Comissão Europeia.

De acordo com o relatório semestral ontem divulgado, os salários reais portugueses caíram 0,9 por cento. Isto significa que os aumentos salariais registados foram superados pela evolução dos preços (neste caso calculada através do deflator do consumo privado).

É necessário recuar ao ano de 1984 para encontrar uma evolução mais negativa da evolução do poder de compra dos portugueses. Nessa altura, com a inflação acima dos 25 por cento, os salários reais caíram a uma taxa de 5,6 por cento. Nem na crise de 1993, nem em 2003, o último ano de recessão, as remunerações dos trabalhadores foram tão penalizadas.

Durante o ano passado, de acordo com os dados da Comissão Europeia, os salários nominais aumentaram 2,4 por cento, um abrandamento face aos 2,9 por cento de 2005. Esta situação foi ainda agravada pelo facto de a inflação ter acelerado de um ano para o outro.

Para o presente ano e para o próximo, as previsões de Bruxelas apontam para que os salários reais voltem a subir em Portugal, embora de forma moderada (0,4 por cento em 2007 e 0,5 por cento em 2008). Apesar da moderação salarial, a competitividade portuguesa face aos seus parceiros europeus em termos de custos deverá manter uma tendência negativa. É que apesar de os salários aumentarem pouco, a subida da produtividade continua a ser uma das mais baixas da Europa.

Quebra nas exportações

É por isso que Portugal deverá registar, em 2008, o quinto ano consecutivo de evolução negativa do desempenho das suas exportações.

O resultado até pode ser surpreendente, tendo em conta que actualmente são precisamente as vendas ao estrangeiro que contribuem de forma mais intensa para o crescimento da economia nacional, mas mostra as dificuldades que Portugal mantém em segurar as quotas de mercado junto dos países que são seus principais clientes.

O cálculo dos serviços da Comissão Europeia para o desempenho das exportações é feito através da divisão de um índice das exportações de bens por um índice de crescimento da procura dos mercados alvo. Na prática, o desempenho das exportações não depende apenas da evolução das vendas, mas sobretudo da forma como cada país ganha, mantém ou perde quota nos mercados onde costuma colocar os seus produtos.

Para a economia portuguesa, a evolução deste indicador de desempenho é, desde 2004, negativa. O pior ano foi o de 2005, com uma deterioração de 5,1 por cento. Em 2006, o cenário melhorou bastante, mas ainda assim não suficiente para que o indicador de desempenho calculado pela comissão voltasse a crescer (diminuiu 0,7 por cento). As exportações nacionais cresceram 8,8 por cento, mas os mercados correspondentes cresceram ainda mais. Houve vários países da União Europeia, como a Alemanha, Finlândia, República Checa e Polónia, que conseguiram que as suas exportações crescessem, em 2006, mais de 10 por cento, garantindo aumentos das quotas de mercados. Para 2007 e 2008, a Comissão continua a prever que as exportações portuguesas mantenham uma diminuição do seu nível de desempenho.

Sugerir correcção
Comentar