Exportadoras valem 37% do volume de negócios das empresas em Portugal

Sector exportador está concentrado num número “estável” de empresas. Dependência do capital alheio é “particularmente crítica” para 30% das empresas do mercado português.

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Só 6% das empresas que fazem parte do sector exportador “deixam de exportar no ano seguinte” Daniel Rocha

Só uma pequena parte do tecido empresarial vende para o mercado externo, mas a dimensão das receitas geradas pelas suas actividades representa uma fatia importante do volume de negócios das 390 mil empresas do mercado português. Com a dinamização do sector exportador, as companhias voltadas para os mercados exteriores concentram mais de um terço de todo o volume de negócios das empresas. Foi assim consecutivamente nos últimos três anos.

Numa análise publicada nesta segunda-feira, o Banco de Portugal (BdP) mostra que 37% do volume de negócios vem do sector exportador, ainda que este universo seja de apenas 23.400 empresas (6% do tecido empresarial).

Este conceito não abrange todas as empresas que exportam, mas apenas aquelas para quem o mercado externo tem mais relevância (em que pelo menos metade do volume de negócios se deve a exportações; apenas 10% no caso de se tratar de exportações acima dos 150 mil euros). Num tecido empresarial onde predominam as micro, pequenas e médias empresas (PME), o primeiro critério é o que mais se verifica.

O peso das exportadoras é mais significativo nos distritos de Aveiro, Braga e Viana do Castelo. Apesar do aumento continuado das vendas de bens e serviços para o exterior, o peso das exportadoras no volume de negócios caiu de forma ligeira de 2013 para 2014, ano que ficou marcado já pelo início da retoma do mercado interno. Mas a trajectória de médio prazo, assinalada nos dados do Banco de Portugal, é de aumento da importância das exportadoras no volume de negócios, desde 2006. Ao longo de nove anos – até 2014 – o número de empresas deste núcleo representava, em média, 40% das sociedades que exportavam.

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Uma “parte muito significativa” das exportações de bens e serviços, que no ano passado cresceram 3,7%, parte de um “conjunto reduzido e estável de empresas”, onde se concentram dois terços do volume de negócios do sector exportador. O contributo mais importante vem das empresas que conseguem estar no sector exportador durante dois anos consecutivos.

Aliás, só 6% das empresas que já integram o sector exportador “deixam de exportar no ano seguinte”, o que acontece de forma mais vincada nas restantes empresas que não cumprem aqueles critérios, onde essa proporção chega a 17%.

Das empresas com exportações, 4% passaram, a cada ano, a integrar o sector exportador. E há 6% de empresas que, não tendo no ano anterior realizado qualquer exportação, passaram a ter nas vendas para o exterior a principal fonte de receitas no ano seguinte, isto é, passaram directamente para a categoria sector exportador. Desde 2012 que isto acontece com cerca de 5% das empresas que está a iniciar uma actividade.

Menos pressão financeira
O volume de negócios aumentou de forma ligeira no ano passado (um crescimento de 2% em relação a 2013), mantendo-se “relativamente constante” nos primeiros seis meses deste ano. As excepções foram os sectores da electricidade, água e construção, onde houve uma quebra.

A análise do BdP, divulgada a propósito de uma conferência a decorrer nesta terça-feira em Lisboa sobre o sector exportador, mostra ainda que a autonomia financeira das empresas – medida pelo rácio do capital próprio face ao activo da sociedade – teve um “decréscimo marginal” em relação a 2013, passando para 30%. Num horizonte temporal mais alargado, de 2010 a 2014, o banco central refere que a deterioração da autonomia financeira foi maior nas grandes empresas e abrangeu as áreas dos serviços, electricidade e água.

O BdP fala numa “elevada dependência” das empresas por capital alheio (garantido por terceiros e não por capitais próprios), que era “particularmente crítica para cerca de 30%” das empresas. No caso das microempresas – que são mais de 347 mil – esta dependência abrange 32% do total, algo que só se verifica em 6% das grandes empresas. É no comércio e nos serviços que mais se verifica esta situação.

Com a queda dos juros e com a melhoria no EBITDA das empresas (resultado antes de juros, impostos, amortizações e depreciações), as sociedades enfrentaram menos pressão financeira. Este rácio, que passou de 30% em 2013 para 28%, mede o peso dos juros no EBITDA.

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