Evolução da economia em 2015 marcada pela desilusão do investimento

Banco de Portugal assinala travagem registada no investimento das empresas na segunda metade do ano passado e prevê que retoma do indicador pode ser mais fraca que em anteriores recessões.

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O investimento cresceu apenas 0,2% no último trimestre de 2015, face ao mesmo período do ano anterior Diogo Baptista

Com as empresas ainda muito endividadas e preocupadas com as perspectivas de evolução da actividade económica, o investimento voltou a desacelerar em Portugal durante a segunda metade do ano passado, constituindo um dos principais entraves actuais à retoma económica do país.

No Boletim Económico publicado esta quarta-feira, o Banco de Portugal (BdP) analisa a evolução da economia portuguesa durante o ano passado. Em 2015, o PIB acelerou, mas o desempenho conseguido ao nível do investimento, em particular na segunda metade do ano, constituiu uma desilusão.

O banco central diz que “no segundo semestre de 2015, a Formação Bruta de Capital Fixo apresentou um perfil claramente descendente, que foi particularmente marcado no último trimestre, com uma variação em termos homólogos de 0,2%”. O relatório dá ainda conta de que o menor dinamismo do investimento na segunda metade do ano “foi especialmente acentuado na componente de máquinas e equipamentos, que apresentou quedas em termos homólogos nos terceiro e quarto trimestres”.

No total do ano, a variação deste indicador foi de 3,9%, uma aceleração face aos 2,8% de 2014, mas tal deveu-se essencialmente a uma primeira metade do ano muito forte, que criou a expectativa de que Portugal poderia conseguir ter uma retoma em que o investimento desempenhava um papel fundamental. Os meses seguintes, contudo, mostraram que continuam presentes sérios entraves ao crescimento do investimento em Portugal.

O principal é o nível de endividamento das empresas. Embora no seu relatório o Banco de Portugal dê conta de uma subida gradual do valor dos novos empréstimos bancários a empresas não financeiras em 2015, o sector empresarial português continua a estar limitado na sua capacidade para recorrer a crédito para investir, porque é neste momento um dos que mais endividamento acumulou na zona euro. E a juntar a esta dificuldade, como revelam os inquéritos efectuados às empresas, permanecem as expectativas de evolução da actividade económica e de procura interna muito moderadas, que não constituem um incentivo ao investimento.

O Banco de Portugal diz ainda que, no final de 2015, o forte abrandamento do investimento poderá estar associado “ao aumento da incerteza a nível internacional e a nível interno na segunda metade de 2015, que terá levado ao adiamento de algumas decisões de investimento, bem como à ausência de pressão no sentido do aumento da capacidade produtiva”.

Perante este cenário, as expectativas para os próximos anos não são as de ver o investimento tornar-se num motor de aceleração do crescimento em Portugal. O Banco de Portugal estima que “poderá não ocorrer uma recuperação do investimento tão dinâmica como a que é tipicamente observada nos períodos pós-recessivos” e assinala que o fraco nível de investimento é um dos motivos para que não se registe igualmente uma subida mais forte dos níveis de produtividade em Portugal.

A recuperação económica com um contributo muito reduzido do investimento não é uma característica única de Portugal, sendo uma tendência que se verifica de forma clara à escala europeia. Em Portugal, contudo, é um dos motivos para a divergência de projecções económicas entre o Governo e a Comissão Europeia, que nas suas previsões de Primavera apresenta uma estimativa de crescimento em 2016 bastante inferior à do executivo, justificando esse facto precisamente com o desempenho mais fraco registado no final de 2015.

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