Eurodeputado português acusa Air France de fazer voos de treino com passageiros

Mário David esteve presente num voo que teve dificuldades em aterrar e descobriu que os pilotos estavam a ser treinados, usando voos comerciais.

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A legislação europeia entrou em vigor a 1 de Janeiro de 2012 Foto: Ahmed Jadallah/Reuters

Mário David, eurodeputado do PSD, questionou a Comissão Europeia e o Conselho Europeu sobre se empresas aéreas europeias podem fazer voos de treino com passageiros. Tudo porque, diz, a Air France andou a "borregar" com o avião ao aterrar em Lisboa, para treinar.

Mário David viajou no dia 19 de Março de Paris para Lisboa no voo Air France 1924 com chegada prevista para as 17h25. O avião ia a aterrar normalmente, as rodas prestes a tocarem no chão, até que a aterragem é abortada. Perante esta “borregada”, o comandante culpou o vento. Tentou aterrar de novo, mas a aterragem foi novamente interrompida. Nessa altura, o comandante voltou a culpar os “ventos traiçoeiros”, garantindo que “à terceira será de vez”. E assim foi. O avião finalmente aterrou, conta o eurodeputado.

Ao ler a ficha de bordo, Mário David averiguou que a tripulação incluía dois co-pilotos chineses. O eurodeputado comentou este facto com a chefe de cabina e esta terá reagido mal, arrancando a ficha afixada. O eurodeputado notou que nenhum outro avião, apesar dos supostos “ventos”, teve problemas pem aterrar naquele dia. De facto, verificava-se um vento de 10 nós contrários, condições ideais de aterragem, pelo que os controladores aéreos ficaram chocados quando o comandante comunicou à torre por duas vezes que se sentia “desconfortável” com o vento, continua a relatar o social-democrata.

O eurodeputado descobriu que os pilotos chineses estavam a ser treinados pela Air France e decidiu questionar a Comissão Europeia e o Conselho Europeu sobre se um empresa aérea da UE, e no seu espaço aéreo, pode fazer voos de treino em voos comerciais com passageiros.

“Porquê uma pergunta parlamentar à Comissão, quando poderia apenas depositar uma queixa contra a Air France? Em primeiro lugar, porque gostaria de saber se uma empresa aérea da UE, e no seu espaço aéreo, pode fazer voos de treino em voos comerciais, com passageiros", adianta Mário David, em comunicado. "Em caso afirmativo, há ou não a obrigação da concordância das autoridades dos países das rotas em que tais treinos são efectuados? E assiste ou não aos passageiros o direito de saber previamente a existência de tais treinos? E é ética e deontologicamente aceitável que o comandante minta aos passageiros?", pergunta ainda.

As perguntas sucedem-se: "Embora não sendo verdade, vamos assumir que o treino é totalmente isento de perigo: mas se um passageiro, com o susto, sucumbir a uma crise cardíaca, de quem é a responsabilidade? Do vento?". "Finalmente, uma pergunta ainda mais dramática: os pilotos em treino estavam a treinar directamente uma operação de 'borregar' ou falharam a aterragem e colocaram a integridade física dos passageiros em perigo, tendo o comandante sido forçado a abortar as duas aterragens?”.
 

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