Em Junho, 30% das empresas com dívida à banca estavam em incumprimento

Banco de Portugal nota que as condições macroeconómicas nacionais e as medidas incluídas no OE para 2014 tenderão a acentuar a degradação da qualidade da carteira de crédito dos bancos

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O Banco de Portugal divulgou Pedro Cunha/arquivo

No final do primeiro semestre, cerca de 30% das empresas com dívida à banca portuguesa estavam em situação de incumprimento, o que traduz um nível histórico, um dado revelado pelo relatório de estabilidade financeira do Banco de Portugal divulgado esta manhã.

No mesmo período (entre Janeiro e Junho deste ano), verificou-se um aumento da exposição da banca nacional à divida pública portuguesa, ainda que o financiamento ao sector público continue a cair.  

O Banco de Portugal acaba de divulgar o seu relatório da actividade, que pela primeira vez agrega informação relativa aos sectores segurador, dos fundos de pensões e dos fundos de investimento. O documento revela que “o rácio de cobrança duvidosa manteve a trajectória ascendente, registando níveis máximos desde o início da área do euro”. O BdP sublinha que a  “probabilidade” de incumprimento das empresas, que se tem vindo a acentuar desde o começo de 2012, está “em linha com a evolução do PIB”.

O regulador alerta para a incerteza sobre a evolução da economia portuguesa como "uma condicionante fundamental da estabilidade e solidez do sector financeiro”, pelo que “constitui um risco importante” para a banca. E admite que as medidas incluídas no OE para 2014 não são favoráveis.

Assim, no final de Junho, “cerca de 30% das empresas com divida” aos bancos “encontravam-se em situação de incumprimento”. Antes do auge da crise financeira, no Verão de 2008, o rácio de incumprimento das empresas rondava os 15%. Em termos do total do crédito, em Junho “representava cerca de 12% dos empréstimos totais” obtidos pelas empresas. Apesar do cenário negativo ser transversal a todos os sectores, as áreas da construção, do imobiliário e do comércio contribuíram mais “significativamente” para a degradação do rácio total de crédito de cobrança duvidosa.

Em Outubro, o FMI veio admitir a possibilidade de a banca portuguesa ter de enfrentar perdas adicionais de 8 mil milhões de euros nos próximos dois anos, provocadas pelo crédito malparado das empresas fortemente endividadas, o que tenderá a acentuar-se, caso não se verifiquem melhorias das condições económicas e financeiras.

O Banco de Portugal nota ainda que no primeiro semestre as necessidades de financiamento das administrações públicas caíram, face ao mesmo período anterior (7,8%), ascendendo a 7,1% do PIB (cifrando-se em 6,2%, excluindo os apoios estatais ao Banif). No mesmo documento, refere-se que em Junho de 2013 a carteira de títulos de dívida portuguesa representava 37% da carteira total do sector, ainda que a componente de títulos de capital se revele estável.

Já a exposição da banca às administrações públicas nacionais correspondia a 8% do total do sistema, tendo aumentado 7% no primeiro semestre, com “o aumento dos títulos de dívida pública portuguesa a superar a redução do crédito concedido ao sector público”. Trata-se, segundo o Banco de Portugal, de um “comportamento comum” a todos os bancos nacionais.

Por seu turno, os depósitos do sector atingiram 52% das fontes de financiamento bancário (48% em Junho de 2012), uma evolução que se inscreve no ajustamento das fontes de financiamento do sector. As poupanças captadas junto dos clientes particulares foram “determinantes para o aumento dos depósitos” do sector que, no final de Junho, apresentou um rácio de transformação (de crédito em depósitos) de 123% (o valor recomendado pelo BdP é de 120%). Em 2010, a média do sector era de 167%.
 
Para a equipa de Carlos Costa, "apesar de ter estabilizado, o recurso dos bancos portugueses ao financiamento do Eurossistema permaneceu muito acima da média da área do euro". 
 
 

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