Entre as 500 maiores empresas do mundo, 50 são responsáveis por 73% das emissões poluentes

A BMW, a Nestlé e a Cisco Systems são das empresas que mais se preocupam em reduzir as suas emissões de gases de estufa

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A maioria das emissões tem origem no sector da energia Rui Gaudêncio

Das 500 maiores empresas cotadas do mundo, 50 - isto é, 10% - são responsáveis por três quartos do total das emissões deste universo empresarial. Ligadas sobretudo aos sectores da energia ou da siderurgia, viram, em tempos de recessão económica, as suas emissões aumentar 1,65% nos últimos quatro anos. Dos 3,6 mil milhões de toneladas de gases com efeito de estufa que estas cinco centenas de empresas lançam para a atmosfera, 2,54 são da responsabilidade de apenas cinco dezenas.

Entre estas contam-se as grandes petrolíferas como a BP, a Shell, a Repsol, a Total, a Petrobras ou a Exxon Mobil, indústrias do aço como a Arcelor Mittal, distribuidores como a Wal-Mart ou empresas de telecomunicações como a AT&T.

O aumento verificado nas emissões das 50 empresas, dadas as elevadas emissões produzidas por este sector, equivale a colocar mais 8,5 milhões de camiões a circular nas estradas do mundo ou a abastecer de electricidade seis milhões de novas casas, compara o Carbon Disclosure Project (CDO), uma organização não-governamental que, em conjunto com a PricewaterhouseCoopers, é responsável pelo relatório sobre as emissões das 500 maiores empresas mundiais, divulgado nesta quinta-feira.

Os investidores e os accionistas exigem, das empresas, transparência. Mas essa transparência tem, tradicionalmente, incidido sobretudo sobre a informação financeira. Mas, hoje, as exigências já ultrapassam as barreiras da contabilidade e começam a dar grande importância às acções de responsabilidade ambiental e social das empresas. Por isso, desde 2000, o CDP questiona as empresas sobre as suas emissões e as iniciativas tomadas para as reduzir, listando-as conforme o seu desempenho e a sua transparência neste capítulo.

O relatório é feito a pedido de Governos e empresas, assim como de 722 investidores, que representam 87 biliões (milhões de milhão) de dólares (mais de 65 biliões de euros) em investimentos. Todas as empresas foram questionadas, mas apenas 389 responderam em tempo útil. A Amazon, o Facebook ou a Apple são algumas das que não participaram.

Uma das principais conclusões do relatório é que "os maiores poluidores não estão a fazer o suficiente para reduzir as emissões". O relatório avalia dez sectores, que vão da energia aos serviços financeiros, passando pela distribuição, serviços de saúde, telecomunicação ou tecnologia.

Entre estes, destacam-se três pelo seu peso no total das emissões - no seu conjunto, são responsáveis por 87,5% do total de gases enviados para a atmosfera: energia (que inclui petrolíferas e equipamentos e serviços energéticos), materiais (indústria química, materiais de construção, siderurgia e mineração) e serviços de utilidade pública (geração e distribuição de electricidade ou gás). Dos três, apenas os materiais aumentaram as suas emissões no último ano em 13,1%. Tanto a energia como os serviços de utilidade pública reduziram (-2,1 e -10,2, respectivamente). Dos restantes sectores, apenas dois aumentaram as emissões: a distribuição e o sector financeiro.

Mas um dos principais objectivos do estudo é avaliar a preocupação dos empresários com o impacto da actividade da sua empresa no clima e a transparência na informação prestada sobre o assunto.

No que diz respeito à preocupação em minimizar o seu impacto, destacam-se a BMW, a Nestlé e a Cisco Systems. As mesmas empresas destacam-se quando se fala em transparência. Juntam-se a estas a Daimler, a Philips, a BNY Mellon (sector financeiro) e a espanhola Gas Natural SDG. Esta última é a única empresa incluída no lote das 50 maiores poluidoras.

No final do ano passado, o CDP fez um ranking semelhante, mas só para as cotadas ibéricas. Para concluir que as maiores empresas portuguesas apresentam preocupações com as alterações climáticas, incorporando-as na sua estratégia de negócio. Entre estas, a EDP, o Banco Espírito Santo e a Caixa Geral de Depósitos surgiam bem classificadas.

Num ano em que se ultrapassou a 400 ppm (partes por milhão) de dióxido de carbono na atmosfera, aproximando-se da marca dos 450 ppm que muitos consideram o limite máximo para se evitar consequências desastrosas das alterações climáticas, o papel das empresas é fundamental. No momento em que as atenções se viram para a retoma económica, é crucial a mudança de atitudes, defendem os autores do relatório. Sobretudo porque o empenho na luta contra as alterações climáticas é também uma oportunidade de negócio e de redução de custos.

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