Os novos, os velhos e a democracia

Vergílio Ferreira merecia ter sido Prémio Nobel da Literatura. Não foi.

Dá uma resposta eloquente para o problema político mais grave deste Governo: os velhos. Escreveu que os esquimós os largavam à sua sorte. Depositavam-nos abandonados ao longe no gelo. Aceitavam essa sorte como o nascer e morrer segundo a natureza…

O magno problema do Governo são os velhos.

À míngua de depósitos gelados, o Governo acondicionava-os em contentores. Desembarcava-os nas Berlengas. Abandonava-os.

Era  uma questão de Justiça. Puni-los pelo seu despesismo e gastanço. Deixava de ter de pensar na reforma “estrutural” das reformas e pensões. Poupava milhões de euros em reformas e pensões que os velhos recebem de esmola e magnanimidade dos governantes. Não apreciam o pensamento.

Os cofres das Caixa Geral de Aposentações e Segurança Social foram os governos que os encheram. Do seu bolso e árduo trabalho. Já não estão tão cheios. Os velhos foram-nos esvaziando para “outro interesse público”. Comprar dívida pública que contraíram. Nos estádios de futebol, em auto-estradas que ninguém usa, parcerias público-privadas ruinosas, submarinos de águas doces, negócios bancários de burlas e falsificações monstruosas.

Andaram 40 anos e mais a descontar para reformas e pensões. Deu-lhes agora para exigir as pensões e reformas. Já não têm direito nem ao trabalho, nem às pensões ou reformas.

O que melhor revela a febre esbanjadora dos velhos é o “colaboracionismo” na edificação e reforço do regime democrático. Direitos, liberdades e garantias dos cidadãos. Liberdade de imprensa, de associação e manifestação. Serviço Nacional de Saúde. Educação e ensino para todos. Vias de comunicação. Políticas de defesa efectiva da maternidade e infância. Direito e Processo Penal em que há defesa dos arguidos. Estado de Direito. Com liberdade, sem guerras ou polícia política. Tribunais plenários.

Em 1974, os velhos de hoje já cá estavam. Jovens. Gastadores. Agora que paguem.

Outro magno problema são os novos.

São tão ou mais gastadores que os velhos. Mais de metade não sai de casa dos pais. Nada produzem. Nem bens, nem serviços. Só se servem do que o Governo produz e lhes oferece. Nem todos. Há os amigos e os assessores de 20 anos e mesmo membros do Governo. Sem estes, o país caía no caos e no dilúvio. Aos outros, já foi orientada a grande saída. Emigrar. Deixar os filhos por aí. Depois de vários anos no ensino secundário, superior e mestrados. O país não precisa de doutores. Há muitos e que cheguem. Os do Governo. Os que por cá ficam têm uma saída à medida das suas e das necessidades colectivas: o subsídio de desemprego que o Governo também dá do seu bolso. Apesar da generosidade governativa, os jovens são como os velhos. Cada vez mais, frequentam menos as escolas e universidades. Consomem fármacos e produtos análogos na mira de aprimorar a performance intelectual e física. Não querem trabalhar. Nem há trabalho. Os pensionistas e reformados ocupam tudo quanto é lugar no Estado e nas empresas. Encostam-se às reformas e  pensões dos velhos.

O Governo prossegue nas reformas.

Os velhos mais velhos e desossados. Os novos vão para velhos. Cada vez mais desempregados e magrinhos. Por causa dos velhos!

Procurador-Geral Adjunto

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