O problema da poluição do plástico e a necessidade de adotar hábitos mais sustentáveis

O plástico, pelas suas caraterísticas, como durabilidade, foi muito utilizado, sendo incorporado em atividades industriais, medicina ou acondicionamento de alimentos e compras. É difícil imaginar uma sociedade sem plástico.

No entanto, esta caraterística acabou por tornar-se um problema. A reduzida taxa de degradação e gestão incorreta dos resíduos de plástico promoveu a dispersão pelo ambiente, onde se fragmenta em pequenos pedaços - microplásticos (<5mm), que vão acumulando-se principalmente em meios marinhos.

Para além da poluição visual, podemos ver associados outros impactes: para a saúde (dado que poderão incorporar a cadeia alimentar), económicos (causam danos em equipamentos de pesca ou aquacultura, com repercussões no turismo e na limpeza de praias) e ecológicos (são confundidos por alimento e ingeridos por tartarugas, peixes ou aves).

Um estudo realizado pela Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa em 11 praias do litoral continental português (2010/2014) mostra uma predominância de materiais de plástico em 97% das amostras recolhidas, dos quais 27% são fragmentos de plástico e resíduos de sacos.

O consumo de sacos de plástico descartáveis ou sacos leves tem sido cada vez mais elevado. Estima-se que cada cidadão europeu consome em média 198 sacos de plástico por ano e, segundo a Comissão Europeia, o consumo em Portugal rondará os 466 sacos.

Os sacos leves, pela fragilidade, são difíceis de reutilizar, sendo considerados embalagens de curta-duração (uso <12 horas). Em Portugal, a maioria dos sacos leves oferecidos são oxo-degradáveis ("100% degradável" - sacos de plástico com aditivo químico que acelera a degradação). Em 2011, a Quercus alertou para o fato de estes sacos não cumprirem critérios de compostabilidade (norma CEN13432), não poderem ser tratados com matéria orgânica, assim como poderem fragilizar os processos de reciclagem, restando-lhes a incineração ou aterro.

Em 14/01/14, o Parlamento Europeu apelou para que a União Europeia definisse medidas para reduzir os resíduos de plástico no ambiente, especificamente no lixo marinho, tendo sido aprovada uma proposta que aponta para reduzir o uso de sacos de plástico leves em 50% até 2017 e 80% até 2019.

Para alcançar esta meta, a Quercus apresentou ao ministro do Ambiente e grupos parlamentares, uma proposta que propõe a adoção de medidas graduais distribuídas em 4 anos, entre as quais a implementação/aumento do número de eco-caixas (onde não oferecem sacos).

Para os hipermercados as medidas deverão ser acompanhadas de “metas de redução”: 25% no 1.º ano, 50% no 2.º ano, 75% no 3.º ano e 100% até ao 4.º ano - a partir do qual não há oferta de sacos. Para o restante comércio, a redução deverá ser feita no mesmo período, sem metas pré-definidas.

Fomentar o uso de sacos reutilizáveis aumenta em 50% a taxa de reutilização e contribui 20% para a otimização no seu uso, segundo estudo realizado da Quercus e Universidade da Madeira (2009).

A proposta apresentada pela Comissão para a Reforma da Fiscalidade Verde, que inclui uma taxa para sacos de plástico descartáveis, vai ao encontro das preocupações da Quercus, no que respeita ao desincentivo para o consumo e oferta de sacos leves.

Apresentar um material alternativo aos sacos de plástico descartáveis não nos parece resolver o problema da poluição ambiental causada pelo uso abusivo de sacos descartáveis. Reduzir o problema de poluição de plásticos e, consequentemente, dos microplásticos, deve passar por uma gestão de resíduos mais eficaz e eficiente, pela sensibilização/educação ambiental assertiva, dirigida a todos os sectores da sociedade e níveis etários, pelo uso de sacos reutilizáveis e sua reutilização, preferencialmente fabricados em materiais reciclados e recicláveis.

Centro de Informação de Resíduos da Quercus

O autor escreve de acordo com o Novo Acordo Ortográfico

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