Investimento tirou refinadoras de Sines e Matosinhos da crise

Aumento das amortizações e depreciações penalizaram resultados da petrolífera.

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MCM

“Se não tivéssemos feito o investimento gigantesco que fizemos na refinação, a unidade de Matosinhos estaria fechada inequivocamente e estaríamos a discutir quando fecharíamos Sines”, assegurou o presidente executivo da Galp Energia, Manuel Ferreira de Oliveira, nesta manhã de segunda-feira, na apresentação dos resultados semestrais do grupo.

O impacto da reconversão e aumento de capacidade das duas refinadoras, sobretudo da de Sines, é um dos pontos positivos a contrariar o “clima recessivo” que penaliza parte dos seus resultados.A Galp Energia registou no primeiro semestre do ano 162 milhões de euros de lucro, menos 9,3% do que em período homólogo do ano passado.

A petrolífera atribui a queda de resultados ao aumento das amortizações e depreciações sobretudo relacionados com o investimento de hydrocraking na refinaria de Sines e ao facto de nos primeiros meses de 2013 não se terem repetido os ganhos cambiais de 29 milhões de euros obtidos no segundo trimestre 2012.

Apesar da descida de 10% das margens de refinação no mercado internacional, as margens obtidas pela Galp nos primeiros seis meses são 60% superiores. As exportações subiram 19% face ao primeiro semestre de 2012, para dois mil milhões de euros, devendo chegar aos quatro mil milhões no final do ano. O gasóleo substituiu a gasolina como produto mais exportado, destacando-se destinos como Marrocos, França e EUA (gasolina). A acrescida capacidade exportadora da Galp representou 9% das exportações nacionais nos primeiros cinco meses.

Os resultados operacionais (EBITDA) do grupo subiram 13,9%, de 489 para 557 milhões de euros. O investimento atingiu um total de 474 milhões de euros, dos quais 286 milhões de euros foram registados na segunda metade do período e sobretudo destinados à actividade de exploração e produção, para o desenvolvimento do campo Lula no Brasil.

A dívida líquida da empresa era de 2,1 mil milhões de euros no final de Junho, incluindo os 944 milhões de euros de empréstimo aos chineses da Sinopec, que detêm 30% do capital da Petrogal Brasil.

Ferreira de Oliveira sublinhou o ambiente recessivo em que a empresa está a funcionar na Península Ibérica, sobretudo em relação a Espanha, continuando a manter previsões de "um mercado difícil".

As vendas de produtos petrolíferos caíram 7% em Portugal e 11% em Espanha, as de gás natural 5% no mercado doméstico e 9% no país vizinho, enquanto a electricidade ficou por uma descida menor, de 2% e 4%, respectivamente. Ferreira de Oliveira explica que o cenário agravado para Espanha se deve a ter entrado no ciclo recessivo mais tarde e Portugal já está a travar a quebra da procura. A quebra da procura e a produção em alta das energias renováveis (hídrica e eólica) afectam ainda a produção das centrais de ciclo combinado a gás natural em Espanha e Portugal.No caso português, isso também se mede pelas vendas de betumes: 2013 está a ser o primeiro ano de eleições em que descem em vez de subir, sublinhou o gestor. A queda no final de Junho era de 40%. Em resultado, o mercado da Península Ibérica pesa cada vez menos nos resultados operacionais da empresa: 45% contra 55% por conta de Angola e Brasil.

Com a actividade de exploração e produção a dominar cada vez mais a sua actividade, a Galp investiu nesta área 73% dos 474 milhões de euros hoje anunciados. Estes são mais 34% face a período homólogo de 2012, 60% dos quais no bloco BM-S-11, na bacia de Santos, no Brasil. Os investimentos em curso representam quase 1,4 mil milhões de euros do activo fixo, de acordo com as contas apresentadas.

Ferreira de Oliveira "continua a discordar" da imposição do Governo de lançamento das bombas de combustível low cost e garante que a parceria que neste momento tem com o Continente (pertencente à Sonae, o mesmo grupo que detém o PÚBLICO) permite "ofertas melhores do que as que o Governo quer para os postos low cost". Acrescentando: "Não prevemos que a legislação tenha qualquer eficácia". A Galp diz já ter feito estudos sobre os investimentos adicionais para cumprir a eventual mudança, caso o Governo assim o decida, mas garante que não tem qualquer impacto nas suas contas.

Sobre as recentes propostas para a descida do IRC e do crédito fiscal, a Galp diz não ter ainda contabilizado o impacto dessas descidas nas suas contas mas considera que a proposta de crédito fiscal será "um incentivo valioso dirigido às PME" e não a uma empresa da dimensão da Galp.

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