Ministro da Indústria espanhol anuncia que Fagor vai requerer "concurso de credores"

O eventual fecho da Fagor Electrodomésticos, cooperativa histórica criada no País Basco em 1956, poderá levar à perda de 10 mil postos de trabalho.

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Cartel envolveu fixação de preços de frigoríficos e outros electrodomésticos de refrigeração Foto: Nuno Ferreira Santos

O ministro da Indústria espanhol, José Manuel Soria, anunciou nesta quarta-feira de que a Fagor Electrodomésticos vai requerer "concurso de credores", perante a impossibilidade de encontrar novas vias de financiamento.

Em declarações aos jornalistas, em Madrid, Soria disse que na tarde de terça-feira o presidente do grupo, Txema Guisasola, o tinha informado de que a companhia "passará de pré-concurso a concurso de credores".

O ministro assegurou que tem acompanhado de perto o caso da empresa histórica espanhola e a crise dos últimos meses na qual “as sucessivas injecções de liquidez” não parecem ser suficientes para evitar o "concurso de credores". Chegados a este ponto, disse, "tinham um possível plano para a salvação, que incluía uma parte de contribuição adicional por parte do Grupo Mondragón" e que, afinal, não se executou. Esta falta de financiamento é o motivo pelo qual a Fagor Electrodoméstico vai requerer o "concurso de credores".

Recorde-se que a empresa está em "pré-concurso de credores" desde 16 de Outubro, enquanto tentava um processo de refinanciamento da dívida, que passaria por uma injecção de fundos do Grupo Mondragón. Soube-se agora que os trabalhadores do grupo ainda não receberam os salários de Outubro, o que indicia que as tentativas da empresa de encontrar financiamento continuam sem sucesso. Algumas fontes citadas pela imprensa espanhola prevêem que o requerimento de "concurso de credores" poderá ser apresentado nos próximos dias.

O eventual fecho da Fagor Electrodomésticos, cooperativa histórica criada no País Basco em 1956, poderá levar à perda de 10 mil postos de trabalho, directos e indirectos, e deixaria em risco investimentos de 10 mil pessoas. Considerada a empresa mais significativa da Corporación Mondragon (MCC, que tem a sua sede na localidade com este nome da região basca de Guipuzcoa), a Fagor chegou a inspirar a criação de algumas das cooperativas mais importantes da história de Espanha.

Com dívidas acumuladas de 800 milhões de euros, a Fagor enfrenta um "fecho iminente" desde que a MCC deliberou que não vai injectar os 170 milhões de euros necessários no plano de viabilização da empresa, decisão que levará à perda total de 10 mil postos de trabalho, entre os cerca de 5600 da empresa e os de fornecedores que trabalham, maioritariamente, para a empresa de electrodomésticos espanhola.

Segundo a MCC, o "problema fundamental" de Fagor Electrodomésticos "tem a ver com a sua capacidade de competir no mercado global e de se adaptar a todas as mudanças que estão a ocorrer no sector, com novos concorrentes e novas regras de jogo". As consequências podem ser o fecho de 13 unidades fabris, cinco das quais em Espanha, e o despedimento de todos os trabalhadores da empresa (5600) a que se somam, só no País Basco, mais 4000 empregos indirectos. Mas o impacto será ainda mais amplo para os membros da cooperativa que investiram 12 mil euros no projecto, a que se somam os retornos anuais, reconvertidos em capital, e algumas contribuições voluntárias.

Recorde-se que entre 2003 e 2006, a Fagor colocou em investidores 185 milhões de euros em acções preferenciais, fundos que estão agora também em risco caso se concretize o fecho da empresa.

Já antes da actual crise económica, analistas tinham considerado que a situação da Fagor era "explosiva", com uma estrutura sobredimensionada e grande parte do seu catálogo superado pelos melhores preços de concorrentes asiáticos.
 

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