Accionistas da PT aceitam ficar com fatia mais pequena na fusão com a Oi

Reunião magna durou cerca de cinco horas mas, no final, 98% do capital representado aprovou os novos termos da fusão com os brasileiros. Henrique Granadeiro garante que defendeu a empresa e accionistas.

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A reunião desta segunda-feira foi a última a ter a participação de Henrique Granadeiro (ao centro) Daniel Rocha

Quem esperava uma reunião rápida, enganou-se. A assembleia-geral de accionistas da Portugal Telecom (PT) desta segunda-feira, onde se decidiu que o novo acordo de fusão com a Oi avançava, com 98,25% dos votos a favor, começou às 16h30 e demorou quase cinco horas. Pelo meio, muitos accionistas pediram a palavra e colocaram várias questões no interior do Fórum Picoas, em Lisboa, recebendo algumas respostas.

O único ponto da assembleia-geral (AG) era os novos termos do acordo de fusão com a brasileira Oi, devido aos impactos negativos da exposição da PT ao Grupo Espírito Santo. A reunião magna contou com um quórum de 46% do capital da operadora, com a esmagadora maioria dos participantes a votar a favor da proposta em cima da mesa e apenas 1,75% de votos contra. Devido ao empréstimo de cerca de 900 milhões feito à Rioforte, e que não foi pago, a posição da PT na Oi desce de 37% para 25,6% e passam para a PT SGPS os títulos da Rioforte. Assim, só os accionistas da PT ficarão expostos ao incumprimento da holding não financeira do Grupo Espírito Santo (GES).

Na teoria, podem recuperar parte desse valor e, com isso, subir a posição accionista. Tudo dependerá da capacidade da Rioforte, dona de diversos activos (é o principal accionista da ES Saúde), em pagar aos seus credores.

Henrique Granadeiro, o CEO da PT demissionário que já deu a cara pela compra de papel comercial da Rioforte, entrara silencioso no edifício, mas foi pressionado a dar algumas explicações durante a AG sobre o investimento em dívida do GES. E, à saída, não se alongou nas respostas aos jornalistas, dizendo que as explicações que tinha a dar já as dera dentro de portas. “É lá que presto contas.” Deixou, no entanto, uma convicção: “Defendi a minha empresa e promovi o bem dos meus accionistas”.

O encontro (no qual os brasileiros da Oi, com 10%, não puderam votar) tinha desde logo um accionista de peso a favor da fusão: a Ongoing, representada por Rafael Mora. Em declarações aos jornalistas a meio do encontro, Mora defendeu que a aprovação dos novos termos do acordo com a Oi era “a única solução possível”. O gestor afirmou ainda esperar recuperar parte do valor da aplicação na Rioforte. “É o negócio possível e que possibilita seguir em frente com a fusão”, sublinhou, afirmando que se sente “condicionado, com raiva e alguma frustração” face ao resultado do empréstimo da PT ao GES. Antes, também Paulo Varela (que está na administração da PT, tal como Mora) declarara que o novo acordo com a Oi “é o que melhor serve os interesses da PT”.

Já o Novo Banco, que ficou com a posição de 10% que era detida pelo BES, esteve presente no Fórum Picoas apenas com “uma representação formal”, acabando também por votar a favor. A ATM, associação que reúne pequenos investidores, esteve sempre contra os acordos do novo negócio, mas a sua pouca expressão não conseguiu evitar que a fusão fosse votada de forma favorável. O seu presidente anunciou no final da reunião que vai agora tentar impugnar a decisão.

A esperada “luz verde” ao acordo de fusão já era antecipada pelos mercados, com os títulos da operadora a recuperarem parte das perdas de Julho e Agosto. Nesta segunda-feira, e em contraciclo com o PSI-20 (que fechou a perder), a PT subiu 1,26%, para os 1,77 euros.

Quanto ao relatório a cargo da PwC sobre a aplicação financeira na Rioforte, pedido pela gestão da PT, Mora afirmou que os resultados serão conhecidos em Outubro. Falta também conhecer a auditoria conduzida pelo regulador do mercado de capitais, a CMVM, e a da Oi (que avançou em Agosto com a sua própria análise ao envolvimento da operadora com o BES). Os responsáveis da Oi (tal como Zeinal Bava) têm alegado “total desconhecimento” das aplicações financeiras na Rioforte.

Por outro lado, a PT não explicou até agora porque, e como, levantou os 128 milhões depositados no BES antes de este ser intervencionado, e qual o impacto negativo de ser accionista, com cerca de 2%, do “banco mau” que resultou da separação do BES em duas entidades. com Lusa

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