Evolução mundial dos salários desacelera e continua longe dos níveis anteriores à crise

O crescimento de 2% foi feito à custa das economias emergentes. Nas economias desenvolvidas os salários estagnaram, alerta a OIT.

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Bobby Yip/Reuters

No ano passado, os salários ao nível mundial cresceram em média 2%, o que representa uma desaceleração face à evolução verificada em 2012 e um valor ainda inferior aos registados antes da crise de 2008 e 2009. Os dados são de um relatório da Organização Internacional do Trabalho (OIT), divulgado nesta sexta-feira, que alerta que ainda há um longo caminho a percorrer até se verificarem os níveis de crescimento registados nos anos anteriores à crise.

A organização nota que as taxas de crescimento dos salários reais caíram “bruscamente” durante a crise de 2008 e 2009 para níveis inferiores a 2%, recuperaram “ligeiramente” em 2010 e voltaram a desacelerar no ano seguinte. Em 2012, a OIT dá conta de um crescimento de 2,2%, mas no ano passado voltou a verificar-se uma desaceleração, com os salários a evoluírem apenas 2%.

Embora se note uma tendência de recuperação, as taxas de crescimento continuam abaixo dos 3,1% verificados em 2007, pelo que a OIT entende que ainda há um longo caminho a percorrer até se chegarem aos níveis anteriores à crise.

O crescimento global dos salários, embora “modesto",  refere a OIT no seu relatório, está a ser influenciado pelas economias emergentes, onde os salários têm vindo a evoluir positivamente desde 2007.

A China é, de resto, o país, responsável por grande parte do crescimento global dos salários. Se excluirmos este país da estatística, a evolução baixa de 2% para 1,1% em 2013 e de 2,2% para 1,3% em 2012.

Pelo contrário, o crescimento médio salarial nas economias desenvolvidas, que rondava 1% em 2006 e 2007, está agora com uns modestos 0,2%.

 “Nos últimos dois anos, o crescimento dos salários abrandou para níveis próximos do zero nas economias desenvolvidas”, referiu Sandra Polaski, directora-geral para as políticas da OIT. “Isto acabou por pesar sobre o desempenho económico, levando a uma contracção do consumo privado na maioria destas economias e aumentando o risco de deflação na zona euro”, acrescentou.

E embora os salários médios nas economias emergentes ainda sejam “consideravelmente mais baixos” do que nas economias desenvolvidas” – um trabalhador nos Estados Unidos ganha três vezes mais do que um trabalhador na China - o fosso diminuiu entre 2000 e 2012.

Esta aproximação ficou a dever-se “ao crescimento dos salários nas economias emergentes” e à “estagnação e contracção em muitos países em desenvolvimento”, lê-se no relatório.

O relatório inclui ainda uma análise à desigualdade de rendimentos. E embora se verifique uma evolução mista, a OIT alerta que nos países em que as desigualdades entre os mais ricos e os mais pobres aumentaram – como é o caso dos Estados Unidos ou de Espanha – isso ficou a dever-se em grande parte devido à estagnação ou declínio dos salários e ao desemprego. Já nos países onde as desigualdades se têm vindo a reduzir – Brasil, Argentina e Federação Russa, exemplifica a OT – “os salários e o aumento do emprego tem sido a força motriz na redução da desigualdade”.

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