Desemprego estabilizou? Não

O Eurostat anunciou a sua previsão do desemprego, em Portugal, para Fevereiro. Segundo a organização, a taxa estabilizou em 17,5%. Muitos jornais acrescentaram, inclusive, que era a primeira vez que acontecia desde Agosto de 2012.

Importa lembrar que o Eurostat faz previsões mensais para o desemprego, juntando aos últimos dados conhecidos trimestralmente do INE a evolução mais recente do desemprego registado do IEFP. Em Fevereiro, o desemprego registado baixou 5,2%, logo a projecção europeia deu uma estabilização. Portanto um resultado esperado.

Importa contudo notar que, após o conhecimento de dados mais actuais do INE, é normal o Eurostat corrigir os dados, muitas vezes em muitas décimas. Por exemplo, em Setembro passado, o Eurostat previu uma redução do desemprego, de 15,8 para 15,7%, e, depois, de conhecidos os dados do INE, actualizou os valores, em alta, e a taxa de desemprego mensal subiu para 16,3, em mais 6 décimas.

Não é assim verdade o dito por muitos órgãos de comunicação, que estes últimos dados do Eurostat de Fevereiro significariam a primeira estabilização nos últimos seis meses.

Deve-se então observar os dados com precaução. Nada na sociedade demonstra que o desemprego estabilizou. Quando muito os dados poderiam indiciar que o desemprego abrandou o ritmo de crescimento, face à tendência exponencial de aumento verificado ao longo de 2012.

O próprio Governo não acredita que o desemprego tenha estabilizado, antes pelo contrário, pois, após a sétima avaliação da Troika, actualizou a taxa prevista de desemprego, em 2013, para 18,2%, quando três meses antes, em sede de proposta de Orçamento de Estado, tinha previsto 16,4%. Para 2014, a previsão governamental continua a ser ainda de agravamento.

Tudo aponta, inclusive, para que a taxa de desemprego feche o ano acima dos 19%.

Deve-se olhar assim os dados do Eurostat com precaução. Importa mesmo concentrar as medidas possíveis no combate ao desemprego, ou seja, no relançamento da actividade económica. Assim, o documento apresentado agora, pelo Governo, em sede de Concertação Social, que objectiva relançar e racionalizar as medidas activas de emprego, é insuficiente e apresenta erros e contradições. Errado, porque concentra o problema da má execução das medidas na dita “má comunicação” e não na situação de precariedade económica e financeira em que se encontram as empresas e as organizações empregadoras. Contraditório, porque, na prática, multiplicam-se as medidas, o que dificulta a sua implementação pelos serviços. Basta ver o Impulso Jovem. Insuficiente, porque não aposta em factores estruturais, como a qualificação de activos e educação de adultos, antes os bloqueando.

Sugerir correcção
Comentar