Grécia receia que próximas negociações com a troika sejam “um inferno”

Governo grego garante que não aceitará um terceiro resgate se tiver de aplicar novas medidas de austeridade.

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“Vamos negociar com firmeza”, promete o ministro grego das Finanças, Yannis Stournaras John Kolesidis/Reuters

As próximas semanas — e os próximos meses — prometem ser de intensas negociações em Atenas entre o Governo e a troika. A prever que os credores sejam mais exigentes sobre o programa de ajustamento e a forma de a Grécia superar as necessidades de financiamento do próximo ano, o Governo de Antonis Samaras endureceu neste domingo o discurso em relação à missão externa.

Ao semanário grego To Vima, que a AFP cita, o ministro das Finanças, Yannis Stournaras, mostrou-se preparado para que o convívio com a missão externa nos próximos tempos seja “um inferno”. Porque “tudo será analisado e julgado” com os credores até Junho, disse. “Tudo”, ou seja, as condições concretas de um eventual terceiro resgate financeiro, a forma de garantir o financiamento em falta e ainda o cumprimento das metas do défice.

O braço-de-ferro entre os credores e o Governo tem crescido nas últimas semanas, estando previsto o regresso da troika a Atenas no final do mês. A pressão começou com a missão externa a falar na necessidade de serem aplicadas medidas de contenção adicionais para a Grécia cumprir o objectivo de um défice de 3% em 2014. Mas o Governo de coligação já veio dizer que não tem margem para aplicar mais cortes na despesa pública, nem para aumentar a carga fiscal.

O executivo terá de negociar um pacote de financiamento adicional, como o próprio Governo já admitiu. Mas o ministro das Finanças impõe condições. Ao jornal Kathimerini de sábado, Stournaras garantia que não aceitará um novo resgate se a Comissão Europeia, o BCE e o FMI exigirem que Atenas se comprometa com novas medidas no quadro de um terceiro memorando. “Vamos negociar com firmeza, como fazemos sempre”, reforçou, para a seguir acrescentar: “Contudo, o realismo e a calma têm de prevalecer de parte a parte”.

O executivo quer dar gás à aplicação das “medidas estruturais” (caso das privatizações), o que não implica que um novo pacote de resgate deva ser “acompanhado por novas medidas”, diz Yannis Stournaras.

A pressão do Governo intensificou-se nos últimos dias, depois de a imprensa helénica noticiar que a troika pedia cortes adicionais de 2000 milhões de euros em 2014, estando previsto um pacote de consolidação orçamental de 4000 milhões.

Primeiro, Samaras transmitiu a sua posição ao presidente do grupo de trabalho de preparação das reuniões do Eurogrupo, Thomas Wieser. Depois, apareceu uma torrente de declarações de ministros e deputados conservadores a alertarem para o impacto social das medidas e a temerem que um novo pacote divida a coligação governamental e desemboque em eleições antecipadas.

Tanto do lado do Governo como da zona euro foi já admitida a hipótese de a Atenas precisar de um terceiro resgate financeiro, para cobrir um défice de financiamento próximo de 11 mil milhões em 2014 e 2015, anos em que o executivo espera crescimento económico.
 

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