Empresas portuguesas reforçam posição entre as mais endividadas

Entre 11 países analisados pelo FMI, Portugal é o que tem um sector empresarial não financeiro com maior peso da dívida. E a redução deste indicador nos últimos três anos foi das mais pequenas.

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O FMI tem apontado o endividamento das empresas como um dos obstáculos à retoma em Portugal Nuno Ferreira Santos

A correcção dos elevados níveis de endividamento das empresas portuguesas é um dos objectivos do programa da troika, mas entre 2009 e 2013 a redução deste indicador foi bastante modesta, reforçando a posição de Portugal como um dos países em que a dívida acumulada pelo sector empresarial não financeiro é mais elevada.

Os números são apresentados pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) no seu relatório semestral sobre a Estabilidade Financeira Global, publicado esta quarta-feira. O Fundo analisa a forma como tem evoluído o endividamento do sector privado e do sector público desde o início da crise financeira internacional e apresenta dados para um grupo de economias denominadas como “avançadas”, onde está incluído Portugal.

O endividamento das empresas não financeiras, especialmente na Europa, é uma das preocupações do FMI, que diz que, apesar do endividamento das empresas ter recuado dos seus máximos em muitas economias, em parte da zona euro o sector “está ainda muito alavancado porque os países foram lentos a enfrentar a acumulação de dívida empresarial”. E é aqui que Portugal mais se destaca pela negativa.

Entre os onze países para os quais são apresentados dados para as empresas não financeiras (incluindo oito da zona euro), Portugal é o país onde a dívida bruta do sector empresarial em percentagem do PIB atinge um valor mais elevado: 118%. Em segundo lugar aparece a Irlanda, com 115% do PIB e em terceiro a Espanha. Em média na zona euro, a dívida representa 68% do PIB.

E o problema para Portugal agrava-se ao verificar qual a evolução registada durante os últimos quatro anos. O nível de dívida das empresas não financeiras baixou, mas apenas 1,3 pontos percentuais, um valor que apenas é mais alto do que nos Estados Unidos e na França entre os países analisados. Entre os outros países com forte endividamento empresarial, regista-se a queda de 21,1 pontos percentuais conseguida pela Espanha e de 9,8 pontos pela Irlanda.

O elevado endividamento das empresas e os obstáculos que isso pode representar para a retoma do investimento tem sido uma das preocupações mais vezes analisadas pela troika nas suas avaliações do programa português. No final da 11ª avaliação, no passado mês de Fevereiro, ficou definido que o Governo, com o apoio do Banco de Portugal, irá apresentar um plano estratégico de reestruturação da dívida das empresas. O Ministério da Economia solicitou ao FMI apoio técnico na definição dessas medidas, que incluem os programas de recuperação e revitalização de empresas já existentes, a criação de instrumentos de capitalização de empresas e a facilitação do crédito.

No entanto, há quem duvide que políticas deste tipo possam ter um impacto muito significativo na redução dos rácios de endividamento enquanto a economia não começar a registar um crescimento nominal mais elevado. É que, com a economia a crescer lentamente e a inflação em níveis muito baixos ou mesmo negativos, torna-se mais difícil a qualquer empresa ver os seus empréstimos reduzirem o seu peso na actividade da empresa de forma rápida. É isto que justifica que, nos últimos anos, apesar do acesso a novos empréstimos ter sido extremamente limitado, o peso da dívida das empresas ter caído muito pouco.

Este é um problema que se faz sentir também entre os particulares e no Estado, segmentos em que Portugal também apresenta resultados para negativos do que a maior parte dos outros países analisados. De acordo com os dados do FMI, o endividamento bruto das famílias é, em Portugal, de 98% do PIB. Um valor que numa amostra de 12 países apenas é superado pela Irlanda com 109%. A redução deste indicador entre 2009 e 2013 foi em Portugal de 7,7 pontos percentuais, menor que os 22,7 pontos conseguidos pela Irlanda e os 8,6 pontos da Espanha, mas superando os 5 pontos da Grécia. O FMI destaca a queda do endividamento dos particulares registada nos países que cumpriram programas da troika, mas assinala que o indicador “continua elevado na Irlanda, Portugal e Reino Unido”.

Em relação à dívida pública, o Fundo explica que, no conjunto das economias avançadas, “o progresso substancial na reparação dos balanços do sector privado foi feito às custas do endividamento público”. Portugal está com uma dívida pública de 129% do PIB, o terceiro valor mais alto dos 12 países analisados, atrás do Japão, Grécia e Itália.

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