Estrangeiros podem ficar com quase 20% das camas dos hospitais privados

Saúde privada está em grande parte nas mãos de quatro grupos.

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Hospital da Luz é uma das unidades da ES Saúde Rui Gaudêncio

Caso a Espírito Santo Saúde (ES Saúde) seja comprada por mexicanos ou chineses, perto de 20% do número de camas de hospitais privados ficarão nas mãos de empresas estrangeiras, já que às 744 camas geridas pela HPP (comprada pela Amil, que é detida por norte-americanos) somam-se as 1179 camas agora em jogo na corrida à empresa do universo Espírito Santo. Ao todo, ficariam 1923 camas nas mãos dos privados. De acordo com os dados da Associação Portuguesa de Hospitalização Privada (APHP), os privados são responsáveis por oito mil camas, o que significa que, se a ES Saúde for adquirida pela Ángeles ou pela Fidelidade (dos chineses da Fosun), quase 25% da oferta do sector ficará sob controlo de investidores internacionais.

Olhando para os quatro maiores grupos privados na saúde em Portugal, estes detêm quase metade do total da capacidade de internamento do sector, que inclui 105 unidades. À cabeça surge o grupo José de Mello Saúde, com 1430 camas, segundo os dados fornecidos ao PÚBLICO pela APHP.  Os maiores são hospitais geridos em regime de parceria público-privada. Só o Hospital de Braga, que é uma unidade universitária, tem 715 camas, enquanto o de Vila Franca de Xira possui 236. No Porto, o Hospital Cuf dispõe de 150 camas e, em Lisboa, o Cuf Descobertas e o Cuf Infante Santo, 146 e 141, respectivamente.

O segundo maior grupo privado é a Espírito Santo Saúde (ES Saúde), com um total de 1179 camas repartidas por várias unidades, com destaque para o Hospital de Loures, que é gerido em parceria público-privada (453 camas) e o Hospital da Luz, em Lisboa (231). O grupo detém também o Hospital da Arrábida, em Gaia, com 106 camas, a Clipóvoa, com 100, o Hospital do Mar (110) e o Hospital de Santiago (109), além do Hospital da Misericórdia de Évora, com uma capacidade de 34 camas. Com cerca de 9 mil funcionários, estas unidades fizeram no ano passado mais de 1,5 milhões de consultas.

Em terceiro lugar surge a Lusíadas Saúde, a marca que resultou do grupo HPP, após a Caixa Geral de Depósitos ter vendido o negócio hospitalar à brasileira Amil, por 85,6 milhões de euros. Posteriormente, a Amil foi adquirida pelos norte-americanos da UnitedHealth.  Este grupo possui cinco hospitais – o Lusíadas Porto, com 138 camas, o de Lisboa  (127), o de Albufeira (27), o de Faro (24) e o de Lagos (28). Mas a maior parte da capacidade de internamento está no hospital gerido em parceria público-privada, o de Cascais (400 camas). De acordo com informação avançada recentemente pelo próprio grupo, a Lusíadas Saúde faz anualmente cerca de 700 mil consultas, mais de 280 mil atendimentos urgentes, cerca de 30 mil cirurgias e mais de 4100 partos.

Em quarto lugar, surge o grupo Trofa Saúde, com 404 camas, 112 das quais no Hospital Privado da Trofa e 73 no da Boa Nova. O Hospital Privado de Alfena alberga 97 camas, enquanto o Hospital Privado de Braga tem 72.

Em valor, estes quatro grupos são já responsáveis por 83% do total das receitas do sector privado,  orçadas em cerca de 1500 milhões de euros por ano, também de acordo com a APHP. Com mais de 25 mil colaboradores, as 105 unidades de saúde privadas são responsáveis, anualmente, por 5,5 milhões de consultas e 160 mil cirurgias, de acordo com os dados fornecidos pela associação.

Nesta terça-feira, a Fidelidade, detida em 80% pela chinesa Fosun, lançou a terceira oferta pública de aquisição (OPA) sobre a ES Saúde, oferecendo 4,72 euros por acção. Esta investida segue-se à OPA lançada pela mexicana Ángeles e pela portuguesa José de Mello Saúde (detida em 70% pelo grupo José de Mello e em 30% pela Associação Nacional de Farmácias). 

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