Parceiros sociais receiam que programa de ajustamento fique na mesma

O representante de Bruxelas deixou a ideia de que as medidas estão a funcionar. Sindicatos e patrões vêem pouca margem para negociar.

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Os parceiros sociais saíram esta terça-feira do encontro com os representares das instituições internacionais, que esta semana começaram a oitava e nona avaliação do programa de ajustamento português, com a ideia de que há pouca margem para flexibilizar as medidas e as metas previstas.

As confederações patronais e sindicais exigem políticas de crescimento e que tenham em atenção o emprego e reclamam a flexibilização das metas do défice, a redução dos juros e dos prazos de pagamento. Mas do outro lado da mesa, a equipa constituída por técnicos do Fundo Monetário Internacional (FMI), Comissão Europeia (CE) e Banco Central Europeu (BCE) remeteu-se ao silêncio, com o argumento de que dois dos seus membros estão pela primeira vez em Portugal.

Apesar desse silêncio, recebido com desagrado, o secretário-geral da CGTP, registou as declarações de John Berrigan, representante da CE que está pela primeira vez em Portugal, que terá afirmado que o programa de ajustamento está a funcionar. Arménio Carlos entende essa declaração como um sinal de que o rumo é para manter.

“O responsável da Comissão Europeia disse que o programa trouxe melhorias na economia portuguesa ao nível do défice externo e das leis laborais e que esta política está no bom caminho”, destacou também o presidente da Confederação Empresarial de Portugal (CIP), António Saraiva, que criticou a “desresponsabilização” dos novos membros da missão da troika face às questões colocadas e que ficaram sem resposta.

Os parceiros sociais saíram com a ideia de que estas avaliações serão mais difíceis e que há menos abertura para aceitar mudanças de rumo. “Não temos qualquer indício de que haverá abertura para flexibilizar. O responsável da CE insistiu que a fórmula que vem sendo seguida até aqui está certa”, resumiu o presidente da Confederação do Comércio e Serviços de Portugal (CCP), João Vieira Lopes. O que não surpreende este dirigente: “A CE tem sido o elemento mais rígido na apreciação dos problemas”.

O dirigente da Confederação dos Agricultores de Portugal ironizou dizendo que a reunião foi “um monólogo” e não uma troca de posições. Embora os membros da troika não o tenham dito textualmente, João Machado ficou com a ideia de que “não há abertura para flexibilizar” o que quer que seja.  

Para a CGTP, o encontro não foi mais do que “uma farsa”, mas Lucinda Dâmaso, presidente da UGT entendeu o silêncio de Subir Hall, chefe da missão do FMI, Rasmus Ruffer, representante do BCE, e do representante da CE como uma forma de se protegerem.

Contudo, a dirigente espera que tenham ouvido e entendido bem a mensagem que os parceiros sociais deixaram: “Neste momento os parceiros estão todos numa linha de que é preciso mudar de rumo para que o país cresça”.

Os representantes da CE e do FMI foram substituídos para a oitava e nona avaliação, tendo alegado isso para não responderem às questões dos parceiros. “Os responsáveis vinham com a lição estudada de manter o silêncio. Estranhamos que as organizações, ao mudarem os responsáveis, mudem também a sua política de comunicação”, lamentou António Saraiva.

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